SEST SENAT Summit: quando mentalidade, IA e cultura se unem para reinventar o transporte
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O setor de transporte e logística vive uma transformação profunda, impulsionada pela inteligência artificial, por novas formas de pensar e pela urgência de repensar o que significa inovar. O que conecta todas essas reflexões é uma pergunta central: como preparar empresas e pessoas para um futuro que já começou, mas ainda não é visível para todos?

O diretor executivo da Stockholm School of Entrepreneurship, Rasmus Rahm, lança uma provocação incômoda: “Por que algumas pessoas conseguem transformar ideias em realidade, e outras não?” Segundo ele, a resposta não está no talento, mas, sim, na mentalidade. Inspirado pelas pesquisas da psicóloga Carol Dweck, Rahm encerrou o primeiro dia do SEST SENAT Summit 2025 mostrando que a diferença entre quem inova e quem se paralisa está na crença de que habilidades podem ser desenvolvidas. “Crianças que falham, mas dizem ‘não sei como, mas quero aprender’, têm o mindset certo. Empresas que punem o erro matam a inovação”, afirmou.

Para Rahm, o empreendedorismo não é um cargo nem um projeto isolado, mas, sim, um método de criação de valor. É um processo em que indivíduos interagem com oportunidades que, muitas vezes, ainda não existem. “Oportunidades não estão lá fora, prontas para serem encontradas. Elas surgem da percepção, da criatividade e da coragem de enxergar o invisível”, explicou.

O equilíbrio que quase ninguém consegue

Essa ideia de explorar o novo foi reforçada por Mauricio Bueno, cofundador da Weme, que provocou o público ao mostrar uma caixa de papelão transformada em robô por seus filhos. “Por que nós, adultos, não pensamos assim? Porque o novo é desconfortável”, disse.

Para ele, um dos maiores desafios das empresas é equilibrar exploration (busca por ideias novas) e exploitation (otimização do que já existe). Hoje, o que vivemos já não é mais “transformação digital”, mas, sim, evolução digital, e em um ritmo sem precedentes. Enquanto a Netflix levou 3,5 anos para atingir 1 milhão de usuários, o ChatGPT alcançou esse número em apenas cinco dias. “A adoção de tecnologia nunca foi tão rápida”, alertou.

Bueno observou que as empresas que usam a IA (inteligência artificial) costumam estar em três estágios: uso incremental, que é a melhoria de processos com automação; desenvolvimento de novos produtos e experiências, como a personalização baseada em dados; e criação de novos modelos de negócios, como um banco 100% no WhatsApp para empresas.

Apesar dos ganhos – aumento de 63% na receita e redução de 44% nos custos –, 80% dos projetos de IA falham. “Isso ocorre porque não entregam valor real. Tecnologia por tecnologia não funciona. O design, aqui, é tudo: não é a tela do app, é a solução para um problema real”, concluiu.

A maturidade digital das cadeias de suprimento

Se Rahm e Bueno falaram do “como” inovar, Ana Blanco, CEO da Accenture no Brasil, trouxe o diagnóstico de onde estamos e para onde precisamos avançar. Em uma pesquisa com 50 empresas brasileiras, a Accenture mapeou quatro estágios de maturidade digital nas cadeias de suprimento:

  • Passado: uso de planilhas e processos manuais.
  • Agora: automação com intervenção humana.
  • Próximo: colaboração digital avançada.
  • Futuro: processos autônomos, que tomam decisões sozinhos.

A maioria das empresas ainda está no estágio “Agora”, mas há surpresas: setores como bens de consumo, tradicionalmente vistos como mais avançados, estão atrás de serviços públicos, como fornecimento de água e energia, em que a criticidade exige maior maturidade digital. Já a América Latina, de forma geral, segue atrás do restante do mundo.

As empresas mais avançadas investem até 7% da receita em digitalização e automação. E já utilizam a IA em áreas como compras inteligentes, com predição de custos e gestão de riscos, e logística ágil, com otimização contínua da malha logística por IA.

O ponto de encontro: cultura, criatividade e colaboração

A tecnologia, sozinha, não transforma nada. O que realmente muda o jogo é a cultura. Esta é a verdade que atravessa todas as transformações do século 21: investir em IA, automação ou plataformas digitais não garante inovação. O fator decisivo é o ambiente em que essas tecnologias são aplicadas.

Nesse sentido, a IA não deve ser vista como ameaça, mas, sim, como aliada, não para substituir, mas, sim, para liberar as pessoas para o que elas fazem de melhor: imaginar, criar, cocriar. “Se você quer inovar, não basta ter um plano de negócio”, disse Rahm. “Você precisa de um método. E esse método começa com a coragem de articular uma ideia, mesmo quando ela ainda é invisível.”

O recado final de Rahm é claro: o futuro não será escrito por quem tem o melhor plano, mas, sim, por quem tem a melhor mentalidade.

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