Sem VUCs, cidade só vai perder, diz o varejo
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09 de Maio de 2008 – 10h00 horas / Diário do Comércio
O trânsito na Capital paulista não vai melhorar, os riscos de roubo para o transporte de cargas vão crescer, o custo do frete subirá em até 12,23% (segundo o sindicato dos transportadores) e a folha de pagamento das empresas vai crescer com mais pessoal administrativo, de segurança e adicional noturno.
Essa é a previsão do varejo caso o projeto que restringe a circulação de VUCs (Veículos Urbanos de Carga), entre 5h da manhã e 21h, numa área de 100 km² da cidade, venha a ser, efetivamente, adotado pela Prefeitura paulistana.
Por enquanto, varejistas e o Sindicato das Empresas de Transportes do Estado de São Paulo (Setcesp) apostam na negociação e no bom senso. “Não vamos tomar nenhuma atitude até o fim do diálogo“, antecipou o presidente do Setcesp, Francisco Pelucio. “Nossa intenção é chegar a um acordo“, avisou.
O varejo também acha esse o melhor caminho, pois já descartou a troca dos VUCs por veículos menores, seja pelo elevado custo financeiro de uma operação desse porte em curto espaço de tempo, seja porque, em média, entre quatro e oito veículos menores de transporte tomariam o lugar de apenas um VUC. “A medida seria um tiro no pé“, avaliou Arab Chafic Zakka, diretor da rede de lojas Preçolândia.
“A principal iniciativa, agora, seria retirar das ruas os 30% da frota que não pagam IPVA, nem multa, nem obedecem ao rodízio“, sugeriu o presidente do Conselho Administrativo da Drogaria São Paulo, Ronaldo José Neves de Carvalho.
Problema complexo – Alencar Burti, presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), alertou que o problema do trânsito na cidade é complexo e apenas o diálogo entre sociedade e governo poderá criar um “processo em busca de soluções concretas“.
Burti advertiu que essas soluções “só acontecerão ao longo do tempo“, depois de avaliada cada medida adotada. Também salientou que apenas “com a humildade“ dos negociadores será possível trabalhar pelo consenso que “implicará sacrifício para todas as partes, em favor de todos“.
E concluiu Burti: todas as ações para melhorar o trânsito só surtirão o efeito desejado, desde que obras estruturais, como o Rodoanel e o metrô, sejam aceleradas “na medida das necessidades e importância da cidade de São Paulo“.
Para Arab Chafic Zakka, o projeto da Prefeitura vai trazer muitos problemas, custos e dificuldades para o comércio paulistano. “Para manter as lojas abertas à noite, será preciso pelo menos um gerente, um estoquista, um conferente e dois seguranças a mais“, explicou.
Isso, segundo Arab, teria impacto na folha de pagamento das empresas. Além disso, a troca da sua frota por Kombis ou Sprinter (Mercedes), por exemplo, apenas ajudaria a piorar o trânsito. “Porque cada veículo pequeno teria de fazer cinco ou seis viagens ao depósito“.
Segurança – Ronaldo de Carvalho, da Drogaria São Paulo, lembrou que a medida da Prefeitura vai contra um serviço de utilidade pública: “Ela poderá prejudicar o abastecimento de remédios“. Das suas 100 lojas na Capital, nem todas são 24 horas. “Abrir para receber mercadoria tem também o custo da segurança“, advertiu.
Como o projeto “mexe com a vida dos trabalhadores, da empresa e seus fornecedores“, Carvalho acha que ele deveria ser discutido na Câmara. E que qualquer iniciativa adotada deveria prever um “prazo razoável, entre 12 e 24 meses, para ser implantada“, defendeu. Pelucio garantiu que a iniciativa não vai funcionar, “porque os VUCs não causam congestionamentos“, com o que concordam técnicos ouvidos pelo DC . Para ele, o ideal seria fiscalizar as entregas em grandes shoppings, hiper e supermercados e manter os VUCs circulando.
Prefeitura não deve permitir kombis
A Secretaria Municipal de Transportes (SMT) não permitirá a troca dos Veículos Urbanos de Cargas (VUCs) por kombis ou por qualquer outro modelo de utilitário. Nas últimas semanas, empresas transportadoras apresentaram cálculo indicando que, para cada VUC retirado das ruas, entrariam cinco veículos menores em substituição. O secretário Alexandre de Moraes já pediu o estudo de medidas para impedir essa troca. A secretaria também aposta que o alto custo dessa operação, principalmente a contratação de motoristas, inviabilizará a substituição.
Decretos – Em relação à restrição à circulação no Centro expandido e a inclusão dos caminhões no rodízio, a Prefeitura decidiu publicar três decretos. O primeiro sairá amanhã e tratará especificamente dos caminhões de grande porte, que ficarão impedidos de circular numa área de 100 km², entre 5h e 21h, e terão de cumprir o rodízio.
As empresas de transporte de combustíveis pediram uma mudança no horário de vigência da restrição, que passaria a valer, para elas, das 6h às 20h, o que daria uma hora mais para os caminhões do setor. O pedido deverá ser atendido.
O segundo decreto, que sairá entre quinta e sexta-feira da semana que vem, será voltado só para os VUCs. O texto prevê algumas exceções ainda em estudo. Setores como o hospitalar e o de farmácias devem entrar na lista dos beneficiados. O terceiro decreto, previsto para a terceira sexta-feira do mês, determinará a entrada em vigor do rodízio para os caminhões.
Reunião – Nesta sexta-feira, às 15h, na SMT, o secretário se reúne com uma comissão de entidades para discutir medidas sobre as restrições aos caminhões.

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