Sem recursos, ritmo de obras em rodovias cai a menos da metade
Compartilhe
13 de Março de 2015 – 04h15 horas / Estadão Conteúdo

O caixa magro do governo federal fez com que a totalidade das construtoras que prestam serviços ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) desacelerasse seus trabalhos e algumas até parassem. "Estamos trabalhando a 40% de nossa velocidade normal", disse José Alberto Pereira Ribeiro, presidente da Associação Nacional das Empresas de Obras Rodoviárias (Aneor).

Ele disse também que o dinheiro disponibilizado ao Ministério dos Transportes até o mês de abril será insuficiente para quitar todos os compromissos e, ao final desse período, ficará uma conta em aberto de R$ 1,7 bilhão a pagar às construtoras. "Esse ajuste fiscal vai dar uma quebradeira no setor", sentenciou. A Aneor enviou ofício ao Ministério dos Transportes alertando para a crise que se instala nas empresas.

Um sinal claro da lentidão são as medições realizadas pelo Dnit. Em dezembro passado, o órgão reconheceu como realizados serviços que somam R$ 315 milhões, segundo a Aneor. Nos meses anteriores, o volume era da ordem de R$ 1,1 bilhão.

A Aneor está realizando um mapeamento sobre obras que já pararam, mas Ribeiro adiantou algumas constatações. Em Minas Gerais, disse, aproximadamente metade delas estão paralisadas. Em Santa Catarina, praticamente tudo. A Ponte de Laguna, uma obra do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) que está na reta final, corre o risco de parar porque o consórcio responsável pela obra tem perto de R$ 100 milhões a receber, sem perspectiva de quando isso ocorrerá. "E é uma obra para acabar em 30 dias, só falta a iluminação", disse.

Orçamento

Tal como outras áreas de governo, a pasta dos Transportes foi afetada pelo ajuste fiscal e pela falta de aprovação do Orçamento Geral da União (OGU) de 2015. A previsão é que o Congresso o vote na próxima semana.

Sem orçamento, o governo editou em fevereiro um decreto de programação financeira autorizando um limite provisório de gastos para todos os ministérios, de janeiro a abril deste ano. Como parte do ajuste nas contas públicas, o teto de gastos ficou baixo. Em vez de liberar um doze avos da previsão orçamentária anual, como é o usual nessas situações, os ministérios receberam um dezoito avos.

No caso dos Transportes, isso equivale a R$ 4 bilhões para o quadrimestre. A previsão mensal aponta que, para abril, estarão disponíveis R$ 650 milhões para toda a pasta, dos quais perto de R$ 500 milhões irão para o Dnit. Mas, nas estimativas das construtoras, considerando o que já está atrasado e o que elas realizarão até lá, o valor que elas terão a receber será de R$ 2,2 bilhões. Assim, ficará uma fatura em aberto de R$ 1,7 bilhão.

Para as construtoras, o quadro é agravado pela total ausência de programação de pagamentos para o período posterior a março. "Estamos sem norte e sem sul", disse Ribeiro. O setor vem cobrando do governo a elaboração de um cronograma de desembolsos, para dar mais previsibilidade financeira às empresas.

O Ministério dos Transportes informou que a dívida que o Dnit tinha com as construtoras em 11 de março era de R$ 1,3 bilhão, e que os desembolsos realizados até fevereiro somam R$ 1,6 bilhão. "Os pagamentos serão retomados brevemente." A pasta informou, ainda, que a programação de pagamentos para o restante do ano será elaborada após a aprovação do orçamento.

A maior parte das empresas que presta serviços ao Dnit é de pequeno e médio portes. Perto de 70% dos contratos do órgão são de restauração e manutenção, que podem ser feitos por construtoras com menor fôlego financeiro. Mas essas não têm capacidade para suportar atrasos de 60 a 90 dias, como tem ocorrido. Até outubro, disse o presidente da Aneor, os pagamentos estavam em dia.


voltar

SETCESP
Privacy Overview

This website uses cookies so that we can provide you with the best user experience possible. Cookie information is stored in your browser and performs functions such as recognising you when you return to our website and helping our team to understand which sections of the website you find most interesting and useful.