A Prefeitura de São Paulo aumentou o cerco aos veículos de carga em dezembro passado, quando a restrição passou a valer para as duas marginais, além de outras oito ruas. A circulação dos caminhões foi proibida de segunda à sexta-feira, entre das 4 e 10 horas e das 16 às 22 horas; e aos sábados, das 10 às 14 horas. A princípio, a aplicação de multas começaria em 12 de janeiro, mas foi adiada para 1° de março como resultado de uma ampla mobilização liderada pelo deputado federal Junji Abe (PSD), com apoio de agricultores locais. O grupo também já conseguiu a liberação do tráfego de cargas perecíveis durante todo o período da manhã, porém, a medida é considerada insuficiente.
Membro do Sindicato Rural de Mogi das Cruzes, o agricultor Minoro Mori explica que os caminhões não conseguem voltar do Ceagesp antes das 16 horas, quando começará a valer a restrição, a partir do dia 1º de março. “Os agricultores vão ter muitas dificuldades para retornar a tempo. Além disso, eles enfrentarão problemas com os compradores que fazem os negócios à tarde e não vão poder esperar dentro do Ceagesp até as 22 horas para transportar os produtos, que serão perecíveis. Isso vai acabar desestimulando a compra e a venda também. Todo este problema pode ocasionar o desabastecimento da Capital“.
Mori explica que Mogi das Cruzes ainda não tem um cadastro que indique a quantidade exata de produtores e os locais de escoamento da produção (leia mais nesta página). Por este motivo, não é possível levantar, com exatidão, quantos produtores mogianos podem ser prejudicados pelas restrições de trânsito na Capital. Porém, ele calcula que este número é bastante alto. “Sem dúvida alguma, mais de 50% da nossa produção passam por São Paulo, seja para encaminhamento à Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais do Estado de São Paulo) ou para chegar a municípios de outras regiões. E todos eles serão diretamente prejudicados“.
Um dos agricultores que deverão sofrer as consequências das novas regras de circulação na Capital é Roberto Sato, grande produtor de verduras e legumes do Distrito de Biritiba Ussu. “Essa questão precisa ser revista. Meu motorista vai para o campo às 7 horas, quando começa a colheita. Ele volta a Mogi por volta das 17 horas. Se as restrições forem mantidas, vai ter de esperar no Ceagesp até as 10 horas. Vou precisar pagar horas extras e isso se refletirá no preço dos produtos. No final, quem paga é o consumidor. Além disso, as marginais ficam cheias apenas no período de aulas, o que indica que não são os caminhões os responsáveis pelo trânsito. Se há congestionamento é porque não existe um transporte público de qualidade“, desabafou.
O deputado Junji Abe solicitou ao prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PSD), que libere integralmente a passagem de caminhões com cargas perecíveis. A resposta ainda não foi enviada. Nesta semana, o parlamentar conseguiu o apoio da Frente Parlamentar da Agricultura, da Câmara Federal. Junji afirma que a proibição causará o desabastecimento generalizado de verduras, legumes, frutas, cogumelos, pescados, flores e plantas ornamentais. “A princípio, as restrições parecem positivas para o paulistano, mas o efeito contrário virá na hora em que o consumidor não encontrar produtos perecíveis para comprar ou só achar verduras murchas e flores despedaçadas nos mercados e feiras“.
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