Respostas à crise
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Passado o baque das primeiras medidas para a contenção da pandemia que assolou em cheio a saúde das pessoas, e fez bolsas de todo o mundo desabar, as empresas tiveram que reestruturar suas operações: traçar uma nova rota rumo à retomada

Com o comércio em grande parte fechado, a indústria retraiu consideravelmente sua produção. Sem muita coisa sendo fabricada, e com menos ainda, mercadoria para ser escoada, o transporte de cargas sentiu em cheio os efeitos da queda no volume de sua demanda.

Segundo informações da NTC&Logística, essa diminuição oscilou entre 40 e 45%, nas pesquisas realizadas entre os meses de abril e maio.

Outro dado, desta vez divulgado pelo Ministério da Economia, apontou uma queda no faturamento do transporte rodoviário de cargas de -22%.

Diante da situação as transportadoras tiveram que, lidar simultaneamente com diversos desafios: queda na receita, diminuição de fluxo de caixa e as medidas de isolamento social.

Algumas alternativas até surgiram. Recorrer as medidas de prorrogação dos prazos de recolhimento do PIS e da COFINS conforme a Portaria 139/20 do Governo Federal.

Outras ainda, como se valer das propostas trabalhistas por meio das Medidas Provisórias 944, 936 e 927.  Aliás, detalhes sobre essas duas últimas determinações, você confere em nossa seção Núcleo Jurídico.

E por falar em medidas trabalhistas, ainda o SETCESP fez uma negociação com os sindicatos laborais de sua base territorial. Com termos que oferecessem uma possibilidade, além daquilo que foi proporcionado pelas ações do governo.

A intenção foi colaborar o máximo possível para que as empresas minimizem o impacto negativo  em suas finanças, preservando o seu quadro de funcionários, a fim de manter suas operações. Entre as medidas acordadas para o momento estão:

  • Redução de até 25% nos salários de funcionários. No entanto, o desconto aplicado não pode diminuir o pagamento a um valor inferior a R$1500,00;
  • Para os funcionários que tiver aplicado essa redução, a empresa oferecerá uma cesta básica de alimentos;
  • Trabalhadores que estão em home office (trabalhando de casa) estão dispensados de receber o Vale Transporte.
  • Também funcionários, que estão afastados por pertencerem ao grupo de risco, ou seja, mais suscetíveis a doença, terão de repor essas horas, no futuro.

E mesmo optando por negociar nos termos do acordo coletivo, as empresas permanecem desimpedidas em escolher outras medidas que o Governo Federal tenha estabelecido, ou venha estabelecer mais tarde.

Contudo, a redução via convenção coletiva é mais segura, pois está em consonância com a Constituição Federal. Já as MPs do Governo tem status de lei, e pode ser questionada mais adiante.

Só que o mais importante, é que tanto o acordo coletivo, quantos as Medidas Provisórias são instrumentos que o empresário tem para a gestão de seu pessoal.

E quanto maior o leque de opções se tem, melhor é para negociar.  Principalmente, porque com o passar desses últimos meses a única certeza que permaneceu foi a de que, é preciso tomar decisões.  Qualquer negligência neste momento, pode custar caro no futuro.

“Esta crise sem precedentes nos ensinou muito sobre a necessidade de preparação”; observa Ana Carolina Jarrouge, presidente executiva do SETCESP. “Todos sofrem, é fato, mas aqueles que estão mais preparados sofrem menos e atravessam as tempestades mais protegidos”, destacou ela.

Cada vez mais, as empresas necessitaram de novas definições. Foi preciso mudar por completo os planos traçados para começo do ano.

Mas como se imagina, não é nada fácil mudar em meio à crise. Por isso, fomos ouvir quais ações os empreendedores estão tomando na tentativa de frear uma quase que inadiável recessão.

Enquanto quase 2 bilhões de pessoas em todo o mundo estão atualmente isoladas em suas casas na tentativa de conter o avanço da doença, a extensão dos reflexos econômicos permanece ainda imprevisível.

No mercado, se chama de benchmarking a análise das práticas do concorrente. O que apresentaremos a seguir, não é exatamente isso, mas sim compartilhamento das soluções encontradas por quem tem passado por desafios semelhantes.

Conversamos com vários empresários do nosso setor que dividiram conosco suas experiências.  – Como estão lidando com o momento. –  Que medidas já tomaram e o que ainda pretendem de fazer.  – O que deu certo e o que ainda pode dar.

No dia 27 de maio o governador de São Paulo, João Dória, anunciou uma retomada de alguns setores, de acordo com o controle da doença e a disponibilidade de UTIs para o atendimento da covid-19. Entretanto em outros 3 estados do Brasil: Pará, Maranhão e Fortaleza, até fechamento desta edição, permanecia o lockdown – em inglês confinamento, uma espécie de ação mais radical imposta por governos para que haja distanciamento social.

“Como uma tempestade, essa pandemia também vai passar. Porém, a resiliência e dedicação dos empresários do nosso setor, essas permanecem porque tem proporções gigantescas. São lutadores, e mais uma vez, não deixaram o Brasil parar,” faz questão de declarar Tayguara Helou, presidente do Conselho Superior e de Administração do SETCESP.

Acompanhe os depoimentos a seguir.

“A chegada da doença aqui no Brasil e a paralisação que ela trouxe aos negócios, nos obrigou a revisar todo o nosso planejamento financeiro: fizemos redução de salários e de jornada com os nossos funcionários, de acordo com a Lei; renegociamos os contratos com os fornecedores e buscamos sinergias operacionais, compartilhando de rotas de transferência, dentre outras medidas.

O desafio agora é a gestão diária do fluxo de caixa; equilibrando as entradas e saídas, e cuidar, como nunca, dos nossos custos, e, igualmente, dos nossos clientes. Essa é a arte do momento.

Uma lição que aprendemos com a crise foi deixar de lado algumas posturas autocráticas. Ainda que este momento demande ações duras e, como se diz, “de cima para baixo”, não podemos desprezar o volume de recursos intelectuais, que temos dentro da empresa, e que em momentos como este acabam aflorando. A conclusão é que precisamos ser mais humildes e ouvir mais nossos colaboradores, dando oportunidades para que todos façam parte das soluções. Daqui pra frente queremos todos muito mais participativos.”

Altamir Cabral – Presidente da Via Pajuçara.

 

 “Eu fui buscar informações das entidades para trazer e apresentar em nosso comitê crise. Quando a gente se muni de informações fica mais fácil tomar qualquer decisão.

Em um primeiro momento, colocamos nossos funcionários para trabalhar de forma escalonada, 50% em casa, 50% trabalhando. Trabalhamos com banco de horas negativos, e depois veio a redução de jornada e de salário.

A todo instante procuramos alternativas para realizar as transferências de formas compartilhadas. Então encontramos alguns parceiros de negócios no mercado, e juntos estudamos programas para o compartilhamento de equipamentos, de transferências e até de algumas entregas.

Nos organizamos e com isso baixamos bastante o nosso custo fixo. Uma parceria que foi vantajosa para todos os envolvidos”.

Barbara Calderani – Sócia Diretora da Rodomaxlog Armazenagem e Logística.

“Nossa empresa é especializada no ramo de distribuição urbana, temos filiais espalhadas do sul ao nordeste.

Desde de o início, o que fizemos para contornar a crise foi segurar o que pudemos dos nossos custos. Aproveitamos as medidas disponibilizadas pelo governo, entre elas a postergação de tributos federais e financiamentos com o BNDES. Assim como, a Medida Provisória 936 em que, o governo permite a redução da jornada e salário. Fizemos isso de forma proporcional a necessidade de cada região. A gente percebeu que as capitais sofreram mais com as medidas de restrições do que o interior.

Também renegociamos faturas com os fornecedores sempre privilegiando o caixa. Porque o caixa para uma empresa é o fundamental. Se acabar, a empresa quebra. E isso é o que a gente não pode deixar acontecer.”

Curiosamente nas últimas semanas de abril e agora em maio, parece que as pessoas foram se adaptando a essa nova situação, tanto que o volume de transportes de bebidas já foi aumentando.

Ramon Alcaraz – Presidente da Fadel Transportes

“Atuamos com carga lotação, com o abastecimento da indústria e autopeças para montadoras. Então, tivemos uma queda bruta da nossa receita. A princípio, montamos um comitê de crise em que envolvemos toda a gerência. A intenção era de promover um equilíbrio na receita, com medidas de redução.

Fizemos um plano de prorrogação de contratos com os bancos, renegociação de aluguéis com proprietários e fornecedores de suprimento. No início, esse comitê se reunia todos os dias, agora nos encontramos duas vezes por semana.

Hoje a gente vive o dia a dia, toda e qualquer previsão é um chute. A crise vem e você aprende a lidar com ela. Esse é o grande desafio. Esperamos superar e sair mais fortalecidos. Para quem sobreviver vai ter muitas oportunidades, inclusive, muitas empresas vão sair mais consolidadas.

A nossa vibração é para é de que tudo passe logo.”

Celso Salgueiro – CEO do Grupo Mirassol

“Transportamos carga fracionada. Atuamos bastante no abastecimento do setor de confecção. A partir do dia 20 de março, com a quarentena decretada sofremos uma queda enorme da demanda, que chegou a 65% no começo de abril.

Daí por diante tomamos várias medidas. No campo operacional, reorganizamos nossas rotas e passamos também a fazer entregas com agendamento, até para um melhor aproveitamento dos nossos veículos. Na parte de Departamento Pessoal, fizemos aquilo que a Medida Provisória 936 viabilizou e aplicamos a redução de jornada e salário. Também houveram demissões, infelizmente, na tentativa de ajustar a empresa ao cenário atual.

Alguns clientes passaram a vender pela internet, e a gente, a fazer este tipo de entrega. Isso foi relativamente novo para nós, estávamos acostumados apenas com o B2B, e não com o B2C. A nossa empresa foi se adaptando em relação ao mercado e as novas oportunidades.

Permanecemos administrando nossas ações. Vivemos um dia de cada vez, até porque já passamos por um período com intervenções em algumas vias e outro com um rodízio ampliado, então não sabemos o que esperar. Mas acreditamos, sim, em uma melhora daqui para frente.

Marinaldo Barbosa, Diretor da Renascer Express

 

 


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