A diretoria do SETCESP recebeu com surpresa e perplexidade a informação sobre o editorial publicado na página “A3” do jornal “O Estado de São Paulo”, no dia 05/09, com o título “Haddad ataca de novo”, no qual diz que o prefeito, após ter participado de encontro promovido por esta entidade, resolveu rever a lei que restringe a circulação de caminhões na cidade, e que esta medida foi uma conquista da gestão Gilberto Kassab. O mesmo artigo conclui dizendo que se houver a revisão da tal norma, isso estaria em choque com o interesse público e se estaria atendendo aos interesses das empresas transportadoras.
A surpresa e a perplexidade estão no fato de que este tradicional veículo não tomou o cuidado de consultar a direção do SETCESP para ver se realmente a entidade defende posturas que vão contra os interesses dos paulistanos, antes de fazer citações em nome da mesma sem o devido embasamento que matérias desta categoria exigem.
Desta forma, o SETCESP, em nome de seu presidente, Tayguara Helou, gostaria de esclarecer tais informações publicadas.
Primeiramente, é importante ressaltar que um viário ágil e organizado é bom para mobilidade urbana e o abastecimento urbano, e isso é de interesse de todos, inclusive das empresas de transporte que precisam entregar remédios, alimentos e demais produtos de amplo interesse da sociedade.
Não é verdadeira a afirmação que defendemos a liberação das restrições aos caminhões, o que propomos é que o VUC – Veículo Urbano de Carga, que tem 7,20 metros de comprimento e 2,20 metros de largura, possa ter livre acesso ao centro expandido da cidade para abastecer o comércio e outros estabelecimentos locais. Criado em 1997, com 5,5 metros de comprimento, tendo posteriormente seu tamanho aumentado para 6,30 metros, em 2007, e finalmente em 2016, para 7,20 metros, o VUC foi desenvolvido, no que tange às suas medidas, pela própria CET, que viu nele as condições ideais para abastecer as ZMRCs, haja vista a sua manobrabilidade, capacidade de carga e ocupação do solo, sendo periodicamente revisado para adequação à realidade da cidade.
A gestão Kassab, na realidade, proibiu todo e qualquer tipo de caminhão de rodar nas ZMRCs, inclusive o VUC, o que foi uma medida realmente atabalhoada, pois culminou em aumento absurdo dos veículos utilitários como vans, peruas e demais veículos pequenos de cargas rodando no centro da cidade. Entre 2008 e 2016, com a criação das Zonas de Máxima Restrição de Circulação (ZMRC) que proíbem a circulação de veículos de carga de pequeno porte, as ruas de São Paulo ganharam 74.792 mil utilitários em substituição aos caminhões, um crescimento de 259,03%. No mesmo período a quantidade de caminhões caiu -6,71%, enquanto que a frota total de veículos aumentou 32,87%, chegando a 7.712.293 em junho/2016 conforme dados do Departamento Nacional de Trânsito – Denatran.
O absurdo da proposta de restrição ao VUC está no fato que ele substituía duas vans, três peruas Kombi e seis pequenos utilitários, por isso é evidente que a medida tomada na citada gestão foi equivocada e o tempo se encarregou de demonstrar que o efeito no centro da cidade só piorou para o trânsito local.
A melhora no tráfego que o editorial fala, é de âmbito geral em face da inauguração do trecho sul do Rodoanel, onde não trafega só caminhões. Além disso, registra-se que a gestão Kassab não respeitou a própria iniciativa da CET, que concebeu o VUC e incentivou seu uso, e entupiu o viário com veículos menores de carga, trazendo mais poluição e ocupação desordenada do espaço público, já que segundo a Secretaria de Estado dos Transportes Metropolitanos, o trânsito da região metropolitana de São Paulo gera um custo de R$ 41 bilhões por ano.
Esta constatação tem como base estudos da FIA/USP (Fundação Instituto de Administração da Universidade de São Paulo), do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e da FHWA (Federal Highway Administration), que convertem em dinheiro o tempo gasto pelas pessoas nos seus deslocamentos (R$ 3,6 bilhões), além do prejuízo causado pela poluição atmosférica (R$ 112 milhões) e com os acidentes de trânsito (R$ 312 milhões), anualmente.
Desta forma, gostaríamos de esclarecer que o SETCESP não defende que carretas e caminhões de grande porte circulem no centro da cidade, aliás, não compete a nós defendê-los, já que não somos fabricantes deste produto! O que defendemos é um planejamento urbano que priorize a mobilidade das pessoas e o seu abastecimento. Afinal, o abastecimento deve ser aliado da mobilidade urbana e tratado técnica e estrategicamente como tal.
Nessa linha, defendemos as entregas noturnas nos grandes polos geradores de tráfego, como home centers, atacadistas, shopping centers, hipermercados e etc., para diminuir a circulação de veículos de cargas durante o dia utilizando o viário quando dele é menos exigido. Sendo que o projeto piloto desta iniciativa já demonstrou resultados positivos para o comércio recebedor dos produtos, para as empresas de transporte que contam com ociosidade de veículos no período noturno e, principalmente para a vizinhança que não tem suas ruas repletas de veículos de carga durante o dia, período em que o transporte das pessoas é priorizado.
Defendemos também a imediata conclusão das obras do Rodoanel, para que os caminhões somente de passagem possam ser desviados para essas vias, visando desafogar o trânsito na Grande São Paulo. Infelizmente, o atraso nas obras e o seu pedagiamento não têm contribuído para acelerar este objetivo, mas acreditamos que com a conclusão do trecho norte muito se avançará nessa seara.
Além disso, o SETCESP defende outras iniciativas que, com resultados interligados e complementares, realmente trarão benefícios operacionais e econômicos para a população, poder público e o setor de transportes. Exemplo destas iniciativas são a criação de terminais de cargas em pontos estratégicos da Grande São Paulo, abastecidos por carretas no período noturno, sendo a carga transferida para os veículos de pequeno porte, VUCs, abastecerem os estabelecimentos do entorno durante o dia; como também áreas específicas para carga e descarga levando em conta o comércio, hospitais, escolas e estabelecimentos de interesse da coletividade.
Assim, jamais o SETCESP defendeu propostas que não levassem em conta o interesse da cidade, não sendo à toa que o lema da atual gestão da entidade é “POR UMA GRANDE SÃO PAULO EM MOVIMENTO.
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