É um dia chuvoso em Juquitiba, última cidade da Grande São Paulo. Há uma longa fila de caminhões na Régis Bittencourt. Um rapaz de agasalho escuro caminha no asfalto e some no congestionamento.
A porta do baú de um caminhão já foi arrombada e ele reaparece com uma caixa que acabou de roubar, junto com um amigo. Eles vão para o acostamento, pulam uma mureta e entram no meio do mato com a caixa.
De repente, o terceiro ladrão sai de trás do caminhão e por pouco não é atropelado. Um quarto ladrão foge por um morro, do outro lado da rodovia. O caminhoneiro atacado, Marco Antônio Ferraz, ficou no local, sem saber o que fazer.
“Escutei balançar o caminhão e o menino já falou : aqui, ó, tão arrombando o seu baú. Parado na fila, você vai para onde?”, diz ele.
O caminhão nem tinha saído do lugar e um dos rapazes que participaram do ataque volta para o acostamento. Dessa vez, comemorando.
O Engano é um vilarejo, em Miracatu, já no interior de São Paulo, que cresceu à beira da rodovia. Na área, o trânsito pode parar por vários motivos, um carro quebrado, acidentes ou excesso de caminhões. Por isso, segundo os motoristas, é um trecho da Régis Bittencourt considerado de alto risco. Desde agosto aconteceram, neste lugar, pelo menos dez arrastões.
Três rapazes sobem o morro com uma ferramenta na mão. Do alto, observam o movimento da rodovia. Quando o trânsito para, eles descem. Dois vão para a pista, mas o plano dá errado porque três carros da Policia Rodoviária Federal passam bem na hora. Avisados, os policiais voltam e sobem o morro atrás dos suspeitos, mas só encontraram uma ferramenta.
“A maior dificuldade é pegar o flagrante. Os garotos vivem aqui à margem da rodovia, eles veem a gente de longe, quando estamos chegando”, aponta um policial.
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