Empresários do setor de transporte de carga estão com boas expectativas para os negócios em 2021. Porém, plano de vacina deve ser mais ágil
Empresários do transporte estão animados com a vacinação contra a covid-19. Embora digam que o plano de vacinação não seja muito claro e ocorra em ritmo lento, as transportadoras planejam fazer novos investimentos. Nesse sentido, estimam que 2021 será um ano bom para o segmento.
A inclusão dos profissionais do transporte no grupo prioritário da vacinação colabora com o otimismo. Segundo o Ministério da Saúde, o cronograma ainda será definido. E a Confederação Nacional de Transporte (CNT) ofereceu as 157 unidades do Sest/Senat para serem pontos de vacinação.
No entanto, o setor sabe que os impactos da crise sanitária na economia mundial serão sentidos por muito tempo. Dessa forma, o empresariado acredita que o cenário econômico de 2021 será ditado pela covid-19. E claro, pela postura do governo no enfrentamento à pandemia.
Transporte contabilizou bons resultados em 2020
Seja como for, as perspectivas positivas são baseadas nos resultados de 2020. O setor de transporte sofreu com a queda de 45% do volume transportado em abril do ano passado. Mas rapidamente os negócios foram retomados.
Em 2020, o setor de transportes movimentou cerca de R$ 480 bilhões. Os dados fazem parte da pesquisa Anual de Serviços (PAS), Isso inclui armazenagem e serviços.
O valor equivale a 6,4% do PIB nacional. O setor movimenta 65% das mercadorias que circulam pelo País e contabilizou esses resultados em um ano considerado ruim.
Desafios logísticos
Assim, a chegada da vacina traz boas oportunidades para o setor. Porém, os desafios também são grandes. A opinião é da advogada e presidente executiva do Sindicato das Empresas do Transporte de Cargas de São Paulo e Região (Setcesp), Ana Jarrouge.
“Como o Brasil tem dimensões continentais, levará alguns meses até que todos estejam vacinados. Logo, isso reflete diretamente na retomada completa das atividades empresariais. Bem como no volume de carga. Ou mesmo no tipo de transporte utilizado e no comportamento do consumidor”, diz.
Segundo Ana, a vacinação será essencial para que as empresas retomem a confiança na economia. Dessa forma, poderão voltar a fazer investimentos. “Tudo vai depender da velocidade da aplicação das vacinas. E também da capacidade de produção do imunizante”, diz.
Investimentos no transporte
CEO da Flash Courier, Guilherme Juliani viu seu negócio de logística ganhar ainda mais importância em 2020. Além disso, a operação ficou mais pulverizada. Ou seja: parece um contrassenso em um ano marcado pela crise.
Porém, a quarentena favoreceu a empresa. Segundo Juliani, as pessoas perceberam que é simples fazer compras pela internet. “Criaram confiança nessa operação. Logo, entenderam a importância do transporte no processo”, diz.
Dessa forma, Juliani acredita que, com a vacina, esse comportamento será mais intenso. Segundo ele, isso ocorrerá porque a economia vai voltar a crescer. Ou seja: haverá maior consumo, o que será bom para o setor de transporte.
Sem plano de vacina, investimentos ficam parados
Em 2020, a Flash Courier cresceu 130%. Assim, 98% das operações são B2C (para o consumidor final) e o foco são produtos bancários e farmacêuticos. Para 2021, a empresa deve crescer 50%. Nesse sentido, ampliará as operações para mais seis Estados.
Segundo Juliani, isso será possível graças aos investimentos de R$ 25 milhões feitos em 2021 na compra de uma esteira inteligente. Com o equipamento, a empresa reduziu o tempo para separar as mercadorias. Assim, conseguiu agilizar as operações.
No entanto, as incertezas no plano de vacinação atrasaram o início da operação. Tanto a instalação quanto os ajustes têm de ser feitos pelas equipes da fabricante da esteira, que é chinesa. Mas a crise sanitária vem atrapalhando as viagens ao País.
“Acreditamos que em dois meses será possível concluir as adequações”, diz Juliani. Agora, estamos trabalhando com a esperança de que a vacina melhore muito o cenário atual”.
Crescimento do PIB depende da vacinação
CEO da Simas Log, Daniel Simas (abaixo) diz que o resultado da economia em 2021 dependerá da política de distribuição da vacina. Ou seja, para o executivo a imunização está lenta. Além disso, ele afirma que as novas variantes da doença podem ser uma ameaça à economia se o governo não agir rapidamente.
“Apesar de o transporte estar retomando as atividades e empresas estarem crescendo, há um ponto de atenção. A recuperação da economia vai depender muito do setor de commodities.”
Ou seja, a movimentação desse segmento está ainda bem abaixo dos níveis antes da pandemia. Com certeza a retomada depende da vacina. Porque o distanciamento social afugenta investimentos e consumo”, diz Simas.
Seja como for, em 2020 a Simas viu seu resultados dobrarem em relação ao projetado. Ou seja, o crescimento foi de 90% ante 2019. Dessa forma, para 2021 a empresa prevê um crescimento mais tímido.
Porém, segundo o executivo, a atividade econômica em geral deve sofrer menos na comparação com a primeira onda da doença. Assim, Simas acredita que o empresariado será estimulado a promover investimentos e gerar empregos.
“Acredito que o PIB deva crescer apenas 1%. Mas isso dependerá do cenário mundial. E os juros têm de ficar baixos. Mesmo assim, a economia vai melhorar a partir do segundo semestre. Ou seja: quando mais gente estiver imunizada”.
Expansão dos negócios
Nesse sentido, a Simas Log fará investimentos de R$ 20 milhões. A empresa, que faz transporte e armazenagem de insumos da área de saúde e medicamentos, vai abrir mais três centros de distribuição. As novas unidades serão no Amazonas, Pará e São Paulo.
“Já operamos nessas regiões. Porém, especialmente no Norte a logística é complexa. Acima de tudo por causa da pouca infraestrutura. Por isso, decidimos ampliar nossa presença nessas regiões. Todas estão demandando transporte”.
Com a vacina, empresa buscará novos clientes
O Grupo Rodovico atua há 18 anos no agronegócio. Assim, tem presença nas regiões Norte e Sul transportando produtos agrícolas. Ou seja: mais precisamente, grãos e fertilizantes.
Em 2020, a empresa não sofreu impactos econômicos por causa da pandemia. Ao contrário, registrou alta de 55% no volume transportado. Logo, o faturamento também aumentou. Assim também, o bom resultado deve se repetir em 2021.
Houve atraso na safra, especialmente a soja, por causa da falta de chuvas. Mesmo assim, a previsão é de aumento na colheita. Em 2020, o volume de soja transportado foi de 3,5 milhões de toneladas. Para 2021, a expectativa é de 5,7 milhões de toneladas.
Com isso, surge a oportunidade de conquistar novos clientes. Isso segundo o diretor de desenvolvimento e negócios do Grupo Rodovico, Diego Nazari Reis.
“Este é um setor que dá mais valor ao relacionamento pessoal que o virtual. Temos excelentes oportunidades. Mas só vamos poder avançar nesses relacionamentos quando tivermos o avanço na imunização”, diz Reis.
O Grupo Rodovico mira o centro-Oeste do Brasil. E a região está se consolidada como um importante polo produtor de grãos.
voltar