Por um trânsito mais fluído
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Com a participação do secretário de Logística e Transportes do Estado de São Paulo, João Octaviano Machado Neto, o Fórum promovido pelo SETCESP debate mobilidade, combustíveis alternativos, abastecimento urbano e a logística no e-commerce

São Paulo enfrenta grandes problemas quando o assunto é mobilidade. Notícias sobre congestionamentos com quilômetros e quilômetros de extensão, não é nada muito fora da rotina. No período do rush, entre 17h30 e 19h30h, é quase uma proeza circular acima de 40 km/h nas principais vias da cidade.

O trânsito do maior núcleo econômico brasileiro tornou-se conturbado e impõe um custo elevado e crescente para o setor produtivo, especialmente para o transporte rodoviário de cargas. Por essa razão, discutir soluções e alternativas para a melhoria da mobilidade urbana virou um tema estratégico para o SETCESP, e foi tratado no Fórum de transporte, logística e abastecimento urbano, que ocorreu no dia 20 de setembro.

Em quatro painéis diferentes o evento abordou a infraestrutura no recebimento de cargas, o tempo de espera para o descarregamento, as fontes de energia alternativas ao diesel, o futuro da entrega de cargas e a logística no e-commerce.

O primeiro painel foi uma sabatina com secretário de Logística e Transportes do Estado de São Paulo, João Octaviano Machado Neto, e contou com a presença do presidente do Conselho Superior e de Administração do SETCESP, Adriano Depentor, a presidente executiva, Ana Jarrouge, o ex-presidente do SETCESP, Tayguara Helou, e o diretor de abastecimento e distribuição do SETCESP, Marinaldo Reis.

“Abastecer os grandes centros urbanos, ainda mais depois da pandemia com aumento das vendas no e-commerce, tem sido um grande desafio”, comentou Jarrouge.

Durante a conversa o secretário respondeu a perguntas sobre a conclusão das obras do Rodoanel, concessões de rodovias, pedágios free flow e como a figura de uma autoridade metropolitana poderia auxiliar os transportadores a resolverem o problema das janelas de horário de restrições entre municípios.

“Essa é a primeira vez que vimos uma discussão séria que mostra a necessidade da autoridade metropolitana, integrando o transporte público de passageiro e o de carga, porque não se trata de operações distintas, está tudo interligado”, destaca Depentor.

Especificamente sobre o Rodoanel, o secretário expôs que houve mais entraves legais do que se imagina. “As obras ainda estão inacabadas por conta da confusão jurídica”, alegou Octaviano, “esses assuntos não devem ser tratados de forma simplista, da mesma forma quando se fala no free flow, é mais complexo do que parece, porque o Brasil ainda não tem regulamentação para isso”, disse.

Chamando a atenção para o abastecimento, Reis falou das dificuldades em se fazer entregas na zona central da cidade. “Às vezes acontece de o caminhão dar duas, três voltas, por falta de ter onde parar e descarregar a mercadoria. Nisso, ele está ocupando o espaço viário gerando maior concentração de veículos no local e emissão de gases desnecessariamente”, conta.

“É preciso que haja um diálogo entre o desenvolvimento rodoviário e o planejamento urbano. A chegada do caminhão não pode ser um problema, tem que ser a solução”, aponta Octaviano.

“Discutimos aqui propostas que fazem sentido para a nossa atividade, para a sociedade e para todos os setores da economia, pois esse é o nosso objetivo como transportadores: construir um Brasil que avance”, demonstra Helou.

Transformação energética e os desafios em infraestrutura

No segundo painel, o professor do Programa de Engenharia de Transporte (PET) e coordenador do laboratório de transporte de cargas da UFRJ, Márcio D’agosto, falou sobre o futuro da entrega urbana de cargas e apresentou um panorama da evolução do transporte, desde a criação do VUC (veículo urbano de carga) até a especialização da frota de caminhões leves.

D’Agosto enfatizou três pontos que os transportadores necessitam analisar em suas operações: especialidade, conectividade e sustentabilidade. Segundo ele, a especialidade é para se ter a abrangência da operação, a conectividade é para ter otimização nas entregas e a sustentabilidade é para estar dentro dos ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável), que vem sendo uma exigência de mercado.

“Os contratantes estão requerendo dos transportadores, cada vez mais soluções que atendam ao ESG (sigla em inglês para ambiental, social e governança corporativa). O futuro da logística já chegou, e então você precisa fazer parte dele”, indica D’Agosto.

Também neste painel, participaram Paulo Genezini, gerente de sustentabilidade da Scania do Brasil, Fábio Nicora, engenheiro chefe da área de combustíveis e atrações alternativas na Iveco Brasil e Glauco Juliato, consultor comercial de vendas corporativas da Volkswagen Caminhões e Ônibus.

Cada um deles apresentou como as montadoras desenvolveram veículos que utilizam combustíveis alternativos ao diesel. Genezini, comentou sobre a linha de caminhões a gás da montadora que atua no segmento de pesados. “A substituição do diesel vai acontecer e a gente acredita que o gás será a melhor alternativa”.

Já Nicora e Juliato focaram nos chamados veículos da linha leve. “O gás permanece, mas abrirá mais espaço para os elétricos”, disse Nicora.  “Para os caminhões que circulam no perímetro urbano é a possibilidade mais interessante”, confirmou Juliato.

Na sequência, foi aberto um espaço para quem usa essas soluções na prática comentar a respeito. O bate-papo foi realizado com Carlos Ferreira, gestor de sustentabilidade e qualidade na Jomed Log e Fábio Vicentin, diretor de operações da Jadlog Transportes, e teve a intermediação de Ricardo Melchiori, vice-coordenador da Comissão de Sustentabilidade do SETCESP. Eles falaram como estão atuando em operações que promovem uma transformação energética atendendo a demanda dos clientes e do mercado.

“A Jadlog preza pela sustentabilidade de forma consciente dentro e fora dos caminhões”, contou Vicentim, enquanto isso Ferreira, revela que até é comum encontrar postos de abastecimento de GNV no Rio de Janeiro e em São Paulo, mas não, em outros lugares do país, e isso dificulta a transformação energética.

Melchiori, solicitou aos convidados que destacassem os desafios para uma eletrificação da frota, e contassem suas experiências com o uso de gás biometano, já que também é considerado um modelo mais sustentável.

A entrega de carga na última milha

O último bate-papo do dia foi sobre as perspectivas e tendências do e-commerce e a entrega no last mile, e contou com a mediação de Guilherme Juliani, diretor da especialidade de E-commerce no SETCESP, e os executivos da Total Express e do Mercado Livre.

Juliani trouxe uma pesquisa que informa que entre os fatores mais geradores de abandono de carrinho em sites de compras estão no transporte. “O segundo e terceiro motivos de desistências da compra é o valor do frete e o prazo de entrega, respectivamente”.

Enquanto isso, um dos maiores motivos para se comprar pela internet é o frete grátis. “Ou seja, se o market place oferece o frete gratuito, ele é obrigado a diminuir ao máximo resto da cadeia de valor que é o transporte”, diz Juliani.

Em 2021, foram feitas 353 milhões de entregas no e-commerce de acordo com a Neotrust, no 3º trimestre deste ano, já se ultrapassa a marca de 90 milhões. “É um mercado extremamente crescente, muito mais no interior do País do que nas capitais. Vemos o mercado do varejo se transformando no e-commerce e mudamos toda a dinâmica da logística. Antes era só B2C, B2B, atualmente assistimos o D2C (direct to consumer), da indústria direto para o consumidor final”, explica ele.

Eduardo Peixoto, vice-presidente comercial da Total Express comentou o enorme número de entregas que a empresa realiza. “É feita uma a cada dois minutos. E hoje, este mercado é dependente da existência do MEI (Micro Empreendedor Individual), é impossível conceber esse número de entregas operando no modelo de CNPJ ou de TAC (Transportador Autônomo de Cargas)”, compartilhou ele.

Complementando o assunto, Alex Fontes, gerente sênior de transportes no Mercado Livre, falou da utilização de veículos de passeio para entrega e sobre a regulamentação. “Difícil achar uma legislação que abrace todos os lados. Alguns mercados são autorregulados, o ponto é achar um equilíbrio de como conseguimos fazer uma regulação mais aberta sem precarizar o trabalho”, defendeu.

 “Na Justiça Trabalhista esse tema ficou cada vez mais recorrente. Buscamos alternativas para sermos eficientes, mesmo em meio a condições desfavoráveis”, comentou Juliani.

Os painelistas revelaram ainda como estão preparando toda a logística para a Black Friday deste ano, e como as instalações lockers e pontos de coletas podem ser a saída para otimizar as entregas.

Já encerrando o evento, o presidente SETCESP enalteceu as ricas discussões de todos os debates. “São assuntos relevantes que mostram as novidades do mercado e como fazer para estarmos à frente delas. Nós transportadores, precisamos estar atualizados e de olho no futuro”, finalizou.


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