Por que o governo não teme a nova ameaça de greve dos caminhoneiros
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Uma nova ameaça de reacendeu temores de que o país possa voltar à situação vista em 2018, quando uma paralisação da categoria provocou desabastecimento de combustível e alimentos em todo país. No entanto, todos os indícios levam a crer que a convocação feita para o dia 1º de fevereiro é mais uma bravata. No Ministério da Infraestrutura, onde estão concentradas as negociações com entidades e lideranças do setor, não existe a menor preocupação com o surgimento de um movimento grevista no futuro próximo.

Dessa vez, a convocação foi feita pelo Conselho Nacional do Transporte Rodoviário de Cargas (CNTRC), presidido pelo caminhoneiro Plínio Dias. A entidade é irrelevante do ponto de vista representativo e tem patrocinado postagens no Facebook para ampliar a divulgação do manifesto em que ameaça uma paralisação nacional. Dias, inclusive, foi candidato a deputado federal no Paraná pelo Patriota na eleição de 2018, mas obteve só 1.960 votos e não se elegeu.

Em contato com VEJA, Dias declarou que é o idealizador da convocação e que sua entidade reúne 38 pessoas em 22 estados. O panfleto da CNTRC circula nas redes sociais desde dezembro, quando lideranças difusas começaram a criticar o governo federal por discordarem de ações do Ministério da Infraestrutura. Um dos motivos para as recentes insatisfações é o projeto BR do Mar, que está em análise no Senado e estimula a cabotagem – tráfego marítimo entre portos da mesma costa de um país. Foi por essa razão que uma das principais lideranças de 2018, o caminhoneiro Wallace Landim, o Chorão, concedeu entrevistas dizendo que o governo havia traído a categoria.

Segundo mapeamento do Ministério da Infraestrutura, a convocação do CNTRC configura a 13ª tentativa de paralisar a categoria no governo de Jair Bolsonaro, sendo que outras nove foram feitas em 2019 e três em 2020. Nenhuma delas se concretizou.

Para fevereiro também é esperado o início do pico de safra de diversos produtos agrícolas, incluindo a soja. Com o frete aquecido e diante da crise econômica provocada pela pandemia de Covid-19, o governo crê que a capacidade de mobilização de uma entidade desconhecida será mínima.

VEJA procurou a CNTA (Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos) para se manifestar sobre o tema, mas a presidência da principal entidade da categoria não retornou os contatos. Norival de Almeida, vice-presidente da confederação, afirmou que não irá fazer greve e nem incentivará os seus associados a aderirem o movimento. “Eles marcam greves todos os dias. Isso é incompetência. Essas pessoas não sabem nem conversar. Cada vez que fazem isso, eles acabam com a nossa credibilidade”, disse Almeida, que também preside a Federação dos Caminhoneiros Autônomos de Carga em Geral (Fetrabens).

Ariovaldo Almeida Junior, uma das principais lideranças da paralisação de 2018 e que dirige o Sindicato dos Caminhoneiros Autônomos de Ourinhos (SP), também descartou adesão à greve. “Os caminhoneiros não podem ser usados como massa de manobra e parar o país só porque meia dúzia de representantes da categoria não foi recebida pelo governo. O movimento dos caminhoneiros é coisa séria, precisa ter uma pauta tangível e objetividade. Ao meu ver, essas pessoas não têm nada disso. Só querem aparecer”, afirmou.

Vander Costa, presidente da CNT (Confederação Nacional do Transporte) e que representa as empresas de transporte de cargas, afirmou que não há nenhuma aderência a movimentos grevistas no meio em que trabalha. “Essa convocação tem caráter político e não representa nenhuma melhoria ao trabalho do profissional autônomo que eles dizem representar. Se acontecer, será localizado e não trará consequências para nós”, declarou.

O Ministério da Infraestrutura não fez comentários específicos sobre a nova ameaça grevista. A pasta informou que mantém uma “agenda permanente de diálogo com as principais entidades representativas da categoria por meio do Fórum do Transporte Rodoviário de Cargas (TRC), além de reuniões constantes com suas lideranças”. O ministério diz que o fórum é o principal canal interativo entre o governo e o setor e que “qualquer associação representativa que deseja contribuir para a formulação da política pública pode requerer a sua participação para discutir eventuais temas de interesse da categoria”.


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