Os operadores do transporte rodoviário, que chegaram ao final de 2020 reconhecidos pelo papel fundamental de manter o abastecimento num ano de pandemia, e relativamente otimistas com a recuperação econômica do país, estão às voltas, novamente, com dificuldades de fechar o caixa. A nova onda da covid-19 e os sucessivos aumentos no preço do diesel são os principais desafios enfrentados nos primeiros meses de 2021, segundo recente pesquisa da Confederação Nacional do Transporte (CNT), com 580 empresas do setor.
Para a maioria (54,5%) dos entrevistados, a situação piorou em relação ao ano passado, enquanto 30,5% consideraram que o desempenho de suas empresas permaneceu estável e apenas 12,4% declararam que o negócio vai bem. Em relação ao que esperam dos próximos seis meses (a consulta foi feita em março), 74,3% se mostraram pessimistas, considerando que a situação deve permanecer ruim ou até piorar, e só 20,5% disseram acreditar numa melhora. O levantamento apontou ainda que 69% dos transportadores sofreram redução de faturamento, 57,4% perderam capacidade de pagamento e 44,7% tiveram de reduzir o número de empregados.
Apesar desse quadro de dificuldades, o transporte rodoviário de carga cresceu cerca de 10% nos primeiros quatro meses de 2021, impulsionado pelo agronegócio e pelo e-commerce, de acordo com um levantamento do instituto Ilos. “É um índice alto, porque leva em conta a brusca redução desse modal de transporte em abril de 2020. Mesmo assim, nossa previsão é de que chegue ao final do ano com um crescimento de 7% na movimentação de carga”, afirma o consultor Mauricio Lima.
Os caminhoneiros autônomos, os mais afetados pela alta de 20,8 % no diesel de janeiro a maio, duvidam desse prognóstico e reclamam ainda de várias promessas do governo que não foram cumpridas, como a prioridade na vacinação e uma linha de crédito especial do (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). “Estamos numa situação pior do que a de 2018, quando fizemos a greve”, afirma Wallace Landim, presidente da Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Autônomos (Abrava), um dos líderes do movimento que paralisou o abastecimento em todo o país por nove dias naquele ano.
Landim lembra que o presidente Jair Bolsonaro apoiou aquela greve e desde então contou com a solidariedade da categoria – mas isso pode terminar. “Quando o governo lançou o programa ‘Gigantes do Asfalto’, em maio, eu estive lá na cerimônia, dando o meu aval, porque era uma proposta que atendia as nossas principais reivindicações. Mas nada daquilo saiu do papel até hoje e estamos no limite, não dá para esperar mais.”
Depois que a greve de 2018 mostrou a força dos caminhoneiros para travar o país, a possibilidade de nova paralisação volta e meia assombra o governo. Com a insatisfação da categoria crescendo na mesma medida em que o diesel ficava mais caro nas bombas, o governo tratou de anunciar o programa “Gigantes do Asfalto”. Mais de um mês depois desse anúncio, porém, as medidas ainda não foram iniciadas, deixando a categoria irritada.
“O governo não está lidando o assunto com seriedade. Disse que haveria uma linha de crédito de R$ 500 milhões do BNDES para a manutenção dos caminhões e quando fui pedir a renovação desse plano, que terminou no início de junho, descobri que ele nunca existiu de verdade. Nenhum caminhoneiro recebeu esse financiamento”, afirma Landim.
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