Obras do Rodoanel melhoram o PIB de municípios do entorno
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23 de Junho de 2008 – 10h00 horas / Valor Econômico
Marcada por paralisações, em função da falta de recursos e de duros embates com entidades de defesa do meio ambiente, a construção do Rodoanel na Região Metropolitana de São Paulo completa dez anos e enfrenta hoje uma espécie de corrida para recuperar o tempo perdido. Foram cinco anos para construir o trecho oeste, inaugurado em 2002, e outros cinco anos de paralisação para resolver os problemas ambientais. Nesse período foram realizadas mil reuniões e 15 audiências públicas até que as obras do trecho sul pudessem ser iniciadas, em maio de 2007. A solução das pendências, em função de um traçado que corta uma área de mananciais e de Mata Atlântica, adicionou R$ 500 milhões ao custo total do empreendimento, que em valores de hoje soma R$ 4 bilhões. Livre de embaraços também com desapropriações e a recolocação de 1.700 famílias, o governo do Estado tem pressa e planeja inaugurar o novo trecho em 2010.
As expectativas em relação ao Rodoanel são grandes. Os municípios vizinhos à via expressa esperam, de um lado, atrair empresas e novos investimentos que possam engordar a arrecadação. E, de outro, reduzir os congestionamentos que trazem prejuízos ao transporte de carga e afugentam os empresários. As prefeituras e agências de desenvolvimento começam agora a desenvolver estudos que possam mostrar com números o impacto econômico da obra.
A análise de alguns indicadores, porém, já dá pistas importantes nesse sentido. Marcelo Chueiri, coordenador técnico da Agência de Desenvolvimento de Guarulhos, afirma que há uma relação direta entre crescimento econômico e a implantação do Rodoanel. “Na Grande São Paulo os municípios que mais cresceram entre 2002 e 2005 foram aqueles que estão próximos à via expressa“, diz. O crescimento médio real do PIB desses municípios foi de 30% nesse período, enquanto o do país foi de 10% (veja tabela). Chueiri utilizou a mesma metodologia do IBGE para comparar a evolução dos 39 municípios da Região Metropolitana e de outras seis grandes cidades.
Quando estiver concluído em todas as etapas (norte , sul, leste e oeste) o Rodoanel formará um cinturão em torno de 19 municípios da Grande São Paulo. O trecho oeste, com 32 km, primeiro a ser construído, foi inaugurado em 2002. Por ele passam cinco das dez principais rodovias que chegam a São Paulo (Bandeirantes, Anhangüera, Castelo Branco, Raposo Tavares e Régis Bittencourt). O trecho sul, de 61,4 km, desce e atravessa as represas de Guarapiranga e Billings, interliga-se com as rodovias Anchieta e a Imigrantes e termina em Mauá, onde haverá obras complementares nas avenidas Jacu Pêssego e Papa João XXIII, que terá uma ligação com a avenida dos Estados. Esse braço do Rodoanel por dentro de Mauá fará a ligação com a Rodovia Ayrton Senna até que fique pronto o trecho leste, que alcançará também a Via Dutra.
O diretor de engenharia da Dersa, Paulo Vieira de Souza, informa que a construção do trecho leste, cuja licitação deverá ocorrer em 2009, será feita por meio de concessão. O investimento previsto é de R$ 3 bilhões. A primeira privatização do Rodoanel ocorreu em março deste ano. O leilão do trecho oeste foi vencido pela Companhia de Concessões Rodoviárias (CCR), que pagará R$ 2 bilhões em dois anos pela outorga e investirá mais R$ 804 milhões durante os 30 anos de concessão.
Ponto de chegada do trecho sul do Rodoanel, o município de Mauá, com 400 mil habitantes, vive um clima de otimismo. O município conta hoje com 739 indústrias, incluindo as que fazem parte do Pólo Petroquímico do Grande ABC, 10 mil empresas prestadoras de serviço e 6 mil estabelecimentos comerciais. O objetivo da prefeitura é trazer novas empresas para os pólos de Sertãozinho e Capuava. Nesses dois distritos há 16 milhões de m² de área disponível para construção. “A cidade precisa se preparar para receber novos investimentos“, diz Suely Soares Bio, secretária de Desenvolvimento Econômico e Social de Mauá. Para atrair investidores, a prefeitura criou um programa de incentivo, com descontos que podem chegar até a 50% nos impostos municipais, de acordo com a geração de empregos.
Na opinião da secretária, a disponibilidade de áreas grandes e a localização privilegiada de Mauá já desperta o interesse de empresas de logística. “Vamos fomentar também a criação de condomínios industriais, em áreas de 300 mil m² “, diz. Com isso, Suely Bio estima que em cinco anos é possível aumentar em 40% a arrecadação do município, que hoje é de R$ 380 milhões. Os planos incluem a construção de um centro de convenções, com hotel ao lado, em parceria com a iniciativa privada. Já há uma área de 98 mil m² disponível, e o investimento previsto é de R$ 40 milhões.
“A chegada do Rodoanel deve eliminar o gargalo logístico que tem inibido os investimentos na região“, diz Sidney dos Santos, gerente executivo da Associação das Indústrias do Pólo Petroquímico do Grande ABC (APOLO). Ele acredita que a região tem potencial para aglutinar empresas transformadoras do setor de plástico. “Muitas indústrias migraram para outros Estados, mas agora poderão voltar pois encontrarão condições mais favoráveis não só pelo acesso ao Rodoanel, mas também pela redução do ICMS, a partir de 2007, e pela proximidade do pólo, que garante o suprimento da matéria-prima“, diz.
Para Fausto Cestari Filho, secretário executivo da Agência de Desenvolvimento Econômico Grande ABC, é cedo ainda para medir com clareza o impacto econômico do Rodoanel. “Do ponto de vista de logística não há dúvida que será positivo para o São Paulo e para o país“, afirma. Mas, a seu ver, há questões importantes do ponto de vista de urbanização e ocupação do solo a serem equacionadas. “Hoje o preço dos terrenos já é alto e pode subir mais. Em Barueri, o metro quadrado ficou doze vezes mais caro. Isso pode deslocar atividades produtivas e residenciais. Pode haver uma mudança de perfil, com a saída de plantas industriais e a chegada de empresas de logística que ocupam grandes áreas mas empregam pouca mão-de-obra e geram menor arrecadação“, avalia.

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