O que a meditação pode fazer pela sua liderança
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Uma das coisas que impede o sucesso de muitos líderes — e consequentemente, de suas empresas — é o seu ego. Em um estudo inspirador, o especialista em liderança Jim Collins descobriu o que faz empresas serem incrivelmente sustentáveis: ao comparar 2/3 da amostra, percebeu “a presença de um ego gigante que contribuía para a eliminação ou para a permanência da mediocridade da empresa”. Por sorte, mindfulness pode ajudar. Na verdade, em meu trabalho ensinando meditação para centenas de executivos, percebi que um dos benefícios mais valorizados — e muitas vezes subestimados — para os líderes, é a capacidade de transcender seus egos.

As tendências defensivas de nosso ego têm um preço bastante alto. Quando ele é ameaçado, nos apegamos por muito tempo às decisões tomadas no passado, reagimos defensivamente ou “justificamos” o feedback negativo que recebemos de nossas equipes ou consumidores, e somos emocionais quando deveríamos ser racionais. Ray Dalio, fundador de um dos maiores fundos hedge do mundo, refere-se em seu livro, Princípios: vida e trabalho, à “barreira do ego’’, que define como sendo “mecanismos de defesa subliminares que fazem com que seja difícil aceitar seus erros e fraquezas”. Diz, também, que a meditação é a principal responsável por seu sucesso.

Isso porque a meditação mindfulness é o antídoto ao ego. Ela cria aquilo que os pesquisadores de neurociência de Harvard descrevem como experiências “autotranscendentes’’, onde, ao meditar, as pessoas começam a perceber que não existe um “eu estável’’ que esteja separado dos outros; pelo contrário, todos fazem parte de um mesmo todo. Isso pode até soar como “blá-blá-blá’’, mas essas experiências trazem grandes benefícios para os líderes: fazem com que vejam as coisas mais objetivamente e construam relacionamentos mais profundos.

Enxergando as coisas com mais objetividade

Nosso ego quer que estejamos certos, e encara o fracasso como uma ameaça. Com a prática da meditação, nossa fixação pelo ego diminui e assim, nossa tendência para levar as coisas para o lado pessoal diminui também.

Veja o exemplo de Scott Shute, ex-vice-presidente de Operações ao Consumidor da LinkedIn, que agora lidera os programas de mindfulness da empresa. Ele explicou que, ao longo do dia, “uso práticas de mindfulness quando percebo que fico ansioso ao tomar uma decisão ou me coloco na defensiva ao ouvir uma crítica. Aí, vou respirar e meditar por alguns minutos e, aquilo que antes estava me frustrando, torna-se uma “quase brincadeira”. Posso, então, prestar atenção aos detalhes e enxergar coisas que não estava vendo anteriormente’’.

Jeff, presidente de uma grande rede varejista, viveu uma experiência parecida durante uma sessão de meditação que conduzi durante um workshop de liderança. Um pouco antes da sessão, ele recebeu um e-mail de seu CEO. Disse-me, “Minha cabeça estava a um milhão por hora, me sentia frustrado e injustiçado. Depois de meditar, reli o e-mail. Minha mente estava calma e eu sorri. Tinha entendido que eu era o assunto central do e-mail e levado para o lado pessoal. Depois, fui capaz de enxergar como as coisas realmente eram — apenas algumas tarefas específicas que precisavam ser feitas.” Após uma rápida meditação – que diminuiu o controle de seu ego – conseguiu ler o e-mail sem se sentir ameaçado e pode agir adequadamente.

Como estabelecer relacionamentos mais profundos

Essas experiências também mudam, fundamentalmente, como os líderes se relacionam, fazendo com que sintam mais empatia e se conectem mais profundamente. Mike Romoff, diretor de vendas da agência globalda LinkedIn, me explicou que após praticar meditação por alguns meses, ele “ teve a percepção gradual de que todos os seres estão conectados, e que toda a estrutura (constructo) de ter sentimentos adversos em relação aos outros como seres independentes deixou de fazer sentido”.

Quando descobriu que seu departamento estava imerso em uma enorme rivalidade com outro departamento, decidiu ajudar seu colega em vez de piorar ainda mais a tensão entre eles: “Os projetos seguiram adiante, os conflitos entre os departamentos se dispersaram e progredimos bastante. Com impactos muito positivos em minha carreira, ganhei a reputação de colaborador e solucionador de problemas.”

A meditação pode nos ajudar a lidar com colegas que acreditamos serem “difíceis’’, o que nos possibilita desafiar as narrativas baseadas no medo que nossa mente cria, e que atrapalham o caminho na tomada de decisões produtivas. Vejam o exemplo de Marisa, executiva sênior de uma grande empresa de mídia, praticante de meditação há alguns anos. Por anos, lidou com um colega muito difícil, sem nunca, entretanto, ter abordado seu comportamento abertamente. Depois de praticar meditação por algum tempo, percebeu que seu “eu amedrontado havia desaparecido’’ e que “não tinha mais medo de confrontá-lo”. Disse que, finalmente, quando mencionou os fatos, sentiu-se “como se o universo estivesse falando através de mim’’. Foi capaz de enxergar e comunicar os fatos com clareza, sem receios e sem o envolvimento emocional de antes. Para sua enorme surpresa, o colega estava disposto a ouvi-la e concordou em mudar seu comportamento.

Pratique meditação para vivenciar a autotranscedência

Meditação mindfulness não é a única maneira de vivenciar a autotranscedência — nossa fixação em nosso ego pode diminuir enquanto corremos, cozinhamos, tocamos um instrumento, ou enquanto fazemos alguma atividade que nos envolva — mas, com certeza, é o jeito mais direto. Veja como criar essa experiência em sua vida.

Desenvolva o hábito de acalmar a mente. Uma das formas mais simples da meditação mindfulness é encontrar um lugar tranquilo, sentar-se confortavelmente em uma cadeira ou almofada, e acertar um temporizador para algum período de tempo entre cinco e 25 minutos. Depois, comece a prestar atenção na sua respiração: ao inspirar e ao expirar. Você pode contar enquanto respira, começando com um ao inspirar, dois ao expirar, e assim sucessivamente, até dez e depois, retornar ao um. Independentemente do método que utilizar, é provável que perceba os fluxos quase constantes de pensamentos que passam pela sua mente (aproximadamente 70 mil pensamentos por dia). Deixe que a mente se desligue desses pensamentos e viva a sensação de abertura.

Pratique regularmente — todos os dias. Embora as experiências autotranscendentes possam acontecer após sessões rápidas de meditação, manter-se em um estado estável requer prática constante. Da mesma forma que frequentar uma academia esporadicamente pode fazer com que se sinta bem mas não vai ajudá-lo a desenvolver sua musculatura, a meditação irregular não será suficiente para proporcionar experiências transcendentais consistentes. A maioria dos executivos com quem trabalho medita pelo menos 20 minutos por dia. Para muitos deles, acordar cedo pela manhã e começar o dia meditando é a melhor forma de garantirem a si mesmos que “conseguirão dar conta’’.

Encontre tempo para ficar em silêncio. A maioria dos executivos percebe que quanto mais tempo meditam, mais sua mente começa a se acalmar e seus pensamentos eventualmente acabam se dissipando. Como são nossos pensamentos que criam essa consciência do ego, quando se dissipam, existe a possibilidade de nosso ego diminuir. Em um mundo onde estamos, o tempo todo, expostos a novos estímulos (através de e-mails, notícias, mídias sociais, etc.), você precisa, deliberadamente, encontrar um tempo para o silêncio. Você pode ir para um “retiro” prolongado, coordenado por um professor de meditação experiente, ou encontrar um tempo durante o dia, quando não estiver absorvendo novas informações.

Use os conhecimentos da autotranscedência nos problemas, ao longo de todo o dia. Use o que ganhou com essas práticas para afrouxar o controle do seu ego durante o dia, no trabalho. Você pode acalmar sua mente respirando conscientemente por alguns minutos, antes de entrar em uma reunião ou de abrir um e-mail. Você também pode praticar a meditação a qualquer hora. Por exemplo, enquanto está sentado em uma reunião, ou respondendo a um e-mail, volte seu foco para sua respiração e simplesmente repare se sua mente começou a levar as coisas para o lado pessoal. Dar algumas respiradas, inspirando e expirando, pode ajudá-lo a afrouxar o controle do seu ego.

Há quase dez anos, tive a sorte de participar de um retiro de silêncio por três meses quando tirei um ano sabático da minha vida corrida de consultor, na McKinsey. Em uma das conversas semanais com minha professora de meditação, ela disse: “Lembre-se: você não existe.” Na época, aquilo não fez o menor sentido para mim e demorou algum tempo para que eu entendesse que a autotranscedência não pode ser entendida pela mente. Precisa ser praticada.


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