O custo, o tempo e a produtividade no transporte
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*Por Raquel Serini

No transporte de carga, o tempo é um recurso valioso e escasso, tanto na operação quanto na logística. Ele impacta diretamente a rentabilidade das empresas, por conta da produtividade e também no bem-estar dos colaboradores.

Para garantir a otimização do tempo e a diminuição do custo, é preciso um planejamento da rota que observe aspectos como: distância, tráfego, velocidade, condições de rodagem e horário de carga e descarga. Mais um fator é a capacitação do motorista, que deve estar apto a utilizar tecnologias e ferramentas que possam ajudá-lo a economizar tempo e aumentar a segurança durante as viagens.

Lembrando que são diversos os fatores que podem aumentar o tempo gasto em uma rota no transporte, como congestionamentos, acidentes, interdições, etc. O tempo perdido nestas e outras situações pode gerar atrasos na entrega, multas por descumprimento de prazos contratuais e, consequentemente, prejuízos financeiros. Portanto, é fundamental que as empresas de transporte de carga invistam em estratégias para uma gestão eficiente do tempo.

Outro ponto é que a jornada do motorista é um aspecto importante a ser considerado, mesmo porque a legislação trabalhista estabelece limites de horas na direção e de descanso para garantir a segurança do profissional e dos demais usuários das estradas. O não cumprimento dessas regras pode gerar multas e sanções administrativas e o mais grave de tudo, colocar em risco a vida do motorista e de terceiros.

Ainda mais, depois das mudanças derivadas da ADI (Ação Direta de Inconstitucionalidade) 5.322, que trouxeram significativas alterações na Lei 13.103/15 — que regulamenta a profissão do motorista. As empresas precisam reavaliar os custos de suas operações, para então mensurar os impactos financeiros causados por esta medida. Resultados difíceis de prever, uma vez que, para cada uma delas essa conta ‘fecharia’ de formas diferente, a depender do tipo de operação.

A priori é indicado começar analisando o custo do tempo, fator limitante neste processo, ou seja: o dia tem 24 horas, 22 dias úteis por mês em média, que já são reduzidos pela jornada de trabalho pré-estabelecida. Por isso, pense em todos os custos fixos e variáveis do veículo para se obter o custo por hora, a fim de entender melhor o cenário e a produtividade deles.

Depois, leve em consideração todos os parâmetros, os já mencionados anteriormente (horas trabalhadas/dia, dias trabalhados/mês) mais o percurso, a velocidade e o tempo de carga e descarga de como eram no cenário antes da ADI. Então, avalie o fim do tempo de espera em substituição por horas extras, como consequência das práticas advindas da ADI 5.322.

Resumidamente, se antes pagávamos 30% sobre esse tempo de espera, agora são 50%, devido às horas extras, somados aos encargos sociais e trabalhistas no nosso setor, que estão em aproximadamente 63,20%. Isso resultará em um valor por hora 7 vezes maior do que temos atualmente.

Ou seja, o impacto imediato é percebido no aumento do custo do tempo e diminuição na produtividade. Já que o tempo de espera é considerado jornada, a interjornada não pode ser fracionada, resultando menos viagens por veículo.

E o que poderíamos concluir disso tudo? O custo deve aumentar a depender do perfil das operações e o tempo de espera para carga e descarga passou a ser um fator potencializado. Quanto mais ficar parado, mais custo a empresa terá, isso agora em maior escala.

Provavelmente, seja necessário investir em mão de obra e na aquisição de veículos, a depender novamente do seu perfil de operações, pois talvez não seja possível atender a mesma demanda nas condições atuais. Até porque, sabemos da escassez de motoristas no mercado, outro gargalo do setor de transportes a ser enfrentado.

Em síntese, para garantir a produtividade no transporte de carga em viagens rodoviárias, deve-se considerar o custo do tempo e investir em tecnologias, capacitação e condições adequadas de trabalho para o motorista. Desta forma, será possível garantir eficiência e segurança operacional sem prejudicar o caixa.

Raquel Serini é economista e coordenadora de projetos do IPTC.


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