O comportamento do motorista e as infrações de trânsito
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por Fernando Zingler*

Na edição anterior da Revista SETCESP apresentei o cenário das multas emitidas no município de São Paulo para caminhões, focando principalmente nas geradas automaticamente por meio dos radares municipais. Como mencionado, a maioria das infrações cometidas e processadas por este canal são referentes à circulação de caminhões em locais proibidos, sobretudo devido às restrições de circulação impostas.

Nesta edição, quero destacar as infrações de trânsito em São Paulo que são emitidas manualmente, ou seja, por um agente de trânsito credenciado que flagra a infração e emite a multa diretamente ao motorista.

Primeiramente, a quantidade de multas nesta categoria é significativamente menor, totalizando 41.573 multas registradas em 2018, o que representa 7,82% do total de multas emitidas no município de São Paulo. Esse número é aceitável, considerando que os radares conseguem fiscalizar um número muito maior de veículos que circulam pelas vias públicas do que os agentes espalhados em locais pré-determinados e aleatoriamente, fazendo com que muitas infrações passem despercebidas por impossibilidade de cobertura total e periódica das ruas municipais.

Nesta análise, decidi segmentar as multas através do agente autuador, que podem ser o DSV (Departamento de Operação do Sistema Viário do município de São Paulo), a GCM (Guarda Civil Metropolitana), PM (Polícia Militar) e a SPTrans. O quadro mostra as principais infrações flagradas por cada um destes agentes.

Agente fiscalizador

Total de multas (2018)

Principais causas

DSV

31.346

1

Estacionamento

2

Circulação irregular

3

Uso de celular

GCM

1.074

1

Uso de celular

2

Estacionamento

3

Falta do uso do cinto de segurança

PM

6.257

1

Estacionamento

2

Uso da buzina em local proibido

3

Circulação irregular

4

Uso do celular

SPTrans

2.896

1

Transitar em faixa exclusiva para ônibus

O DSV é responsável pela emissão de 76,4% das multas manuais emitidas no município, seguido pela PM (15,7%). Ambos se utilizam da fiscalização como estímulo à educação de trânsito, visando impor penalidades que evitem a reincidência das infrações cometidas e melhorem a segurança viária.

Nota-se que as principais infrações flagradas pelos agentes estão relacionadas principalmente ao comportamento dos motoristas, diferentemente das flagradas pelos radares que evidenciam infrações operacionais e de velocidade, em sua maioria. Aqui, as principais causas de multas são duas: o estacionamento em via pública e o uso de celulares por motoristas. Outras causas que também se destacam são o uso inadequado da buzina, a falta da utilização do cinto de segurança e circulação em locais proibidos, principalmente faixas e corredores de ônibus.

O problema de estacionamento é bastante conhecido e debatido pelo SETCESP, sendo uma das bandeiras do setor para melhoraria da distribuição urbana de mercadorias. Muitos locais, especialmente na região central do município, possuem poucos espaços destinados para carga e descarga de mercadorias e, ainda assim, tais vagas exclusivas são frequentemente utilizadas por veículos particulares ou veículos que não estão realizando uma operação de transporte efetiva, forçando os motoristas profissionais a estacionarem em local proibido ou em fila dupla. Isso se reflete nas multas aplicadas, que acabam onerando o serviço de transporte e dificultando as operações nestas regiões.

O segundo problema, relacionado ao uso do celular, é ainda mais preocupante, pois é categorizado como um risco viário tanto ao motorista e a carga, como para todos os pedestres e demais veículos que são afetados. O uso do celular ao volante desvia a atenção do trânsito e aumenta o risco de acidentes significativamente porque o cérebro não consegue manter a atenção em ambas atividades simultaneamente. Um desvio de 5 segundos para ler uma mensagem enquanto dirige a 50 km/h equivale a 70 metros percorridos pelo veículo sem atenção ao seu arredor, o suficiente para colidir com pedestres ou perder o controle do veículo acertando outros veículos e objetos.  Todas as agências autuadoras municipais têm intensificado a fiscalização deste tipo de infração em razão de ter se tornado cada vez mais frequente, ao passo que o celular guarda hoje muitas funções como GPS, mensagens de texto, comunicação e dados da entrega, entre outros.

É importante educar e orientar os motoristas da sua frota a não utilizarem o celular enquanto dirigem, tanto para evitar as multas de trânsito, quanto acidentes que possam decorrer desta prática.  É uma atitude simples que depende principalmente do motorista, diferente da questão do estacionamento, que exige de uma regulamentação e ampliação da quantidade de vagas pela prefeitura municipal, situação na qual o SETCESP tem trabalhado intensamente para melhorar.

*Fernando Zingler é Diretor Executivo do IPTC e tem mestrado em Engenharia de Transporte pela Universidade de Nova Iorque.


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