O pedaço mais problemático da via recém-entregue -e que deve passar por reformas- fica entre a rodovia Anchieta e a cidade de Mauá, na Grande São Paulo -chamado “lote 1“. Desde o dia da abertura do trecho para o tráfego, o local já registrou pelo menos dois acidentes devido a aquaplanagem dos veículos. Para a Polícia Rodoviária Estadual, isso pode estar ligado a possíveis problemas de engenharia.
A Dersa, estatal paulista responsável pela obra, afirmou à Folha que a via é segura, mas não informou se haverá reforma. Segundo um engenheiro que atuou na obra, porém, o pavimento do ponto em questão não passou nos testes de resistência e rugosidade -o profissional pediu para não ter o nome revelado. A falta de qualidade já era conhecida antes mesmo da inauguração do trecho sul, segundo esse engenheiro, mas a reforma foi adiada para momento mais oportuno.
Segundo ele, os dois quilômetros deverão ser refeitos, mas a responsabilidade ainda é do consórcio Andrade Gutierrez-Galvão Engenharia. Há outros trechos que ainda podem ser refeitos, mas o maior deles é onde ocorreram os acidentes.
In loco – A pedido da Folha, o engenheiro João Virgílio Merighi, especialista em pavimentação, visitou o trecho sul do Rodoanel. Ele afirmou que há locais que apresentam problemas.
Professor de transporte do Mackenzie, Merighi esteve no local considerado problemático, próximo ao km 79. Ele apontou possíveis falhas de execução da obra por causa do surgimento de buracos e esborcinamento (quebra nas bordas) das placas de concreto usadas como pavimento da pista. “Isso não é normal. Esses são problemas que não deveriam aparecer tão cedo e sugerem falha de execução“, afirmou.
Na opinião de Merighi, além desses pontos, há outro problema ainda mais grave, que são os “fortes indícios“ de a rodovia ser mais lisa do que poderia e, com isso, colocar em risco o usuário. Para ele, a Dersa deveria suspender o tráfego de veículos nesse trecho nos dias de chuva até que análises sejam feitas sobre a aderência. “Quanto à aderência, é necessário fazer uma avaliação urgente sob pena de haver derrapagens“, disse o engenheiro.
Estatal paulista afirma que a pista é segura – A Dersa, empresa estatal do governo de São Paulo responsável pela construção do Rodoanel, afirma que “a pista é segura“ e que “mantém equipes durante 24 horas verificando as condições técnicas da via“.
Segundo a empresa, a obra foi “projetada e construída dentro das mais rígidas normas de segurança e seguindo padrões internacionais“. “Todas as ocorrências -independentemente do tipo de acidente- são registradas para análise da administradora da via e da polícia, para que sejam tomadas as devidas providências“, diz ela sobre o surgimento de buracos na pista e a quebra das bordas de placas de concreto.
Sobre os dois quilômetros que devem passar por reformas, a Dersa não se manifestou. Disse que procuraria alguém responsável por esclarecer essa informação, mas até o fechamento desta edição não houve resposta.
A Dersa disse que a Polícia Rodoviária ainda não comunicou sobre possíveis problemas de engenheira da pista. Sobre os acidentes ocorridos no trecho na semana passada, a empresa diz que eles podem ter ocorrido por falha humana. “Desde que o usuário obedeça às placas de sinalização e reduza a velocidade sob chuva, a lâmina d água não constitui, por si mesma, causa de capotagem em pista com as características do Rodoanel“, diz a Dersa.
O consórcio Andrade Gutierrez/Galvão Engenharia, responsável pela construção do lote 1, foi procurado pela reportagem, mas informou não poder comentar o assunto. “O consórcio […] esclarece que, por questões contratuais, informações referentes ao trecho citado devem ser obtidas diretamente com a Dersa“, afirma a nota.
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