Especialistas apontam os desafios e as possíveis soluções para as empresas mais fragilizadas do setor
As transformações profundas e rupturas que a indústria vem incorporando aos poucos, mas em velocidade cada vez maior, exigirão um esforço redobrado e adaptações drásticas de companhias que compõem a cadeia automotiva no Brasil, principalmente daquelas que se encaixam na nomenclatura PME: pequenas e médias empresas. Segundo o Sindipeças, que reúne as empresas do setor, dos seus 470 fabricantes associados, 360 são classificadas como PME, cujo faturamento anual não ultrapassa os R$ 65 milhões.
Na análise de George Rugitsky, diretor geral da Freudenberg-NOK do Brasil, prevalece a premissa de que a cadeia é forte quando todos os elos são igualmente fortes, o que justifica a importância de olhar com cuidado para essa parcela que compõe a indústria. O executivo admite que o País ainda está saindo da maior recessão dos últimos tempos e que ainda há efeitos da fragilização, que chegou a todos os níveis da cadeia.
“Para que as PMEs se mantenham competitivas, há um desafio de investimento inevitável em reposicionamento, automação, digitalização, sensorização de equipamentos, softwares [big data] e equipamentos atualizados, além de capacitação e aquisição de novas tecnologias”, comentou durante sua participação no painel sobre a situação das PMEs no Encontro da Indústria de Autopeças, realizado pelo Sindipeças.
Soluções como buscar parcerias e alianças podem potencializar esse crescimento, uma vez que essas associações podem gerar um melhor valor agregado. Rugitsky complementa que diversificar também é tarefa de toda a cadeia. “Nem tudo o que se faz hoje será competitivo para fazer no futuro”, comenta. Ele aponta ainda a urgência da conscientização dos gestores das PMEs para as novas necessidades e que modernização e investimentos são inevitáveis.
No entanto, uma pesquisa apresentada pelo executivo aponta que das 61 empresas do Sindipeças que participaram do estudo relacionado à aplicação de conceitos da indústria 4.0, 81% delas não têm previsão orçamentária para implantação de processo produtivo totalmente digitalizado. O uso do Big Data é ignorado por mais de 80% das empresas por não possuírem maquinário equipados com sensores e softwares para interpretar dados e informações.
Neste cenário, sobram dificuldades em um ambiente de negócio complexo, conforme indica David Wong, consultor e diretor da A.T. Kearney. Ele aponta que as deficiências competitivas limitam a evolução das empresas, o que resultou em uma substituição das autopeças nacionais por importadas, por exemplo. Isso se comprova no saldo da balança comercial de autopeças, que está negativa há pelo menos 10 anos.
Para Wong, o crescimento das PMEs está atrelado à necessidade de cada empresa de ser mais integrada. “Também é papel das OEMs, Tiers 1 e governo fomentar a integração das PMEs na cadeia global, prevendo inovação de processos e de produtos”, alerta.
O presidente da Bosch, Besaliel Botelho dá o exemplo de que é possível ajudar. Ele conta que com a Lei do Bem surgiu a oportunidade de integrar 25 empresas de sua cadeia no programa do governo para reforçar ou mesmo incluir conceitos lean, além de suporte para a gestão tanto no aspecto financeiro quanto no gerencial.
“Em dois anos de programa, houve um ganho médio de 75% de produtividade; teve empresas que mais que dobraram esse ganho”, conta Besaliel. Ele defende ainda que para ter uma cadeia sustentável, é necessário que as OEMs participem do processo e não apenas fornecedores de primeiro nível (Tier 1), que é o caso da Bosch.
Em uma nova etapa do programa, a Bosch escolheu duas empresas de sua cadeia para trabalhar conceitos da indústria 4.0. O presidente da companhia relata a Bosch entrou com o aporte necessário e que desta vez ganhará 50% da produtividade alcançada com os resultados, diferente da primeira fase, quando os ganhos foram 100% incorporados pelas empresas participantes do programa.
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