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11 de Abril de 2018 – 15h55 horas / O Globo

Uma antiga siderúrgica em Contagem, na zona metropolitana de Belo Horizonte, pode se transformar no berço de tecnologias que irão revolucionar o mundo. Na última sexta-feira (6), a Hyperloop Transportation Tecnologies anunciou a criação de seu Centro Global de Inovação em Logística na cidade mineira, onde pretende desenvolver soluções para o transporte de cargas. A previsão é que as operações sejam iniciadas ainda neste ano.

 

O centro é resultado de uma parceria público-privada, com investimento de aproximadamente R$ 26 milhões para a primeira fase, com verbas da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais, da Hyperloop e investidores privados. O terreno de 22 mil metros quadrados, com espaço de 4 mil metros quadrados construídos, foi cedido pela prefeitura de Contagem.

 

“Com a abertura deste centro, nós brasileiros, mineiros, não seremos mais espectadores do futuro da inovação, porque esse futuro está sendo construído aqui”, celebrou o brasileiro Rodrigo Sá, diretor global de desenvolvimento de negócios da Hyperloop.

 

O Hyperloop é uma das apostas para o futuro dos transportes terrestres em altíssima velocidade. Ele consiste em cápsulas que levitam magneticamente e circulam em tubos de vácuo. Sem a resistência do ar, é possível alcançar velocidades acima dos mil quilômetros por hora, com baixo consumo de energia.

 

A empresa desenvolve em Toulouse, na França, a tecnologia para o transporte de passageiros. De acordo com o diretor executivo da Hyperloop, Bibop Gresta, a primeira cápsula funcional está sendo construída na Espanha e os primeiros testes em larga escala acontecem ainda neste ano.

 

“No mundo inteiro dizem que é uma capsula, mas aqui em Minas Gerais podem dizer que é um trem, uai”, brincou Gresta. “Estamos à beira de uma grande transformação, com convicção, afirmo que este centro será conhecido como o local que apresentará a quarta revolução industrial. O transporte é a espinha dorsal da nossa sociedade”.

 

O Brasil, conhecido pelos gargalos na infraestrutura de escoamento da produção, se apresentou como uma opção lógica para sediar a divisão de pesquisas em logística. Ainda não há definição sobre rotas a serem construídas, que ainda dependem de estudos de viabilidade. A ideia é substituir o transporte ferroviário por um modal mais econômico e rápido. O transporte entre Belo Horizonte e o Porto de Santos, por exemplo, poderia ser realizado em cerca de 20 minutos.

 

“Temos um problema de infraestrutura no Brasil. Para nós, isso é uma oportunidade”, disse Gresta. “Ainda não posso falar sobre rotas, porque seria apenas especulação. O que eu posso dizer é que assinamos acordos com 11 estados para a execução de estudos de viabilidade”.

 

Mas a construção do centro de pesquisas também deve beneficiar a cidade de Contagem e o estado de Minas Gerais. A Hyperloop é apontada como a mais inovadora companhia de transporte de massa, com uma rede de 900 cientistas espalhados por 40 países.

 

“Nós também estamos lançando a Hyperloop Academy”, afirmou Rodrigo Sá. “A ideia é que a chegada da Hyperloop seja catalisadora de inovação em Minas Gerais e no Brasil”.

 

O que é o Hyperloop?
A ideia sobre o transporte de pessoas e cargas em tubos remonta ao século retrasado, mas a corrida pelo desenvolvimento do Hyperloop se iniciou em 2013, após Elon Musk, cofundador da Tesla e da SpaceX, apresentar um paper sobre o tema. No mesmo ano a Hyperloop Transportation Technologies foi fundada e, segundo Gresta, a tecnologia para colocar a cápsula em funcionamento já está pronta. Os primeiros testes em larga escala acontecem ainda neste ano, em Toulouse.

 

O custo estimado de construção varia de acordo com o local, mas varia entre US$ 20 milhões e US$ 40 milhões. No deserto de Abu Dhabi, por exemplo, o custo será menor que num centro urbano na Califórnia. O investimento inicial é alto, mas, segundo o executivo, se paga com o tempo. O Hyperloop prevê a instalação de painéis solares e turbinas eólicas, além do aproveitamento da energia cinética e de frenagem, fazendo com que o sistema produza 30% a mais de energia que o necessário para o funcionamento.

 

As cápsulas são levitadas por eletromagnetismo e correm sobre um “trilho” magnético, sem a resistência do ar. Para Yvonne Cagle, astronauta da Nasa e embaixadora da Hyperloop, o projeto tem similaridades com sistemas de exploração espacial.- No espaço também temos o vácuo, da mesma forma que nos tubos. Existe uma relação entre a física da exploração espacial e a física do Hyperloop – comentou. – A diferença é que na exploração espacial os projetos são verticais, e no Hyperloop, horizontais.


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