Levantamento prevê que o país precisaria triplicar o aporte feito em 2020 para ficar entre os 20 países com melhor infraestrutura
O investimento em infraestrutura no Brasil caiu 5,4% no ano passado, para R$ 115,8 bilhões, segundo estimativas da consultoria Pezco e do movimento Infra2038. Em percentual do PIB, o volume de recursos aplicados nos setores de infraestrutura no ano passado foi de 1,55%. A taxa é a menor já registrada pelo país desde o início da série histórica disponibilizada pelo estudo, em 2000.
O infra2038 é um movimento iniciado em agosto de 2017 no encontro anual de líderes da Fundação Lemann e, desde então, acompanha o desenvolvimento do setor de infraestrutura.
Apesar dos dados ruins, a consultoria estima que a retomada da economia se estenderá para os aportes destinados ao segmento. Eles devem subir neste ano para R$ 137 bilhões em valores correntes, estimulados principalmente por investimentos privados, que foram favorecidos com o novo marco regulatório.
Se a previsão se concretizar, a infraestrutura voltaria a representar 1,69% do PIB do Brasil, a mesma taxa registrada em 2019, ainda assim a segunda pior da série histórica. Para 2022, a estimativa é a de que os investimentos cheguem a 1,99% do PIB, levemente superior ao patamar registrado em 2015 (1,95%).
O levantamento prevê que, para chegar entre os 20 países com melhor infraestrutura no ranking do Fórum Econômico Mundial em 2038, o Brasil precisaria chegar a uma cifra de investimento anual de R$ 339 bilhões, o que significaria praticamente triplicar o aporte feito em 2020. Para chegar à 20ª posição, o país precisaria subir 58 posições.
Mesmo em meio a esse cenário adverso, a avaliação dos idealizadores do levantamento é a de que a queda de investimentos em 2020 foi menor que a esperada.
— O mundo teve uma queda forte de investimento no setor de infraestrutura, de maneira desigual. Não existem dados ainda sobre isso, mas a percepção é de que o recuo no Brasil foi menor, o que demonstraria uma notável resiliência do setor no país — afirma o economista Frederico Turolla, coordenador do estudo.
O que impediu um recuo maior do investimento brasileiro no setor, segundo ele, foram os aportes em saneamento e logística de carga no país.
Em água e esgoto, houve uma queda de 14%, mas Turolla diz que ela poderia ser maior se não houvesse investimento privado viabilizado com recentes leilões. — Houve uma queda acima da do PIB, mas a retomada está sendo rápida em boa medida devido ao novo marco legal — salienta.
Em logística de carga, o especialista salienta aportes feitos nos segmentos ferroviário e hidroviário. No primeiro, o destaque é a negociação da antecipação das renovações de concessões de ferrovias, que preveem aportes adicionais por parte das concessionárias.
Para Lucas Costa, coordenador do infra2038, as perspectivas com os marcos regulatórios novos e a agenda de privatizações do governo federal são positivas. Ele ressalta o projeto de lei que viabiliza a privatização da Eletrobras, recentemente aprovado no Congresso.
Costa minimiza o impacto das mudanças feitas pelo legislativo que gerarão custos adicionais à competitividade do setor e aos consumidores e são calculados por especialistas em R$ 84 bilhões — Tivemos uma série de mudanças de marcos regulatórios que, apesar de toda a crise política que a gente vive, e das instabilidades econômicas do Brasil, continuaram com força, como a no setor de telecomunicações e saneamento. Há discussões no setor de gás e uma agenda de privatização da Eletrobras, que vai ser indutora de centenas de bilhões de investimentos — diz ele.
Para Costa, o caminho para expandir a infraestrutura no país passa por investimentos privados. — O Brasil não tem uma poupança interna suficiente para esse volume de investimentos que o país precisa — afirma.
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