Fernanda Veneziani: ‘ESG é um modelo de gestão’
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Ela é CEO da Terra Master Logística e da Terra Master Terminais. Cursou Direito, se especializou em Administração de Empresas e acumula uma vasta experiência no setor de transporte e comércio internacional. Além disso, seu grande interesse em assuntos ESG a levou a assumir a coordenação da Comissão de Sustentabilidade no SETCESP.

Como foi a sua trajetória no transporte?

Nasci praticamente no transporte. Meu pai era transportador e meu primeiro brinquedo foi um caminhão. Comecei a trabalhar com ele quando tinha 16 anos. Em um determinado momento da vida, meu pai teve um revés e fechou a empresa. Após cursar Direito fiquei três anos trabalhando como advogada. Mais tarde, trabalhei com comércio exterior até que, em 2013, tudo me levou para a Terra Master. Meu irmão havia fundado a empresa e me fez uma proposta de sociedade, aceitei e, desde então, estou com ele construindo o crescimento da transportadora.

Como a gente começou a ter uma visão mais voltada para o ESG, o Prêmio de Sustentabilidade encheu os meus olhos. Me associei ao SETCESP para poder participar do prêmio e concorri por dois anos seguidos. Nessas minhas duas participações fui estreitando o contato com o pessoal da comissão. Minha paixão bem evidente pela temática acabou se materializando em um convite para que eu ficasse na coordenação. Primeiro, assumi a vice-coordenação, e no ano seguinte, como coordenadora. A partir de então, venho trabalhando com toda equipe do SETCESP.

Qual a importância do Prêmio de Sustentabilidade para o setor de transporte rodoviário de cargas?

O Prêmio vem inspirando as transportadoras a criarem ações de sustentabilidade ou aperfeiçoarem as boas práticas já existentes. O SETCESP fala de sustentabilidade há mais de 10 anos, quando ninguém falava disso no transporte rodoviário de cargas. Para um setor tão visado como poluente, nós temos inspirado as empresas a tornarem as suas atividades mais positivas em termos de sustentabilidade através da Comissão e do Prêmio. Isso tem sido um estímulo à evolução e à profissionalização do setor.

Qual balanço você faz desta última edição do Prêmio de Sustentabilidade, que chegou à marca dos 10 anos?

O balanço geral é 100% positivo. As organizações buscam cada vez mais fazer coisas criativas e duradouras, que tenham um impacto significativo para os seus colaboradores e o entorno de sua região. O que faz do mundo um lugar melhor.

Nesta edição, ficou mais notório as transportadoras terem esse olhar que transcende as paredes das empresas. Muitas estão impactando não só o seu negócio, tornando-o mais sustentável em termos de gestão, mas também olhando para a comunidade, atingindo pessoas além de suas fronteiras.

Como é o trabalho desenvolvido na Comissão de Sustentabilidade?

A comissão é formada por quem tem interesse sobre o tema. São aproximadamente 100 participantes. Geralmente, fazemos reuniões online, que duram em torno de 1h30. Esse modelo virtual surgiu durante a pandemia e permanecemos fazendo assim. Este ano realizamos um encontro presencial no SETCESP durante dois dias com seminário e workshop. Também fizemos uma visita técnica em parceria com a COMJOVEM SP – isso é uma coisa que a gente faz bem, nos conectamos com outras comissões para podermos integrar os profissionais de empresas associadas ao sindicato.

Quais são os tipos de discussões propostas nas reuniões da comissão?

Em cada encontro, abordamos um tema específico, norteado pelos três pilares do ESG mais a segurança viária, que está intimamente ligada a nossa atividade.

Sempre há a exposição de um convidado que é um especialista no assunto e depois é aberto um momento para perguntas dos participantes e discussões. São informações ricas e novidades do mercado que poderão contribuir com cada uma das empresas. O ganho de conhecimento proposto pela comissão nos faz crescer bastante, isso reflete também no engajamento dos participantes no Prêmio de Sustentabilidade, embora uma coisa não seja vinculada a outra. Não precisa participar da comissão para concorrer a premiação e vice-versa.

Como uma empresa consegue integrar práticas ESG ao seu modelo de negócio e fazer com que isso impacte também positivamente em sua lucratividade?

ESG é um modelo de gestão. Obviamente que, quando a gente fala em sustentabilidade, não estamos pensando só na questão ambiental ou social, mas também na governança que reflete no financeiro. Costumo falar que precisamos fazer tudo o que está ao nosso alcance para melhorar a vidas das pessoas, e existe uma pessoa a qual sua rentabilidade garante a provisão para muitos, que é a pessoa jurídica. Não é que a empresa busque a sustentabilidade para ter lucro, mas obviamente toda a ação em uma organização precisa ser sustentável financeiramente.

Darei um exemplo prático: buscando a diminuição das emissões de CO₂ você pode investir em treinamentos para motoristas, para terem uma direção mais econômica. Ao longo de um período, você terá o retorno do investimento traduzido na economia de combustível. É benefício tanto o meio ambiente, quanto para a Governança, pensando no lado financeiro.

Na sua opinião, a sustentabilidade já influencia as decisões dos embarcadores na escolha de transportadoras?

Sim, isso já é realidade. Transportadoras que se relacionam com embarcadores listados em Bolsa de Valores já são cobradas a terem um relatório de emissões. Portanto, aquelas empresas do setor, que não dão ênfase à sustentabilidade, precisam se adequar até para não perderem em competitividade.

ESG é um dos requisitos avaliados por investidores e o mundo está olhando para isso. Mesmo porque as mudanças climáticas direcionam para essa urgência. O aumento de temperatura vem causando catástrofes como a que vivenciamos este ano no Rio Grande do Sul.

A responsabilidade corporativa também está relacionada à continuidade dos negócios. Que medidas de governança uma empresa poderia adotar para garantir a perenidade?

Falar em governança é discorrer sobre transparência, ética e compliance. São justamente esses os fundamentos capazes de trazer continuidade para uma empresa. Dentro destes parâmetros, você faz medições, planeja objetivos e busca uma estruturação para alcançá-los. São decisões tomadas sempre com responsabilidade para um resultado, que nem sempre será imediato, mas que sustentará a organização de forma sólida por anos.

Com quais incentivos ou subsídios o governo poderia apoiar as transportadoras na adoção de práticas sustentáveis?

Acho que se o governo fizesse aquilo que já é sua incumbência, conseguiríamos um avanço muito grande. No Brasil, há estradas muito precárias e mal sinalizadas. Se houvesse investimento nisso, já ajudaria muito.

Agora, nós estamos passando por uma era de eletrificação e de combustíveis alternativos – a gás GNV, Biometano e biodiesel. Já existem estes veículos no mercado, mas por preços que são distantes da realidade de muitas transportadoras. A maioria dos veículos de cargas, espalhados pelo país, tem uma idade muito avançada e nisso se dá o maior impacto ambiental que o setor produz. Por isso, deveria existir sim, um programa contínuo do governo para incentivar a renovação de frota.

Que recado final gostaria de deixar aos nossos leitores? 

Participem da comissão de sustentabilidade para entender o que estamos fazendo e o que é possível ainda de ser feito. Sinta-se incentivado a buscar aqui no SETCESP, números e informações de como fazer uma gestão sustentável dentro de sua empresa e crie projetos incríveis, como todos os que já foram reconhecidos através do Prêmio de Sustentabilidade. Espero que as empresas não parem de crescer na área do ESG, porque isso não é onda passageira, é uma conduta que veio para ficar e diz muito sobre a gestão da organização. Precisamos ver todos juntos trabalhando para um mundo melhor.


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