A sinalização dada pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, de que o governo federal poderia elevar a carga tributária sobre bens de consumo para cumprir a meta de superávit fiscal foi duramente criticada por empresários. Na visão de executivos entrevistados pelo Broadcast, a decisão do governo de buscar o equilíbrio fiscal a partir de maior arrecadação, e não do corte de despesas, está na contramão das necessidades do País em um momento de incertezas em relação ao ritmo da economia nacional.
"É como jogar um balde de gelo na confiança do investidor, do empresário e da população. Uma questão básica para se investir ou comprar é a confiança, e uma declaração desse nível piora as coisas", destacou o presidente da Lojas Renner, João Galló, em referência à entrevista concedida por Mantega ao jornal "O Globo". "É algo que está na contramão de onde o Brasil precisa ir. Precisamos de produtividade e eficiência", completou.
Na visão dos executivos, a carga tributária do Brasil já atingiu seu limite, por isso o governo deveria melhorar a situação das contas por meio de corte de custos e estímulos ao investimento. Tal medida poderia trazer, no futuro, divisas para a União, ajudando assim no objetivo de cumprir a meta de superávit fiscal. Para 2014, essa meta é de 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB).
"A carga tributária do Brasil já está no limite", disse o presidente do Grupo EcoRodovias, Marcelino Seras, durante evento realizado pelo jornal "Valor Econômico" na capital paulista. Apesar de se dizer um otimista com a economia do País em 2014, Seras reconhece o baixo crescimento do PIB nacional e alerta que o País precisa implementar reformas estruturantes e atacar a carência de infraestrutura logística para que seus produtos sejam competitivos no mercado internacional.
Mesmo que os impostos sejam dirigidos ao segmento de bens de consumo, o aumento tributário vai afetar negativamente a economia como um todo, alerta o diretor-presidente da WEG, Harry Schmelzer Jr. "Aumento de imposto impacta qualquer empresa do País porque tira o poder de compra do consumidor", disse. De acordo com ele, o governo precisa aumentar a produtividade da máquina pública. "O governo precisa crescer com produtividade", afirmou. "Aumento de tributos é maléfico a uma economia que quer crescer", completou o empresário.
O presidente do Itaú Unibanco, Roberto Setubal, alerta para a necessidade de o governo brasileiro ajustar suas contas, mas faz ponderações em relação à possibilidade de aumento da carga tributária. "Acho que temos sim que buscar um equilíbrio fiscal melhor, isso é algo absolutamente prioritário para o País. Mas aumentar impostos não é o ideal. O melhor é (alcançar o equilíbrio fiscal) via redução de gastos", salientou Setubal.
Para Laércio Cosentino, presidente da Totvs, o principal efeito do aumento da carga tributária é a diminuição dos investimentos por parte das empresas. Ele explica que a Totvs serve seus clientes com ferramentas que proporcionam maior produtividade e que o aumento de impostos compensa todo esse ganho de competitividade. "Toda vez que o cliente se torna mais competitivo, todo esse ganho se vai com um aumento de impostos", disse.
O êxito obtido pelo governo federal em setores beneficiados com a redução de impostos, como a indústria de informática, mostra que o caminho de aumento da carga tributária não é apropriado, relembra o presidente da Positivo Informática, Hélio Rotenberg. "Nosso setor é um setor bastante beneficiado por parte do governo federal, e acho que isso foi uma política que deu muito certo. O governo deveria aprender com o que aconteceu. Com a desoneração, arrecadamos mais do que arrecadávamos antes", lembrou o executivo, após elencar uma série de medidas federais de estímulo à indústria da informática.
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