Medida é válida até 14 de março; objetivo é conter aglomerações e frear aumento recorde de internações por covid-19 em UTIs de São Paulo
O governo de São Paulo anunciou nesta quarta-feira, 24, medidas mais restritivas para conter o avanço da covid-19 no Estado, que registra recorde de internações em UTI nesta semana. A principal determinação é o que a gestão João Doria (PSDB) chama de “toque de restrição”, que prevê a limitação da circulação de pessoas entre as 23 e as 5 horas em todos os municípios paulistas a partir desta sexta-feira, 26, até o dia 14 de março.
Segundo o governo estadual, a medida terá como foco a autuação de pessoas que promovam aglomerações, especialmente as de maior porte, com mais de 100 pessoas. Não há previsão de autuação de cidadãos que circularem em via pública individualmente, como no trajeto entre a residência e o trabalho, por exemplo.
A determinação não abrange o funcionamento de estabelecimentos e serviços considerados essenciais, que continuarão submetidos às regras dos faseamentos do Plano São Paulo. “Dado ao fato que chegamos a um recorde de internações por covid-19, o governo do Estado de São Paulo atende expressa recomendação do Comitê de Contingência”, disse Doria durante coletiva de imprensa.
A fiscalização será feita pelas Vigilâncias Sanitárias municipais e do Estado, com apoio da Polícia Militar e do Procon, que farão forças-tarefas. Além disso, o governo convocou a população a registrarem denúncias pelo telefone 0800 771 3541.
Diretor executivo do Procon, Fernando Capez disse que o responsável pelas festas e outros eventos que descumprirem a determinação serão autuados e terão de responder a um termo circunstanciado de persecução penal por infração de menor potencial ofensivo e submetidos a um processo administrativo no Procon, por “prática abusiva”, com multa de até R$ 10,2 milhões.
As medidas são completamentares ao Plano São Paulo, de flexibilização da quarentena e reabertura econômica. Hoje, quatro regiões do Estado (Barretos, Araraquara/São Carlos, Bauru e Presidente Prudente) estão na fase vermelha, de maiores restrições, enquanto a capital e o restante da Grande São Paulo estão na amarela.
Em São Paulo, a situação do interior é a que mais preocupa. Algumas cidades, como Araraquara, chegaram a determinar um lockdown para tentar reduzir a transmissão do vírus. São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, também anunciou na segunda-feira, 23, o toque de recolher entre 22 horas e 5 horas e adiou a volta às aulas presenciais, que seria em 1º de março.
Se tendência atual se mantiver, São Paulo pode ter esgotamento de leitos de UTI em três semanas
Coordenador do Centro de Contingência Contra a Covid-19, Paulo Menezes, declarou que, “se olharmos para o futuro, temos uma visão bastante preocupante”. Ele disse que, se a tendência atual se mantiver, pode haver esgotamento de leitos de UTI em três semanas.
A média diária de novas internações em UTI é de 1.678 na atual semana epidemiológica, que segue até o sábado, 27. Essa média enfrentou um aumento mais acelerado nos últimos 10 dias, que somou 660 hospitalizações em terapia intensiva a mais nesse período do que no anterior, chegando a 6.657 pacientes internados em leitos de UTI.
“É consequência provavelmente das aglomerações que ocorreram há cerca de 10 dias (a exemplo do carnaval), mas também pode haver outros fatores, como a circulação de variantes, como a de Manaus”, destacou Menezes.
Coordenador executivo do Centro de Contingência, João Gabbardo destacou que a medida é necessária para evitar que o Estado enfrenta uma situação à beira do colapso, como é visto no Amazonas e no sul do País, especialmente no Rio Grande do Sul. “É muito preocupante o que vem ocorrendo (em São Paulo)”, destacou.
Secretário estadual da Saúde, Jean Gorinchteyn, destacou que a situação atual da pandemia merece “atenção redobrada”, especialmente pelo registro do terceiro dia seguido de recorde histórico no número de internações por covid-19, ultrapassando o maior registrado de 2020, datada de julho. “Precisamos de maior rigor e intensidade nas medidas sanitárias.”
A taxa de ocupação de leitos de UTI é de 69% no Estado, média que é de 69,3% na Grande São Paulo. “Lembre-se, nas últimas semanas, a Grande São Paulo tinha margem maior de distanciamento do interior, hoje a Grande São Paulo supera as taxas de ocupação de terapia intensiva”, salientou.
Ao todo, o Estado tem 2.002.640 casos e 58.528 óbitos confirmados por coronavírus. Enquanto as internações aumentaram nas últimas três semanas, os registros de óbitos e casos tiveram uma leve queda, a que o governo atribui ao represamento do resultado de testes de covid-19, especialmente por causa do carnaval.
Na coletiva, Doria também atualizou o cronograma de entrega da Coronavac, vacina contra a covid-19 criada pela farmacêutica chinesa Sinovac e produzida no Brasil pelo Instituto Butantan. Segundo ele, nesta quarta-feira, foram enviadas 900 mil doses do imunizante ao Ministério da Saúde.
Na quinta-feira, 25, e na sexta-feira, 26, por sua vez, serão entregues 600 mil unidades por dia, mesmo número que será enviado no domingo, 28. Outra remessa de 600 mil doses está prevista para a terça-feira, 2, enquanto mais duas, de 500 mil e 600 mil, estão marcadas para os dias 4 e 5 de fevereiro.
Para os meses seguintes, a previsão é chegar às 46 milhões de doses até o fim de abril e, ainda, totalizar 100 milhões de vacinas até 30 de agosto. Segundo acrescentou Gorinchteyn, o recebimento de insumos da China está normalizado e, em breve, o Butantan passará a produzir 1 milhão de imunizantes diariamente.
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