Dois meses após a estrutura de um viaduto localizado na pista expressa da Marginal Pinheiros, perto do Parque Villa-Lobos, ceder 2 metros, 60 operários trabalham dia e noite nas obras de reforma da estrutura, segundo a Prefeitura de São Paulo.
O incidente, ocorrido na madrugada de 15 de novembro do ano passado, provocou a interrupção do tráfego em parte da importante via da capital e gerou transtornos, já que o local é rota de acesso à Rodovia Castello Branco.
Menos de 10 dias depois após o incidente, a Prefeitura contratou, de forma emergencial e por dispensa de licitação, a construtora JZ Engenharia e Comércio Ltda., na tentativa de recuperar a estrutura em um prazo de até seis meses –prazo máximo previsto para contratos de emergência.
A obra deverá custar R$ 30 milhões, valor quase cinco vezes o gasto pela Prefeitura de São Paulo com a manutenção de todos os viadutos e pontes da capital de janeiro de 2014 até 2018. As obras incluem o alargamento da cabeça dos pilares em todo viaduto e a reconstrução dos pilares afetados.
Segundo a Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana e Obras (Siurb), os 60 operários trabalham na reforma de duas vigas de apoio das extremidades e pontos danificados do viaduto por onde circulam os carros. Logo após o incidente, um pilar provisório foi construído ao lado do pilar original que cedeu, aliviando assim o peso da estrutura.
Nos últimos quatro anos, a Prefeitura desembolsou R$ 6,1 milhões com a recuperação e reforço desse tipo de estrutura, segundo levantamento feito pela GloboNews com base na Execução Orçamentária e Financeira da prefeitura, atualizada diariamente pela Secretaria Municipal da Fazenda.
De acordo com a pasta, entre 2014 e 2016, quando a prefeitura era administrada por Fernando Haddad (PT), nada foi gasto com o que o Orçamento municipal define como Recuperação e Reforço de Obras de Arte Especiais –OAE (obras de arte é como são chamadas estruturas como pontes e viadutos).
Em 2017, quando João Doria (PSDB) era prefeito, foram gastos R$ 1,5 milhão, enquanto em 2018 o gasto com a manutenção dos 185 viadutos e pontes da capital paulista foi de R$ 4,6 milhões.
Uma das primeiras ações da Siurb após o viaduto ceder foi a colocação de dez estacas, em um processo de estacamento para segurar a estrutura. Em seguida, foram colocados macacos hidráulicos para elevar o nível do viaduto, em um processo que só foi concluído em 2 de dezembro.
O viaduto passa por cima da Linha 9-Esmeralda da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM). Desde o incidente, os trens passam com velocidade reduzida em trecho de aproximadamente 400 metros para não desestabilizar ainda mais a estrutura.
Manutenção
Documentos obtidos pela Globonews mostram um impasse desde 1997 entre a Prefeitura de São Paulo e o Departamento de Estradas de Rodagem (DER), do governo do estado, sobre a posse do viaduto que cedeu. O imbróglio sobre a responsabilidade da via impediu a manutenção do viaduto por mais de 20 anos.
Além disso, desde 2012 os dois órgãos sabiam que o viaduto estava com a estrutura comprometida, mas não houve nenhuma decisão para se iniciar obras de recuperação. Um documento da Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana e Obras (Siurb) enviado para o DER diz que a pasta fez uma vistoria em abril de 2012 e constatou “a existência de anomalias que suscitam dúvidas quanto a sua integridade estrutural”.
Nova licitação
A Prefeitura tenta realizar, desde o ano passado, uma licitação para contratar uma empresa buscando laudos estruturais em 33 pontes e viadutos que merecem mais atenção na capital. Duas licitações chegaram a ser lançadas, mas a secretaria suspendeu os processos após questionamentos do Tribunal de Contas do Município de São Paulo, o qual exigia que as empresas fossem contratadas pelo menor preço.
Por ser um trabalho especializado, a pasta informou que, na ocasião, "não abriu mão de que os certames fossem realizados por preço e capacidade técnica".
Em 9 de novembro de 2018 a licitação foi reaberta, e aguardava parecer do Tribunal de Contas. O viaduto que cedeu não estava entre os 33 alvos de preocupação da Prefeitura, já que, segundo o prefeito Bruno Covas (PSDB), não havia indícios até então que o viaduto precisaria de reparos.
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