O fim da obrigatoriedade da apresentação da versão impressa dos documentos auxiliares da NF-e (DANFE) das mercadorias, do CT-e (DACTE) e do MDF-e (DAMDFE), que podem ser requeridos de forma totalmente eletrônica, embora represente uma importante vitória rumo à desburocratização do setor de transportes, precisa se tornar realidade em todo o país. “Agora precisamos atuar para que esses processos se tornem digitais em todo o país. Os outros estados precisam ratificar a decisão para que a digitalização se dissemine pelas empresas”, alerta Adauto Bentivegna Filho, assessor jurídico do Sindicato das Empresas de Transporte de Carga de São Paulo e região (SETCESP).
Bentivegna chama a atenção para o fato de que cada estado precisa baixar uma portaria, acatando a decisão que foi tomada pelo Conselho de Política Fazendária (Confaz), e entrou em vigor em janeiro deste ano, para as empresas de transportes adotarem o formato digital da documentação DANFE, DACTE e DAMDFE. “Cada estado vai precisar ratificar e baixar normas para que o contribuinte torne real a regra digital. A secretaria da fazenda do estado de São Paulo, por exemplo, autorizou em nível nacional a digitalização desses documentos. É preciso que as empresas acompanhem as secretarias das fazendas de seus estados para ajudar na implantação desses documentos no formato digital”, afirma o especialista.
Ele reconhece que esses processos de mudança para o digital devem ser mais morosos em empresas de porte médio. “As pequenas e médias empresas devem demorar mais um pouco para fazer a transição”, diz. Bentivegna lembra que os clientes ainda podem solicitar que os documentos ainda sejam impressos mesmo após a decisão do Confaz.
Um exemplo de empresa do setor de transportes que já está a todo vapor com a digitalização é a Braspress Transportes. A companhia anunciou, no mês passado, que já iria começar a retirada do papel gradualmente em suas operações e que o conhecimento eletrônico está disponível para download via site e QR Code. “Para se ter uma ideia, antes da adesão ao digital, a empresa tinha uma área física de 600 metros quadrados destinada a abrigar documentos”, revela Tayguara Helou, diretor de desenvolvimento de novos negócios da Braspress.
O executivo comemora as vantagens de adesão ao digital. “Os processos ficaram muito mais eficientes depois que adotamos a nota eletrônica”, afirma o executivo.
Como uma das pioneiras na adoção da digitalização entre as transportadoras, a Braspress está cuidadosamente impondo o novo formato digital nos processos. “No transporte, procuramos trabalhar caso a caso. Mas na medida em que o digital vem ganhando adesões, milhares de impressões deixarão de ser feitas gerando menos impacto ao meio ambiente”, observa.
Um dos precursores na luta do movimento “Logística sem papel”, no setor de transportes, o executivo lembra que, no Brasil, são emitidos 1,8 milhão de conhecimentos eletrônicos de transporte por mês e faz uma comparação dramática dos impactos dessa prática no meio ambiente. “O que significa que são impressos pelo menos 1,8 milhão de DACTEs, cada um deles em uma folha A4 que é descartada depois da entrega da mercadoria. A cada 24 mil folhas A4, uma árvore é derrubada. Se cada árvore ocupa aproximadamente 5 metros quadrados, estamos devastando o equivalente a 3,5 cidades de Curitiba por dia”, explica.
Digitalização reduz custos no transporte – De acordo com uma pesquisa feita pela empresa de auditoria e consultoria PWC, a digitalização logística é capaz de reduzir em 47% os custos em transporte até 2030, gerando grandes expectativas estratégicas para o transporte no modal rodoviário. Dados também demonstram que uma única mercadoria comprada no varejo físico ou no digital pode gerar até 16 documentos impressos até chegar ao seu destino, impactando em até 10% no faturamento de microempresas.
Outra empresa do setor de transportes que também aderiu à digitalização da documentação é a Anacirema, situada na cidade de Americana (SP). A transportadora, no entanto, se notabilizou no mercado por ter saído na frente na automatização de processos há anos. “Temos operações em que não trabalhamos com papel. Em que o cliente emite a nota e manda pelo e-mail. Nosso sistema faz o input no nosso RT e é gerada a validação do seguro. Então, se tem a autorização da Receita Federal e o nosso veículo é liberado. Ou seja, tudo é automatizado”, revela José Alberto Panzan, diretor da empresa.
Panzan admite, no entanto, que lida com clientes que ainda exigem a apresentação de canhotos da nota fiscal. “Aí tenho que ter papel”, diz.
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