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06 de Setembro de 2018 – 16h55 horas / CNT

Acidentes de trânsito não são acidentais, provoca o sociólogo Eduardo Biavati. Segundo o especialista em educação e segurança no trânsito, a fatalidade chega a ser previsível em nosso país. “É uma tragédia que se repete com regularidade, afetando um grupo conhecido e bem específico. São sempre jovens, homens e motociclistas. Entre sexta-feira e 8h de domingo, você pode esperar a maior concentração do número de mortos e feridos”, detalha.

 

Contribuem para essa estatística os fatores de sempre: o uso de álcool ao volante; a falta de equipamentos de proteção (cinto de segurança e capacete); e o excesso de velocidade. “A velocidade é um assunto tabu, que ainda não conseguimos encarar”, aponta Biavati. Às vésperas da Semana Nacional do Trânsito (de 18 a 25 de setembro), o sociólogo considera útil destacar as linhas de ação que, no seu entender, podem salvar vidas.

 

Antes de tudo, “a educação de trânsito deve estar a serviço da fiscalização”, defende. Conhecido pelo trabalho de conscientização entre adolescentes, ele descarta a eficácia de peças publicitárias “engraçadinhas”. “As campanhas têm de ser contundentes, não no sentido do sangue, mas na explicação da mecânica na hora da colisão – mostrar, em câmera lenta, o corpo da pessoa batendo e, no impacto, a ruptura dos órgãos internos”, enfatiza. Esse tipo de abordagem, diz ele, é popular principalmente entre os países de língua inglesa.

 

A força da mensagem, porém, só se complementa com políticas públicas de vigilância e punição. “Tem de haver a percepção de que a fiscalização está em todo lugar. Daí o sujeito não se arrisca a ser pego”, enfatiza. Dois casos lhe chamam a atenção – o da França e o da Espanha. Ambos os países tinham taxas de violência no trânsito muito próximas à do Brasil. Os espanhóis investiram em uma estratégia de longo prazo, baseada em educação, fiscalização e legislação. Ao cabo de 12 anos, a contar de 2000, conseguiram reduzir em 70% a mortalidade nas estradas.

 

“Já a França mudou a legislação em dois pontos que nós poderíamos aplicar desde já. Primeiro: passaram a medir a média da velocidade entre dois radares. Não adianta você frear só na hora que passa. Segundo: instalaram uma malha de mais de 5 mil radares nas rodovias. Aí, quando a pessoa chega ao pedágio, a multa tem de ser paga na hora, senão não segue viagem. Resultado: em dois anos, reduziram pela metade o número de mortos”, conta.

 

A fiscalização intensa inibe, principalmente, o abuso de álcool e a direção em alta velocidade. Com uma legislação dura, muitas blitze e uma comunicação eficiente, o Brasil conseguiu alterar a ideia de que uma “cervejinha não tem problema”. Quanto à velocidade, não é tão otimista. “O Brasil só vai sair da produção horrível, desumana, de violência sistêmica quando controlar a velocidade. E só há uma maneira de fazer isso: com equipamento. Sem radar, a gente vai continuar a enxugar gelo”, garante.

 

O sociólogo sublinha que as campanhas educativas, para cumprirem seu papel de alerta, devem ser refeitas periodicamente. “As gerações vão se sucedendo. As crianças crescem. Há um momento em que a história tem de ser recontada”, ensina. É com esse intuito, e em apoio à Semana Nacional do Trânsito, que o SEST SENAT preparou a campanha “Quem é você no trânsito?”. A ideia é chamar a atenção para as atitudes assumidas por cada um ao volante. Sempre podemos ser agentes da paz.

 

Multas severas

Os dados compilados no estudo “Acidentes rodoviários e a infraestrutura”, da CNT (Confederação Nacional do Transporte), confirmam a importância das variáveis vigilância e velocidade para a segurança no trânsito. Entre 2014 e 2015, o número de óbitos nas rodovias federais policiadas caiu de 8.234 para 6.865. A pesquisa apura que um dos motivos foi a aplicação de punições mais duras aos motoristas imprudentes – algumas multas foram reajustadas em até 900% no período. A combinação entre mais radares instalados e multas pesadas teria inibido os maus condutores.

 

Quanto à velocidade, o estudo fez um cruzamento entre qualidade de pavimento e qualidade de sinalização. Descobriu-se que a fatalidade recorde pertence às rodovias com péssima sinalização e ótimo pavimento – 18,9 mortes por 100 acidentes. “Os dados indicam que o índice de mortes é maior em rodovias cujo pavimento está bem classificado, porque os motoristas acabam desenvolvendo maior velocidade”, analisa o diretor-executivo da CNT, Bruno Batista.


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