Para a CNT, a comparação mostra que o aumento dos recursos ainda não é suficiente para estancar a contínua degradação do sistema rodoviário do país. “A situação é mais grave do que poderíamos imaginar. Fica evidente que estamos caminhando para um apagão logístico”, opina Bruno Batista, diretor executivo da entidade.
Batista avalia que, de uma forma ou de outra, o Brasil paga um alto preço pelas estradas ruins. Segundo ele, a atual condição das rodovias causa prejuízos que, se contabilizados, revelam um valor superior ao necessário em investimentos de recuperação. “As 8,5 mil mortes em rodovias federais em 2010 custaram R$ 14,1 bilhões ao país. Além disso, o transporte de carga fica 13% mais caro por causa das condições da pista”, elenca.
Mapeamento – Os pesquisadores percorreram 92.747 quilômetros de rodovias, quase a totalidade dos trechos pavimentados do Brasil, ao longo de 39 dias. Os critérios de avaliação abrangem as condições de pavimentação, sinalização e geometria dos trechos. A tabulação dos dados revela que mais da metade dos trechos pavimentados do Brasil (57,4%) apresentam algum tipo de problema, sendo que 26,9% estão em situação crítica.
O principal problema identificado pela pesquisa diz respeito à ampla presença de trechos não-duplicados. “Cerca de 90% da rede tem pista simples. Isso não seria um problema tão grande se houvesse suportes como acostamento e sinalização. Porém o somatório de problemas contribui para que as rodovias sejam muito perigosas”, explica Batista.
Contraditoriamente, a cobertura asfáltica foi um dos itens com melhor desempenho, apesar de ser um motivo recorrente de reclamação por parte dos motoristas. Em quase metade da distância percorrida (46,6%), o pavimento foi considerado ótimo, ante 2,8% de capeamento péssimo. A pesquisa também foi feita em estradas concessionadas, que respondem por 16,6% da malha pesquisada, onde a avaliação do pavimento tem um desempenho melhor.
Panorama regional – Entre as regiões do país repetiu-se um panorama histórico. O Sudeste concentra as melhores rodovias. Do total de 26.778 quilômetros avaliados na região, 24,6% são classificados como em ótimo estado e 30,7% como bom. Em seguida, pela ordem, aparecem Sul, Nordeste, Centro-Oeste e Norte, onde apenas 0,8% das estradas são ótimas e 23,2% são péssimas. A CNT avalia que este resultado é influenciado pela localização das concessões à iniciativa privada, concentradas justamente no eixo Sul-Sudeste.
62% dos trechos do Paraná estão em bom ou ótimo estado – O desempenho das estradas paranaenses ficou acima da média nacional no levantamento realizado pela Confederação Nacional do Transporte (CNT).
De acordo com os pesquisadores, 21,4% das rodovias do Paraná são ótimas e 40,5% foram consideradas boas. No outro extremo, as vias ruins ou péssimas respondem por 14,7% do total do estado, ante 26,9% da malha nacional. A pesquisa mostra que, ao menos nos últimos três anos, o Paraná aumentou suas boas avaliações e diminuiu as ruins.
Nelson Hanke Camargo, assessor de logística da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep), reconhece que o cenário local é superior ao panorama brasileiro. “Não temos situação de calamidade, mas alguns pontos com problemas maiores de tráfego”, diferencia.
Vale do Ribeira – Camargo avalia que o foco para investimentos no estado deve ser a melhoria dos trechos existentes. “De certa forma, estamos bem servidos de malha. A prioridade deve ser a duplicação do anel central. Além disso, temos situações no Vale do Ribeira e cercanias no Sul do estado em que ainda encontramos estradas sem pavimentação”, diz.
Obras como essas são essenciais para promover a integração entre as regiões do estado, avalia o consultor. “Principalmente o Vale do Ribeira, por ser uma região pobre, precisa estar mais conectada a Curitiba e ao Norte Pioneiro para promover o desenvolvimento local”, analisa.
Ao todo, a pesquisa da CNT avaliou 5.326 quilômetros de rodovias estaduais (PRs) e federais (BRs) com administração pública ou em concessão.
Vias privatizadas – Qualidade compensa pedágio. A diferença de qualidade entre as rodovias públicas e as sob concessão é o mais evidente entre os contrastes surgidos a partir da Pesquisa Rodovias 2011. A média das avaliações em estradas sob controle privado destoa do panorama geral do país. Além disso, o desempenho dessas vias puxa para cima o resultado das Regiões Sul e Sudeste, onde se encontram.
Nas estradas privatizadas, o asfaltamento foi considerado ótimo em 79,2% do trecho – o dobro da média brasileira (incluindo as próprias vias sob concessão). Não foram encontrados trechos péssimos, enquanto na avaliação geral estes representam 3,4% do total.
Entretanto, a geometria das estradas sob concessão ainda é razoável em 42,2% dos trechos pesquisados, maior inclusive que a média geral dentro desta faixa de avaliação. Apesar disso, as rotas privatizadas têm porcentagens maior de ótimo e bom para o quesito.
Entidade cobra mais recursos para o setor – Durante o lançamento do estudo, a Confederação Nacional dos Transportes (CNT) fez uma dura cobrança ao governo, exigindo que mais verbas sejam direcionadas ao setor. Atualmente, o Brasil gasta 0,3% do PIB em infraestrutura rodoviária, uma fatia muito menor comparada a de outros países emergentes, onde o investimento chega a 3,4% da riqueza produzida ao ano.
A entidade sugere que o governo facilite o estabelecimento de Parcerias Público-Privadas para injetar mais recursos no setor. “Se o governo não consegue fazer os investimentos, que forneça a ferramenta institucional para que a iniciativa privada o faça”, disse Bruno Batista, diretor executivo da CNT, que calcula ser necessários investir R$ 450 bilhões em infraestrutura de transportes, dos quais R$ 200 bilhões devem ser destinados às rodovias.
Já o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) projeta a necessidade de R$ 344 bilhões para as rodovias nos próximos cinco anos, cerca de R$ 70 bilhões ao ano.
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