Em um contexto em que mudanças climáticas afetam de forma drástica o dia a dia de milhões de pessoas, a preocupação social e ambiental tem se tornado, cada vez mais, assunto prioritário para muitas empresas.
O comprometimento com a adoção de práticas sustentáveis traz benefícios para o meio ambiente, mas também serve de estímulo para que companhias sejam capazes de operar no longo prazo, considerando os desafios impostos pela natureza e pela sociedade.
Tornar uma empresa sustentável, portanto, é uma questão de sobrevivência. Um negócio sustentável detém uma visão de longo prazo e busca o equilíbrio entre a obtenção de lucro imediato e o impacto causado de forma contínua pelas operações, o que vai da geração de empregos às emissões de carbono na atmosfera.
De acordo com José Eduardo Silva, analista de projetos no fundo de impacto Estímulo, os benefícios em ter uma empresa sustentável começam pelo aspecto financeiro, já que uma atuação ambientalmente responsável permite o uso mais eficiente de recursos.
Ele afirma que há uma crença negativa — e incorreta — em relação aos custos reais para manter um negócio amigável ao meio ambiente, o que afasta as empresas de pequeno porte de um posicionamento sustentável.
“As pessoas acreditam que é mais caro ter uma operação sustentável, quando na verdade os custos tendem a cair muito quando se tem práticas bem pensadas e medidas de economia de recursos”, diz.
“O que fazemos é justamente mostrar que existe a chance de reduzir alguns custos fixos e despesas com soluções pensadas de forma mais sustentável e que isso é possível para todo tipo de empresa”, conclui.
À frente do Programa Estímulo Verde, projeto do fundo que auxilia pequenas e médias a adotarem práticas mais sustentáveis e, em troca, receberem uma diminuição da taxa de juros em linhas de financiamento, José Eduardo conecta PMEs a dezenas de empresas parceiras.
Elas prestam serviços que vão de gestão de resíduos e geração de energia limpa, ao desperdício de alimentos, uso de embalagens sustentáveis e compensação de carbono. Até o momento, 21 empresas já contrataram serviços por meio do programa.
Além da redução de custos, uma preocupação real das empresas de pequeno e médio porte, o especialista destaca também o ganho reputacional como resultado de um posicionamento mais sustentável. “Do ponto de vista de reputação, há ganhos proporcionais no caso de empresas e marcas que se dispõem a ajudar o planeta”, pontua.
“É muito bem visto e há um ganho para o negócio e para o cliente, que costuma ser bem próximo dos pequenos negócios”, afirma.
Para tornar a sua empresa mais sustentável, algumas medidas simples e que exigem pequenas mudanças podem ser adotadas. O primeiro passo, segundo José Eduardo, está na substituição de matérias-primas de uso único por itens reciclados e recicláveis, como no caso de plásticos e papéis.
“O uso excessivo desses materiais faz parte da realidade de muitos restaurantes e lanchonetes que utilizam embalagens descartáveis e até mesmo pequenos escritórios. Então substituir esses itens por recicláveis faz toda diferença”, explica.
Para empresas que já se encontram em uma fase mais madura em suas jornadas rumo à sustentabilidade, outras medidas também se tornam aliadas nessa transformação. Um exemplo está na gestão de resíduos, ou seja, a atenção não apenas à coleta, mas também ao descarte adequado do lixo.
“Uma empresa consciente sobre a importância da gestão de resíduos certamente pode verificar se os esforços de separação e coleta que ela faz internamente também estão sendo respeitados no descarte. Conhecer o destino do lixo é fundamental, e hoje é possível contratar empresas para isso”, explica.
Em outra frente, a própria coleta seletiva e reciclagem, com a separação de orgânicos e recicláveis, também auxilia nesse processo.
A compensação de emissões de carbono também é uma alternativa para tornar um negócio mais sustentável, pois permite que empresas possam investir em projetos “verdes” como forma de neutralizar suas emissões de gases poluentes na atmosfera.
“Entendemos que ainda é algo complexo e que gera muitas dúvidas em muita gente e empresas de diferentes tamanhos e setores. Mas qualquer projeto pode ser uma vitrine para atrair mais clientes preocupados com o meio ambiente e sem dúvida esse é o futuro em termos de sustentabilidade para as empresas”, diz José Eduardo.
Para além da compensação de carbono, especialistas acreditam que a visão de longo prazo no que diz respeito à atuação sustentável de empresas também esbarra na geração de energia limpa.
Tema ainda pouco explorado por empresas de pequeno e médio porte, a mudança da matriz energética para fontes limpas pode ser uma porta de entrada para muitos negócios interessados em se tornarem mais sustentáveis, explica Rafael Zanatta, diretor comercial da Bow-e.
A companhia atende oito mil clientes entre empresas e pessoas físicas com uma solução de energia solar por assinatura em oito estados.
“O mercado de energia é complicado de ser entendido e gera algumas inseguranças. Mas quando você tira essas amarras e inseguranças dos empreendedores, a mudança para fontes limpas faz todo sentido, pois ele sempre vai buscar o que é melhor para o negócio, e a energia limpa é isso: o melhor para o negócio e para o planeta”, diz.
Segundo Zanatta, o mercado regulado de energia ainda é novo, e caminha a lentos passos para se tornar mais conhecido e acessível à população. “Escolher a própria energia e suas fontes de geração já é uma prática comum à indústria há pelo menos 30 anos”, diz.
“A Bow-e surge para ampliar essa mentalidade para a realidade das pequenas e médias empresas, e também consumidores comuns. Mas quando falamos de energia, é uma mudança que vai acontecendo aos poucos”, afirma.
O atributo sustentável — já que esta energia vem de fontes 100% renováveis — e o custo reduzido na contratação do serviço por assinatura são os argumentos que motivam as empresas a mudar sua fonte geradora de energia.
A energia solar por assinatura surge como alternativa também para empresas que rejeitam a ideia de pagar um alto preço para a instalação de painéis solares em suas dependências ou, ainda, que não sabem como migrar para uma fonte energética limpa.
“Preferir fontes limpas, como painéis solares, ainda pode ser motivo de custo alto para empreendedores, mas queremos mostrar que há soluções para evitar isso e que hoje já é possível ter uma energia limpa e sem amarras”, diz Zanatta.
Foto: divulgação CNN Brasil
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