Pedágio perde efeito e pode ficar mais caro
A trajetória dos cinco anos de pedágio urbano em Londres revela que houve uma sensível diminuição no número de carros no centro da cidade e uma queda brusca nos congestionamentos logo depois da implementação.
Mas, com o passar dos anos, motivos sem relação direta com o volume de veículos começam a levar os engarrafamentos para níveis de seis anos atrás.
Os números do mais recente relatório sobre o tema, elaborado pela companhia de transportes londrina, mostram que atualmente entram no centro da cidade 21% menos veículos do que antes da cobrança da taxa. O nível de engarrafamento na região caiu 30% há cinco anos, mas agora é só 8% menor do que em 2002.
Em 2006 e 2007, houve um grande aumento do congestionamento na área central, apesar de o fluxo de veículos ter continuado o mesmo. Há vários motivos. Primeiro, maior número de ônibus e obras para melhorar a segurança da região acabaram por diminuir o número de acidentes, mas reduziram também a capacidade das vias. Resultado: mais engarrafamentos, mesmo com menos carros. Segundo, o ambiente melhor para pedestres e bicicletas.
R$ 85 por dia
No entanto, a discussão do momento na cidade não é sobre a cobrança do pedágio, que é vista como positiva pela maioria da população, mas sobre o preço que deve ser pago.
O prefeito, Ken Livingstone, lançou como um dos pilares de sua campanha à reeleição a cobrança de 25 libras (R$ 85) por dia de veículos mais poluentes. Hoje, todos os que entram no centro das 7h às 18 pagam 8 libras por dia (R$ 27). A entrada é livre à noite, em feriados e aos finais de semana.
Entram 150 mil carros por dia na área em que o pedágio é cobrado, dos quais em torno de 30 mil estariam sujeitos ao novo valor de 25 libras.
Um dos principais fatores para o sucesso da medida é a possibilidade de usar o transporte público para substituir o automóvel. Passam na região 11 linhas de metrô que levam o cidadão a praticamente todos os pontos da cidade, além de dezenas de linhas de ônibus. Nos pontos, existem mapas com o trajeto dos ônibus, os prováveis horários e a estimada duração da viagem.
Manhattan avalia rodízio e restrição a táxi
Como São Paulo, a cidade que nunca dorme nos Estados Unidos também tenta se livrar de um dos maiores motivos de sua insônia: o trânsito barulhento e pouco fluente que transforma em uma aventura passar por certas regiões na hora do rush.
O pesadelo em Nova York é mais brando que o dos paulistanos: a ilha tem planta quase toda quadriculada, o que ajuda a escoar o trânsito por todas as vias. Ainda assim, há ruas congestionadas, em regiões como Times Square e Wall Street, de desenho mais tortuoso.
Um punhado de propostas está na mesa do prefeito Michael Bloomberg e da Comissão de Mitigação do Trânsito de Nova York. Uma delas, o rodízio de veículos, tem como base o estudo de casos de São Paulo e outras cidades da América Latina. Em Manhattan, contudo, o revezamento de automóveis seria menos restritivo, tirando o carro de circulação a cada dez dias (placa terminada em 3 não pode circular nos dias 3, 13 e 23, e assim por diante).
Outra idéia, com grande número de adeptos, é proibir os tradicionais táxis amarelos de parar para quem acenar em qualquer lugar da rua. Táxis, então, só no ponto, e parados toda vez que não estiver a espera de clientes.
Há quem defenda ainda criar regras diferenciadas nas áreas mais problemáticas, como zona azul mais cara (dos atuais US$ 1 a US$ 1,50 por hora para US$ 4) e pedágio de US$ 8.
Programa tenta priorizar pedestres
Para tentar resolver o problema de trânsito em Buenos Aires, cuja frota chega a 660 mil carros, a Secretaria de Desenvolvimento Urbano lançou na semana passada o programa Prioridade Pedestre. Algumas das principais ruas do centro serão restritas a pedestres. Veículos só de residentes, clientes de estacionamentos e serviços de emergência.
Em outras, como a avenida de Maio, que liga o Congresso à praça de Maio, o acesso será limitado a ônibus e táxis. Também haverá faixas exclusivas para ônibus e vias estreitas do centro em que a circulação de coletivos será suspensa.
Para desestimular as pessoas a irem de carro para o centro, serão construídos grandes estacionamentos subterrâneos ligados ao sistema de transporte público e antes do acesso à região central.
Com um centro cheio de ruas estreitas e calçadas idem, o plano para Buenos Aires também prevê a ampliação de calçadas nas ruas em que o trânsito de carros será restrito.
As mudanças devem começar no mês que vem e terminar em 2009. Donos de comércios ficaram animados com a possibilidade de atrair turistas. Outros reclamam do tanto que terão de caminhar para pegar um ônibus. “Se eles vão ter que andar mais, também vão ganhar em qualidade ambiental“, disse à Folha o subsecretário de Projetos Urbanos Arquitetônicos e Infra-Estrutura da cidade, Jorge Sábato.
Rodízio parcial cai por decisão da Justiça
Após nove dias em São Paulo no início do mês, a funcionária pública venezuelana Belkis Rodríguez, 23, voltou a Caracas quase elogiando o trânsito paulistano. “Lá [em São Paulo] não é tão catastrófico, o trânsito flui melhor. Além disso, somos toscos para respeitar os semáforos.“
Moradora da cidade Guatire, a 40 km do trabalho, Rodríguez é uma das milhões de vítimas do inferno de carros da capital venezuelana, alimentado por um aumento vertiginoso da frota, pela falta de políticas públicas e pela gasolina quase gratuita -o litro custa R$ 0,07-, pela confusa estrutura administrativa e pela imprudência dos motoristas.
Às 4h30 da manhã, Rodríguez já está no terminal de ônibus, onde é obrigada a esperar entre 45 minutos e uma hora na fila até conseguir embarcar rumo a Caracas. A viagem dura em média 1h15 para percorrer os 40 km até a estação de metrô mais próxima, a de Petare. Num dia de trânsito normal, Rodríguez chega ao trabalho ás 7h. Sem trânsito, o percurso de carro é de 25 minutos, já que o trajeto é feito em pistas expressas.
Todos apontam o aumento vertiginoso da frota como principal motivo da deterioração do trânsito caraquenho. Sob o “socialismo do século 21“ de Hugo Chávez, as vendas do talvez maior símbolo capitalista aumentaram 81% no ano passado em relação a 2006. Beneficiado pela bonança petroleira e pelas taxas de juros negativas (menores do que a inflação), o volume de vendas é tão alto que a espera por um veículo novo pode levar vários meses, e um carro usado pode sair 20% mais caro do que um zero quilômetro por causa da pronta entrega.
Mas o trânsito caótico também deve muito à confusa administração da cidade de 4,5 milhões, fatiada entre cinco munícipios com prefeitos eleitos e ainda um governador do Distrito Federal.
A partir do ano passado, os dois prefeitos antichavistas, que controlam as áreas mais ricas da cidade e fora da região central, implantaram unilateralmente um sistema de rodízio de veículos -batizado de “pico y placa“.
As duas cidades, porém, foram obrigadas a suspender o “pico y placa“ por causa de decisões judiciais. A última grande avenida em Caracas foi inaugurada há 33 anos.
(Publicado em 23/3/2008)
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