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24 de Março de 2008 – 10h00 horas / O Estado de S.Paulo
Grandes caminhões de entrega de mercadorias não poderão mais utilizar certas vias importantes para realizar o serviço. A decisão de proibir carga e descarga em vias movimentadas tem como objetivo melhorar o trânsito de São Paulo.
As Ruas Vergueiro e Domingos de Morais, na zona sul da capital, são duas das vias que sofrerão mudanças. Hoje, existem horários específicos para descarregar mercadorias, mas, por causa do constante atraso de transportes, não são respeitados. A partir de segunda-feira, a Secretaria Municipal de Transportes inicia o processo para a proibição de carga e descarga de veículos em todos os horários.
Localizada na Rua Domingos de Morais, a pequena loja Gaijin Doces recebe produtos durante todo o dia. Mesmo utilizando pequenos veículos, o comércio não possui alternativas para a realização do serviço. “Será ruim para os entregadores“, comentou o funcionário Alexandre Pereira.
Paulo Armando, gerente do estabelecimento Esfiha Chic, na Rua Vergueiro, recebia um carregamento de bebidas às 18h30, horário proibido. O comerciante culpou o trânsito pelo atraso da entrega e disse não haver solução para o problema do trânsito na cidade. “Muitas coisas precisam mudar. Medidas como essa não são suficientes“, afirmou.
Serão as transportadoras e, principalmente, os carregadores os mais prejudicados pela mudança. “Não sei como farão para entregar, mas precisamos e vamos continuar recebendo os produtos“, afirmou Paulo Armando.
“A Vergueiro é a pior rua para a realização de nosso trabalho“, declarou Tiago Antônio da Silva, motorista de uma empresa de transporte de mercadorias. “Não temos lugar adequado para estacionar e, mesmo assim, somos obrigados a fazer a entrega. Já tenho 16 pontos na minha carteira de motorista“, comentou.
Além da Rua Vergueiro e da Rua Domingos de Morais, outras 11 ruas e avenidas de grande circulação de veículos terão carga e descarga proibidas integralmente ou restrição de horários para sua realização.
A Secretaria Municipal de Transportes pretende sinalizar as vias e alertar a população sobre as novas normas em até 20 dias, quando as medidas entrarão em vigor.
Prefeitura anuncia planos incompletos para o trânsito
Após seis recordes de congestionamentos em três semanas, ontem foram detalhadas as ações para melhorar o trânsito de São Paulo. Entre as medidas estão 19 pontos de obras em corredores de ônibus, a maior parte nas zonas leste e sul, e a restrição do estacionamento em 17 ruas. Mas, na prática, os planos sobre estacionamento e carga e descarga de caminhões pesados não estão finalizados. A Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) terá 20 dias para concluir em que trechos e horários haverá restrições e fazer e sinalizar as mudanças.
“É fácil apontar a rua (que terá restrição), mas é difícil prever a conseqüência para o trânsito“, justificou o secretário municipal de Transportes, Alexandre de Moraes. Uma das vias que estão sem definição é a Rua Domingos de Morais, na Vila Mariana. No plano, a secretaria apenas diz que é preciso rever o horário de estacionamento da Zona Azul, sem apontar de fato a alteração.
Mesmo com alguns pontos a serem finalizados, Moraes é otimista e diz acreditar que o paulistano sentirá melhora no trânsito ainda este semestre. “As obras têm prazo de 90 dias para serem concluídas. Mas tenho certeza de que nossos engenheiros vão fazer na metade do tempo.“ Quatro das intervenções estão em andamento, como a colocação de tachões na Rua Clélia, na Lapa, para separar a faixa para os ônibus. Outras 11 adequações devem ser concluídas até julho, como mudanças no cruzamento da Avenida Ipiranga com a Rua da Consolação, para evitar que os ônibus cruzem de uma faixa para outra.
E não pára por aí. Moraes informou ontem que outros 40 pontos de estrangulamento do trânsito estão em análise. O aumento da fiscalização, com a contratação de 320 funcionários ainda este semestre; a retirada de 167 lombadas e valetas e a recuperação de sete corredores de ônibus também estão nos planos da secretaria.
O impacto real das medidas não foi calculado nem pelo secretário nem pelo presidente da CET, Roberto Scaringella. “Não podemos fazer um exercício de futurologia, dizendo quantos minutos e quantos quilômetros em um mês isso vai acarretar“, declarou Moraes.
Também foram divulgadas 175 rotas alternativas aos corredores já congestionados. Os novos percursos, porém, foram traçados sobre vias já muito movimentadas, como a Avenida 23 de Maio, apontada como alternativa à Avenida 9 de Julho no sentido centro-bairro. A Alameda Santos também é considerada opção à Avenida Paulista, no sentido Paraíso. “Ninguém promete que a rota alternativa estará livre. O objetivo é mostrar outros caminhos e distribuir melhor os veículos“, explicou o secretário.
SEM MAQUIAGEM
Se os trajetos alternativos forem adotados, o índice de congestionamento da Companhia de Engenharia de Tráfego pode realmente cair. Isso porque parte das vias apontadas como alternativas não integra a base de 820 quilômetros monitorados pela companhia e, portanto, não será medida. “Não estamos maquiando“, afirmou Scaringella. Ele não soube dizer quantos trajetos alternativos estão fora do monitoramento.
Resultados, só em quatro meses
Os usuários de carro e de ônibus não devem sentir, pelo menos nos próximos quatro meses, os efeitos das medidas anunciadas na quarta-feira, avaliam especialistas em trânsito e transporte.
Eric Ferreira, do Instituto de Energia e Meio Ambiente, avalia que a política da Prefeitura para o setor é dúbia. “O governo precisa decidir se vai priorizar o transporte coletivo ou o carro. Porque não adianta anunciar um pacote, na tentativa de aumentar a velocidade dos ônibus nos corredores, e ao mesmo tempo abrir oito licitações para a construção de viadutos“, disse Ferreira.
Luiz Célio Bottura, ex-presidente da Dersa no governo Franco Montoro (1983-1987), acredita que os resultados serão pífios. “A SPTrans só anunciou medidas que já devem ser tomadas no dia-a-dia. Daqui a pouco, o governo vai trocar lâmpada de semáforo e chamar a imprensa para anunciar“, criticou o especialista.
Jurandir Fernandes, ex-secretário dos Transportes Metropolitanos e ex-presidente do Detran, considera que não haverá solução “mágica“ para melhorar a situação do trânsito nos próximos quatro meses, apesar de considerar boas as medidas.

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