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27 de Fevereiro de 2014 – 11h55 horas / G1 | Para: CBN Foz

Estacionados lado a lado, os caminhões-tanque, carregados com quase 1 milhão de litros de etanol, estão sem destino definido

 

Um posto de combustíveis em Porto Feliz (SP) virou local de acampamento para 14 caminhonheiros, que há quase um mês não sabem o que fazer com a carga de etanol que foi rejeitada por uma distribuidora. Estacionados lado a lado, os caminhões-tanque, carregados com quase 1 milhão de litros de etanol, estão sem destino definido.
 

O material deveria ter sido descarregado em Guarulhos (SP), no dia 30 de janeiro, mas a carga foi recusada. De acordo com o caminhoneiro Marcos Rogério Estopa, na hora da entrada do produto, durante a avaliação, foi constatado que o produto não estava apto para ser colocado no mercado. "Fizeram um laudo de reprovação e assinaram a carta de próprio punho, devolvendo a mercadoria para a usina e tomamos rumo, como quem volta para o Mato Grosso do Sul. Nos pediram para que aguardassemos no pátio de um posto e desde então aqui estamos. Sem definição, sem posição da usina", explica.
 

Inialmente, sem uma posição sobre qual rumo tomar, parte dos caminhoneiros passou 15 dias em um terreno em Guarulhos, sem banheiro e cozinha. Depois, foram para o posto de combustíveis em Porto Feliz. Os funcionários do local se comoveram com a situação dos caminhoneiros e passaram a ajudá-los. "Eles chegaram, conversaram e explicaram a situação, que precisavam de um lugar para ficar até que resolvessem a situação deles. Eles chegaram no dia primeiro de fevereiro, disseram que era coisa de cinco dias para resolver e estão há quase um mês aqui", conta o gerente do posto, Jackson Rodrigo da Silva.
 

A rotina no posto de combustíveis para os caminhoneiros não tem sido fácil. Como recebem comissão por viagem, estão há quase um mês sem poder trabalhar e todas as despesas para se manter estão saindo dos bolsos deles. "A gente tem família, estamos longe dela, com vários problemas para resolver em casa. Hoje faz 26 dias que saímos de casa, então fica difícil", desaba o caminhoneiro José Mandré.
 

O caminhoneiro Sérgio Ramires também tem sofrido muito, no aguardo de uma posição da usina sobre o que fazer com o etanol. "É caminhão parado, daí acaba a bateria. Você fica longe da família, vai acabando o dinheiro e você com conta pra pagar. A família fica te cobrando, a esposa pergunta quando você vem e não dá pra saber, porque não temos a posição de nada".
 

Enquanto aguardam, as cabines dos caminhões viraram quarto, depósito de alimentos e até local para secar roupas. A dificuldade aumenta na hora de fazer as refeições. Nos primeiros dias, os caminhoneiros preparavam os alimentos próximo aos caminhões, mas o posto cedeu um pequeno cômodo e desde então eles cozinham no local. "Mas aqui só dá pra fazer a comida e come lá fora, porque não cabe todo mundo aqui", conta o caminhoneiro Adálio Ferreira.
 

Por telefone, a Rodoviário Matsuda, que contratou as empresas dos caminhões, informou que tenta uma negociação com a Biosev, usina que enviou o etanol, e com a distribuidora que recusou a carga. Porém, a Biosev disse que mantém relação comercial apenas com a transportadora Matsuda e não com os caminhoneiros.
 

Segundo a usina, o etanol entregue por ela foi previamente testado e estava dentro dos padrões de qualidade necessários para a comercialização e que, a carga foi recusada por apresentar características fora dos padrões, bem diferentes daquelas comprovadas no teste que a empresa realizou antes de seguir até a distribuidora.
 

Sobre a suspeita de adulteração no produto durante o transporte, os caminhoneiros se revoltam. "Se adulterasse esse combustível seriam 22 pais de família fora da lei. Não tem como, seria uma quadrilha muito grande", desabafa, em tom de brincadeira, o caminhoneiro Marcos.
 

A assessoria da Biosev, que enviou o etanol, informou que está tomando as medidas legais contra as empresas contratadas por ela. Por enquanto, ainda não há prazo para os caminhoneiros irem embora.


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