O esforço de exportação das empresas brasileiras impulsionado pela crise econômica fez o Brasil melhorar sua posição na classificação da complexidade econômica das exportações. O país avançou nesse ranking do 50º lugar para o 42º lugar de 2012 para 2016. No mesmo período, porém, a China passou da 22ª para a 17ª posição.
Apesar da melhora dos dois países no período, a evolução foi diversa. O Brasil ocupava o 28º lugar em 1999. Desde então, sofreu redução contínua no Índice de Complexidade Econômica (ICE) dos embarques. A melhora só veio após 2014. O valor do índice brasileiro, porém, era melhor em 2012 (0,162) do que em 2016 (-0,084). Ou seja, a evolução no ranking nesses quatro anos não aconteceu devido à maior complexidade econômica brasileira. Os demais países tiveram queda mais expressiva no índice no período, o que resultou na melhora da posição relativa do Brasil.
Na China, apesar de ligeiras oscilações, houve avanço contínuo do índice de complexidade a partir de 1999, quando o país ocupava o 45 º lugar. Ou seja, à época, quase 20 posições abaixo da do Brasil. Entre 2012 e 2016, o índice da China manteve-se igual (1,01). Também como reflexo da piora de desempenho dos demais países, e estabilidade levou a China ao avanço de posições no ranking.
Os dados estão em estudo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) feito com base nos indicadores do Atlas de Complexidade Econômica elaborado por pesquisadores da Universidade de Harvard e do Instituto Tecnológico de Massachusetts. O levantamento do Iedi cruzou os dados do atlas com as informações disponíveis de comércio internacional por produto.
A complexidade das exportações, explica Rafael Cagnin, economista do Iedi, é considerado determinante para o crescimento de longo prazo dos países. "Alguns conjuntos de produtos no núcleo do tecido produtivo são essenciais para dinamizar outras atividades produtivas, por conta de seus efeitos de encadeamento e transbordamento, ou seja, por estabelecerem mais conexões com o restante das atividades econômicas", diz o estudo. Nesse grupo de produtos, aponta Cagnin, estão os produtos eletrônicos, máquinas, materiais para construção, químicos e produtos relacionados à saúde.
Também como resultado do esforço de exportação, aponta o estudo, o embarque brasileiro de manufaturados cresceu 1,8% no biênio 2015/2016, enquanto as exportações mundiais desses bens recuaram na mesma intensidade. O desempenho não tirou o Brasil de uma posição marginal no ranking da exportação de manufaturados, mas mesmo assim o país avançou do 31º lugar para o 30º, entre 2015 e 2016. A fatia das exportações brasileiras passou de 0,59% para 0,61% do comércio internacional.
O estudo do Iedi também analisou as exportações brasileiras e chinesas para os países dos blocos Mercosul, Aladi e Nafta, levando em consideração o índice de complexidade do produto.
Os dados mostram que num contexto de desaceleração econômica na América Latina, associada à queda de preços das commodities e baixo dinamismo do comércio internacional, o Brasil procurou se adaptar ao avanço da concorrência chinesa. Isso se deu não somente com base no embarque de commodities, que são produtos de baixa complexidade, bem como de bens da indústria de máquinas, em especial do setor automotivo, com índices de complexidade mais elevados, aproveitando-se de acordos comerciais selados com alguns países dessas regiões.
Isso ajuda a entender, destaca Cagnin, por que de 2012 a 2015 há uma interrupção da tendência de aumento da especialização dos embarques brasileiros em produtos pouco dinâmicos, o que se detecta entre 2008 e 2012. Além da recessão doméstica, que fez o setor produtivo voltar os olhos para fora, também contribuíram para isso a apreciação da moeda chinesa e a depreciação do real frente ao dólar.
Ao mesmo tempo em que o Brasil também passou a apostar na exportação de produtos mais complexos, porém, a China destacou-se com produtos ainda mais sofisticados, sobretudo eletrônicos, resultado que também pode ser associado à assinatura de acordos comerciais de países latino-americanos com países externos à região.
Os dados mostram que o Brasil avançou, mas frente à concorrência chinesa os avanços permanecem limitados. "A estratégia para os próximos anos é aumentar as exportações de manufaturados de maior complexidade." Para Cagnin, é preciso adotar uma política industrial e tecnológica de estímulo à produção, não somente de produtos com índice elevado de complexidade, como peças e acessórios para veículos, dentre outros que puxaram o embarque brasileiro de manufaturados.
"O melhor caminho é também aproveitar as competências que já existem e caminhar para bens similares a esses já produzidos", avalia o economista. É também importante, aponta o estudo, participar de acordos comerciais que envolvam produtos de maior complexidade, principalmente naquelas regiões em que o Brasil já tem laços comerciais estreitos em manufaturados.
Considerando a balança comercial em 2012 e 2016, aponta o estudo, o Brasil teve superávit nos dois períodos -US$ 19,4 bilhões em 2012 e US$ 47,7 bilhões em 2016. Em 2016, o saldo positivo foi resultado de um recuo maior das importações do que das exportações.
Olhando a composição das exportações brasileiras, destaca o estudo, os produtos minerais, os alimentos e produtos vegetais representavam cerca de 50% da pauta de exportação brasileira em 2012. Em 2016, esses três grupos mantiveram sua importância, mas a participação de produtos de transporte e de origem animal avançou, de 8,2% para 11% e de 6,3% para 7,6%, respectivamente.
Na pauta de exportação chinesa, nos dois períodos analisados, predominavam os produtos manufaturados e mais elaborados, com destaque para máquinas, produtos da indústria têxtil e metais.
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