O Bom Dia Brasil foi para a estrada ouvir as reclamações dos motoristas que pagam pedágio, mas encontram rodovias cheias de problemas. A equipe percorreu três importantes rodovias: a BR-116, 153 e 040, começando em Brasília, passando pelo Paraná, voltando para o interior de São Paulo, em São José do Rio Preto, e depois até divisa com Minas Gerais. Foram 2.700 km.
Duas foram privatizadas há seis anos, no governo Lula e, ano passado um trecho da BR-040 foi incluído em uma nova etapa de privatização no governo Dilma. Apesar disso, o que as equipes encontraram foram muitos problemas.
O que todas essas rodovias têm em comum? Muitas histórias foram encontradas nas estradas. A BR-040 teve um trecho privatizado no ano passado em um novo modelo que vai exigir mais investimento das empresas. Isso foi feito justamente para evitar os problemas encontrados nas estradas concedidas no governo Lula, que privatizou oito trechos – que têm pedágio baixo e obras que se arrastam há anos. São pistas sem duplicação, perigosas e congestionadas.
“São cinco, seis acidentes por dia”, diz uma mulher.
“A pessoa fica esperando ali até que a paciência acaba”, afirma um caminhoneiro.
“Mais cortam grama e pinta faixa do que faz outras coisas”, ressalta um motorista.
A BR-116, no Paraná, é uma rodovia federal, privatizada, com pedágio, mas a estrada continua cheia de problemas. Um trecho deveria estar pronto desde 2012, mas o trabalho ainda não terminou. A pista é simples e não há previsão de quando ela vai ser duplicada.
“Você vê o pessoal trabalhando um aqui e outro daqui a 50 km. Quando eles terminam essa parte aqui já está estragando do outro lado”, conta o caminhoneiro Wellington da Silva.
O preço do pedágio é baixo, mas o serviço comparado a outras rodovias também privatizadas: “Às vezes pode ser mais barato, mas o que acontece: não tem assistência da estrada”, ressalta o caminhoneiro Alexandre Schiezari.
As obras fecharam retornos, desviaram caminhos, e a demora para concluir as mudanças irrita os moradores das cidades próximas. “Dá uns 20 km a mais eu tenho que andar para entrar aqui na vila”, conta a auxiliar operacional Priscila Selenko.
Para contar como é o cotidiano de quem tem que passar pela estrada a equipe do Bom Dia Brasil pegou uma carona com o Zulmiro de Carvalho. Ele vai mostrar como é a viagem do ponto de vista de quem está na boleia do caminhão.
“Agora são 10h30. Não é hora de ter trânsito. E está o maior engarrafamento. É todo dia assim, tanto para ir quanto para voltar”, conta o caminhoneiro.
O chefe do Zulmiro que o diga. São mais de 140 caminhões todos os dias na rua transportando quatro mil toneladas por mês. “Um custo maior de manutenção para o transportador, gerando isso no final sempre um aumento no preço do produto”, afirma o representante do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas no Estado do Paraná Gilberto Cantu.
A Agência Nacional de Transportes Terrestres é responsável por fiscalizar a rodovia e checar se a concessionária está cumprindo o contrato. Sem saber que estava sendo filmado, um funcionário de um posto de fiscalização na BR-116 admitiu: “Telefone, carro a gente tem. Pessoal é pouca gente, mas a gente faz o que dá”, contou.
Uma ponte caiu em 2005. Foi reconstruída pelo DNIT, mas anos mais tarde voltou a apresentar problemas técnicos. Está interditada desde 2012 e não há previsão de quando ela vai poder voltar a ser usada. Por isso, hoje, todo o tráfego passa por outra ponte. São cerca de 20 mil veículos por dia nos dois sentidos, a maioria caminhões.
“O compartilhamento, em uma rodovia como essa que liga todo o brasil ao sul e liga inclusive o Mercosul ao restante do Brasil, se torna tão perigoso. No máximo que eles conseguem chegar muitas vezes é 5, 10 km por hora, e isso vem facilitar muito o roubo de carga”, afirma o policial rodoviário federal Wilson Martines.
Segundo a Policia Rodoviária Federal, as quadrilhas atacam os caminhões mais pesados e saqueiam a carga em estradas de terra, antes da chegada da polícia. “A araucária era um dos pontos de observação dos assaltantes. Passavam o rádio ou telefone, comunicavam o restante da quadrilha que se evadia pelo meio do mato”, conta o inspetor da PRF Pedro Diniz.
Os usuários reclamam que, apesar da cobrança, as empresas não fazem muitos investimentos nas estradas. Em um trecho da Transbrasiliana, por exemplo, uma das quatro maiores rodovias do país, a pista ainda é simples não foi duplicada. Essa sempre foi a principal reivindicação de quem usa esta rodovia.
“Você não tem onde retornar, é tudo pista simples”, afirma o caminhoneiro Paulo Paulineli.
A falta de um retorno mais seguro provoca engarrafamentos todo fim de tarde nesse trecho da BR-153. “18h e como é que está o trânsito: parado”, diz um homem.
“A população de São José do Rio Preto é colocada em risco todos os dias. É esse tráfego pesado, a confluência perigosa em nível”, afirma a vice-presidente do ‘Duplica Já’, Sônia Gomes.
A comunidade pressionou as autoridades e a obra vai ser antecipada. Deve começar ainda esse ano, mas com recursos do Governo Federal e não da concessionária.
“O motorista parou na BR-153 para eu atravessar, mas ele parou de um lado e os outros não querem parar. É um trânsito intenso”, conta Paulo Paulineli.
José Luiz Apoloni é gerente de uma das maiores transportadoras do noroeste de São Paulo. Ele diz que esse modelo de concessão como da BR-153 traz uma série de problemas. “Problema de trânsito porque as estradas têm acostamentos mal conservados. Os caminhões hoje você sai no acostamento já sai tombando. Então o custo fica muito alto para a gente”, afirma.
“Você gasta um tempo maior de repente para cobrir um mesmo percurso. Isso tudo no fim gera o que? Improdutividade do veículo, um cansaço maior do profissional”, afirma o presidente da Associação de Transporte de Carga e Logística José Hélio Fernandes.
Depois de percorrer quase 2.700 km para conferir o estado das rodovias privatizadas há seis anos a próxima parada é em Minas Gerais, onde o governo busca um novo modelo de concessão. Na BR-040 a privatização tem outras regras. A concessionária vai ter que duplicar toda a rodovia em no máximo cinco anos, e não pode cobrar pedágio logo depois de pegar a estrada, antes tem que investir.
“O que nós temos que fazer agora é ampliar a fiscalização para que o contrato seja seguido não em termos de garantia para o investidor como garantia para o usuário”, afirma o professor Paulo Resende.
“Em 2008, a ANTT não tinha a quantidade de fiscais necessários. Hoje a ANTT já tem uma quantidade maior de fiscais, e junto com a evolução do modelo a agência reguladora também está evoluindo”, afirma a diretora da ANTT Natália Marcassa.
Quem vive o duro dia-a-dia da estrada espera que o novo modelo alcance enfim o equilíbrio: um pedágio justo e uma estrada confortável e segura. “Eu conheci caminhão, estava no sangue até hoje. Não deu vontade de sair mais não”, diz um caminhoneiro.
Em nota, o grupo Arteris, responsável pela BR-116, disse que teve que rever o projeto de duplicação a pedido da prefeitura de Curitiba. A conclusão está prevista para daqui a dois anos.
Já a concessionária Transbrasiliana, que assumiu a BR-153, afirmou que o atraso nas obras ocorreram por fatores que não dependem da empresa e que os investimentos previstos em novo acordo com a ANTT serão cumpridos rigorosamente.
A ANTT esclareceu que todas as concessionárias foram multadas e que este ano a agência contratou 60 fiscais e está negociando novas contratações.
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