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27 de Março de 2017 – 04h38 horas / Estado de Minas

O que esperar de uma rodovia construída no início da década de 1960, quando seus 26,5 quilômetros recebiam cerca de 1,5 mil veículos por dia, e na qual, atualmente, circula em certos trechos uma frota em torno de 160 mil automóveis? Para os usuários do Anel Rodoviário de Belo Horizonte, uma das respostas é transtorno. Não só pelas retenções nas proximidades de viadutos e pontilhões, locais em que o número das faixas de rolamento se reduz de três para duas, como por causa do crescente número de acidentes envolvendo caminhões ou carretas. O mais recente ocorreu ontem, e o enredo de horas de retenções, congestionamentos em outras regiões da cidade e irritação de motoristas se repetiu. E não tem data para acabar.

 

Balanço da Polícia Militar Rodoviária mostra que a quantidade de desastres envolvendo veículos de carga na rodovia que corta BH subiu 30% no confronto entre o primeiro bimestre de 2017 (52 ocorrências) e o mesmo período de 2016 (40 registros). Dependendo do acidente, como tombamento do veículo de carga, o trânsito precisa ser interrompido total ou parcialmente, o que exige maior paciência dos demais condutores. Neste ano, o fluxo no Anel foi suspenso por horas em pelo menos seis ocasiões.

 

A última foi no km 470, altura do Bairro Padre Eustáquio (Região Noroeste), por volta das 5h10, onde uma carreta abarrotada de minério tombou na pista em direção a Vitória. Porém, o trânsito foi parcialmente interditado em ambos os sentidos, pois parte da carga foi derramada numa das faixas para o Rio de Janeiro. O fluxo voltou ao normal aproximadamente às 11h, quase seis horas depois. O motorista teve ferimentos leves.

 

O motivo do acidente ainda não foi divulgado pela perícia, mas a PM acredita, em princípio, em falha humana. “Há fiscalização 24 horas nas pistas. Realizamos campanhas, contudo, o Anel é uma via que necessita de grandes obras (de revitalização). Foi construído para uma frota com menos caminhões e de veículos mais lentos. Hoje, há trechos em que transitam 160 mil veículos”, disse o tenente Barreiros, da PM Rodoviária.

 

O Anel, embora fiscalizado pela Polícia Militar Rodoviária, é um trecho de responsabilidade do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), do governo federal. Até o fechamento desta edição, o Dnit não informou quando o trecho será revitalizado, com o alargamento das pistas nas entradas de viadutos e pontilhões.

 

Outro problema é a profundidade das canaletas às margens do asfalto, o que pode levar ao tombamento de veículos de carga. Mas boa parte dos acidentes na rodovia se deve também à imprudência de condutores, inclusive de veículos menores, que abusam da velocidade. Pedestres, por sua vez, arriscam a vida em travessias, muitas vezes feitas bem debaixo de passarelas.

 

Resultado: o balanço geral de acidentes no local cresceu 15% do primeiro bimestre de 2016 (176 ocorrências) em relação a igual período deste ano (202 registros). O número de feridos, na mesma base de comparação, saltou de 123 vítimas para 138. O de mortos, por sua vez, caiu de 10 para 7.

 

Especialistas defendem intervenções urgentes no Anel Rodoviário e maior seriedade do poder público em questões relacionadas ao trecho. Para José Aparecido Ribeiro, consultor em assuntos urbanos e especialista em mobilidade, é necessário um comitê de crise competente, para agir rapidamente em casos como o de ontem. Em relação ao tempo em que as pistas ficam fechadas quando ocorrem acidentes envolvendo carretas, ele acredita que falta sinergia entre instituições.

 

“Perde-se muito tempo na articulação e na logística para enfrentar as crises. Os agentes envolvidos – Polícia Militar, BHTrans, concessionária, Corpo de Bombeiros etc. – precisam simular acidentes possíveis e ter um protocolo para agir como em qualquer país desenvolvido, em que cada um saiba o que fazer no menor tempo possível. O comitê de crise precisa funcionar para atender a toda a Região Metropolitana de Belo Horizonte. Hoje, percebem-se agentes batendo cabeça e pouca liderança. As equipes precisam ficar de prontidão em locais estratégicos, bem equipadas e articuladas”, defendeu José Ribeiro.

 

O especialista vai além: “Todos precisam ter como compromisso, além da segurança, a consciência do que significa fechar uma via dessas para a cidade inteira. Falta compromisso com o trânsito das cidades. As prefeituras da Grande BH também precisam participar e se preparar para respostas às crises”.

 

Como ficou?
Revitalização sem data prevista

 

O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit) informa que iniciou o chamado Estudo de Viabilidade Técnica, Econômica e Ambiental de parte do Anel Rodoviário, mas não informa prazo para a conclusão. A obra de revitalização se arrasta desde julho de 2012, quando o Dnit firmou termo de compromisso com o então Departamento de Estradas de Rodagem de Minas (DER-MG) para a elaboração de projeto de engenharia. Em 2014, o DER entregou a minuta do projeto, mas, segundo o Dnit, “contendo inadequações técnicas” e “fora dos padrões e normas” (exigidos pela instituição federal), o que teria se repetido em outras ocasiões. O prazo do convênio terminou e a instituição federal informou ter iniciado, por isso, o atual estudo de viabilidade. Já o departamento estadual argumenta que o convênio em fase de encerramento e prestação de contas priorizava apenas interseções do Anel com três avenidas: Ivaí, Pedro II e Amazonas. Ainda segundo o órgão, o governo do estado bancou anteprojeto no ano passado, referente a toda a extensão da rodovia, que foi encaminhado ao Dnit. Nenhum dos dois departamentos, entretanto, faz qualquer previsão para solução dos problemas na rodovia.


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