A pista expressa da Marginal do Pinheiros deverá ser liberada até maio do ano que vem, após uma obra de recuperação do pilar do viaduto que rompeu em 15 de novembro. Segundo o prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), os reparos devem custar cerca de R$ 30 milhões. A interdição ainda complica o trânsito. Nesta segunda-feira, 17, a Prefeitura deu as primeiras explicações sobre as causas do acidente, e citou “defeitos ocultos” na estrutura.
A liberação da pista se dará com uma obra de “remediação” do viaduto, nas palavras do prefeito. Os engenheiros farão a reconstrução do pilar rompido e obras de reforço no chamado “tabuleiro”, a área central. Segundo Covas, essa foi a opção mais rápida e barata para a recuperação da estrutura e liberação da via, “com a mesma segurança” que a alternativa estudada, que seria a demolição total do viaduto e sua reconstrução.
“A demolição custaria pelos menos R$ 70 milhões e demoraria, em um céu de brigadeiro, de dois anos e meio a três anos”, disse o secretário municipal de Infraestrutura Urbana e Obras, Victor Aly. Além disso, colocar a estrutura abaixo demandaria longos períodos de paralisação da Linha 9-Esmeralda da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), que passa sob o viaduto.
O anúncio da solução ocorre 15 dias após a análises nas estruturas, que foi feita na sequência de um processo chamado “alteamento” – quando os técnicos devolveram o tabuleiro para sua posição original, com o uso de macacos hidráulicos, e verificaram se a reconstrução das bases poderia ser feita ou se a estrutura tinha sido comprometida e teria de ser demolida.
No tabuleiro, a análise detectou pontos com fissuras de até 5 milímetros, que podem se reparadas. Assim, haverá injeção de concreto e resina e instalação de placas de fibra de carbono em alguns pontos. Já o pilar de sustentação será reconstruído com estruturas laterais adicionais, mais largas.
Há dúvidas, entre os procuradores do Município, se a obra deveria ser feita pela Prefeitura ou se a responsabilidade deveria ser do Departamento de Estradas de Rodagem (DER), órgão ligado ao governo do Estado de São Paulo. Covas afirmou que, como há emergência em liberar a pista e o plano de ação já está traçado, a discussão sobre eventuais ressarcimentos só começará após o término da obra, tocada pela empresa JZ Engenharia.
Causas
O secretário Aly afirmou que o rompimento do pilar de sustentação, que fez o tabuleiro cair 2 metros, ocorreu por causa de “fadiga no concreto” e por “defeitos ocultos imperceptíveis em uma vistoria visual”. Ao citar a vistoria visual, Aly voltou a defender o mutirão de vistorias em outros 185 viadutos – que a Prefeitura vem costurando com o Tribunal de Contas do Município (TCM) -, para que esse processo seja feito de forma emergencial, sem licitação.
Segundo a Prefeitura, até sexta-feira as primeiras 31 empresas serão chamadas para inspecionar 33 viadutos tidos como os mais urgentes, a um custo de até R$ 11,5 milhões. O cronograma divide as vistorias em três etapas e, na última, também serão feitos laudos sobre a qualidade dos túneis. A capital passará a ter também um Grupo de Gestão e Manutenção de Obras de Arte (pontes e viadutos), vinculado à Secretaria de Obras, para acompanhar essas estruturas a longo prazo.
O promotor público Marcelo Milani, que abriu inquérito para apurar o acidente, levantou dúvidas sobre as informações repassadas pela Prefeitura. Ao Estado, disse ter anexado à investigação um laudo feito em 2012 que já atestaria o risco iminente de acidentes. Ele disse não saber como a Prefeitura estaria estimando em R$ 30 milhões o valor dos serviços de recuperação, uma vez que o projeto executivo ainda não estaria pronto.
“Além disso, eles estão usando recursos das multas de trânsito para as obras, o que é vedado por decisão judicial”, disse Milani. Suas investigações ainda estão em andamento. A gestão Covas informou que está repassando todas as informações do caso ao Ministério Público.
Impactos
Para o engenheiro de trânsito Luiz Célio Bottura, ex-ombudsman da CET, o fator positivo é que os próximos dois meses são os que registram menor trânsito, por causa das férias de verão. “Mas vamos ter um baque depois do carnaval”.
Para ele, a população acabou se adaptando ao trânsito, buscando rotas e horários alternativos. Ele defendeu reforço do transporte público e mais sinalização, para que a área seja evitada pelos motoristas. Falou ainda que a Prefeitura poderia buscar outras opções, como tornar mais caro o preço dos estacionamentos na região afetada, para induzir o uso de transporte público e o compartilhamento de automóveis.
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