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04 de Outubro de 2018 – 11h40 horas / Luiz Marins

Sei de muitos brasileiros, jovens e de meia idade, que decepcionados com a corrupção, com a violência, com a crise, têm pensado seriamente em deixar o Brasil.

 

Gostaria de pedir a reflexão menos ingênua e mais crítica desses conterrâneos e por isso escrevo esta mensagem.

 

Escrevo da Europa, onde estou a trabalho.

 

A grande verdade é que não há lugar no mundo onde a vida seja fácil, a não ser para os milionários que não precisam trabalhar e, que, portanto, podem viver em qualquer país com conforto e relativa segurança. Os problemas e as dificuldades, mudam de nome e de endereço dependendo do ponto de vista de quem fala e da ótica pela qual se analisa a realidade do mundo de hoje.

 

Num artigo publicado no blog do Estadão em 15/08/2018, Ruth Manus, que reside em Portugal, escreve: “…vejo, muito assustada, a quantidade de brasileiros que está criando uma perigosíssima ilusão quanto à vida em Portugal.

 

“Ocorre que – surpresa- Portugal não é o paraíso. Ouço um monte de gente dizer que vai pedir demissão, vender tudo e tentar vida nova em Lisboa com o discurso de ‘não preciso de muito, só uma casa, um empreguinho e para o resto vou usar serviço público’. Então, vamos lá, isso é uma ilusão do início ao fim.

 

“Quanto ao sistema público (nem vou entrar na conversa óbvia de ter que explicar que nem todos têm direito a utilizá-lo), posso dizer que 90% dos amigos portugueses que tenho têm plano de saúde privado. E seus filhos estudam em escolas privadas. E não, não é baratinho. E que mesmo nas escolas públicas quase sempre é preciso pagar um valor mensal. Quando olho para um centro de saúde público de Portugal, me pergunto se a elite brasileira estaria disposta a viver assim. Tenho certeza absoluta de que não. Quem está habituado à desigualdade social tem sérias dificuldades para abrir mão dos seus privilégios.

 

“…vejo pessoas achando que vão chegar aqui e facilmente conseguir trabalho como advogado, engenheiro, publicitário, administrador. Surpresa: não vão. E se, a duras penas, conseguirem, os salários serão muitíssimo mais baixos do que se imagina.
“Mais um detalhe relevante: brasileiros são bem-vindos a Portugal até a página dois.

 

Gostam da nossa música, da nossa alegria, da nossa caipirinha. Mas não gostam tanto assim dos nossos diplomas e frequentemente não acham que somos bons o bastante para ocupar certos cargos, frequentar certos lugares ou para namorar certas pessoas.

 

Somos frutos de uma ex-colônia. Somos América Latina. Somos Hemisfério Sul. E isso fica evidente na forma como somos tratados.

 

“A sensação de segurança realmente existe por aqui. Andar de ônibus à noite … sem medo é mesmo um luxo. Mas vale dizer: furtaram o celular de diversos conhecidos aqui. Deixamos nosso carro na rua de casa e no dia seguinte encontramos os vidros quebrados e não sobrou nem a cadeirinha da minha enteada para contar história. O paraíso não existe”.

 

O artigo de Ruth Manus é perfeito e completo e vale ser lido na íntegra. Peço desculpas à autora por citá-la tão longamente, mas o que ela escreveu é exatamente o que constato não só em Portugal, mas em quase todos os países do mundo chamado desenvolvido, para onde os brasileiros querem ir. Ocorre que muitos brasileiros que se aventuraram a sair do Brasil, com raras exceções, não falam a verdade a seus amigos e parentes no Brasil e as agruras que passam, fingindo viver num paraíso.

 

Tenho conversado com jovens europeus que não vêm futuro por aqui. Tudo já está feito e pronto. Para se abrir um novo negócio é preciso que alguém morra ou desista, me disse um jovem inglês, desejoso de ir para o “novo mundo” onde as oportunidades existem, a vida é menos aborrecida, as pessoas mais alegres, a vida tem mais vida. Os índices de suicídio entre jovens europeus e escandinavos atestam essa triste realidade.

 

Quando argumentei com eles sobre a violência no Brasil, jovens espanhóis, franceses e italianos me falaram do terrorismo islâmico, da falta de perspectiva, da população estagnada, de um mundo velho e envelhecido onde o novo é quase um pecado e a solidão vem sendo tratada como um alarmante problema de saúde pública.

 

É óbvio que o Brasil não é um paraíso e todos nós sabemos disso. O que quero pedir é que você e seus amigos não se deixem levar pela emoção ingênua de que ele (o paraíso) existe aqui na terra.

 

O que ouvi dos jovens europeus desejosos de migar para o Brasil é que no Brasil o futuro é maior que o passado e que, por mais difícil que possa ser, viver olhando para o futuro é melhor do que viver um passado que se foi.

 

Daqui a poucos dias teremos eleições. Antes de pensar em deixar o Brasil, pense em deixar seu voto consciente e decisivo para mudar o nosso Brasil.

 

Pense nisso. Sucesso!


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