A Bolsa já tinha começado o pregão da quarta (17), com a expectativa de fechar o dia na casa dos 80 mil pontos, mas foi além. O grande fluxo de investimentos estrangeiros e o bom momento dos mercados internacionais fizeram o Ibovespa, principal índice do mercado, encerrar a sessão em 81.189 pontos, um novo patamar histórico. O dólar à vista teve leve queda, de 0,42%, e fechou cotado a R$ 3,2136.
Analistas ouvidos pelo Estado consideram que mesmo com as altas consecutivas, a Bolsa não vive uma bolha e ainda há espaço para crescer mais. Eles lembram que o mercado sempre tenta olhar para frente e os investidores já previam um movimento de recuperação da economia do país a partir de 2017.
No ano passado, o Ibovespa também bateu recordes e fechou o ano com uma valorização de quase 27%, subindo mais que o dobro do CDI. Desde o início deste ano a Bolsa acumula valorização de 6,27%.
Sobre os recordes consecutivos da Bolsa, Alexandre Espírito Santo, economista da Órama e professor do Ibmec-RJ, avalia que não existe uma única explicação, mas várias que se complementam nesse contexto. A principal delas, diz, é que a liquidez internacional é forte e o dinheiro ainda está barato.
“Os mercados lá fora estão tendo o melhor janeiro em muitos anos, com as Bolsas batendo recordes dos Estados Unidos à China”, ressalta, lembrando que os investidores não percebem que esse cenário possa mudar no curto prazo.
O mercado internacional vive, portanto, um momento positivo, com excesso de recursos e investidores com maior apetite ao risco. Baratas desde a crise, as empresas brasileiras têm um grande potencial de atração de investimentos estrangeiros.
Álvaro Bandeira, economista-chefe da ModalMais, complementa que o apetite pelo risco ganha força também com a cena global em recuperação. “Há uma recuperação de lucratividade de empresas no mundo inteiro. E, no início de ano, os investidores buscam arriscar um pouco mais porque dá tempo de corrigir depois. Isso justifica a propensão maior ao risco”.
É preciso considerar que os juros estão em um patamar historicamente baixo e a nossa Bolsa está mais competitiva, analisa o especialista em Finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Joelson Sampaio. “O investidor estrangeiro vê a economia se recuperando ao mesmo tempo em que a nossa Bolsa continua barata. O Ibovespa está em um patamar elevado em reais, mas em dólar está na casa dos 24 mil pontos, muito atrativa para quem olha do exterior”.
Otimismo
No fim da semana passada, após o rebaixamento da nota de risco do país pela agência S&P Global, justificada sobretudo pela não aprovação da reforma da Previdência e pelo agravamento das contas públicas, havia uma preocupação de que o mercado brasileiro seria tomado pelo pessimismo, mas isso não ocorreu.
Na opinião dos analistas, há um reconhecimento de que os problemas fiscais e previdenciários do Brasil são preocupantes e que a conta deve ficar para o próximo presidente, mas o mercado já havia reagido ao atraso da votação da reforma da Previdência, caindo em novembro enquanto o resto do mundo subiu, e precificado a dificuldade de aprovação do texto este ano.
“A questão da nota soberana está atrelada à agenda fiscal e nesse caso todos aceitamos que a reforma da Previdência virá só em 2019. Mesmo com toda a incerteza política deste ano, há, no fundo, uma expectativa de que um candidato reformista seguirá com essa agenda e o mercado acaba ficando tranquilo”, diz o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale.
Fernando Marcondes, analista do Grupo GGR, também pondera que, apesar de o Ibovespa vir batendo recordes, o patamar de 81 mil pontos é nominal. “É preciso lembrar que a inflação dos últimos dez anos é de aproximadamente 72%. Assim, o recorde real seria próximo dos 130 mil pontos”.
No pregão dessa quarta (17), a valorização da Bolsa foi acentuada pelo rali das ações da Petrobrás, que eram favorecidas pela aproximação do petróleo tipo Brent dos US$ 70 por barril, patamar capaz de gerar receita suficiente para reduzir a alavancagem da petroleira a níveis melhores.
Os recursos vindos do exterior encontraram ambiente tranquilo com uma agenda doméstica esvaziada pelo recesso parlamentar. As blue chips – ações consideradas de primeira linha –, tiveram valorização relevante. Petrobrás ON e PN subiram 3,62% (R$ 19,47) e 4,02% (R$ 18,36), respectivamente. No setor financeiro, Bradesco PN subiu 2,5% (R$ 36,89) e Banco do Brasil ON, 2,37% (R$ 35,42).
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