Após o sexto mês seguido de queda nas vendas no mercado brasileiro, os fabricantes de veículos reunidos na Anfavea fizeram coro com os concessionários e importadores, que no início da semana já haviam demonstrado surpresa com o mau desempenho em agosto, mês que para muitos deveria marcar o início da recuperação dos negócios. “Ficou abaixo de nossa expectativa”, disse o presidente da associação, Luiz Moan, em reunião com jornalistas na quinta-feira, 4. Mesmo assim, o dirigente evita o tom negativo e manteve inalterada a projeção da entidade, que prevê para este ano declínio de 5,4% nos emplacamentos deste ano em comparação com 2013, para 3,56 milhões de automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus.
De janeiro a agosto, com 2,23 milhões de emplacamentos de veículos novos, a retração já alcança 9,7%. Portanto, para atingir a projeção da Anfavea seria necessário vender 1,33 milhão de unidades nos quatro meses restantes para o fim de 2014, uma média de 332,5 mil por mês. Este resultado mensal não foi atingido nenhuma vez este ano e, em 2013, foram apenas três meses com desempenho superior a 330 mil unidades. Portanto, a estimativa da associação dos fabricantes parece cada vez mais distante da realidade. Mesmo que seja mantida média em torno de 300 mil/mês, o ano fecharia com recuo de 9% a 10%.
“Sabemos que é um desafio grande (atingir a projeção de 3,56 milhões de veículos)”, admite Moan. “Não vamos ficar mudando as previsões a cada mês. Eventualmente faremos isso em novembro. Preferimos esperar para ver a reação dos consumidores em relação à maior oferta de crédito que deve começar a ocorrer apenas agora”, enfatizou, referindo-se às medidas de redução de depósitos compulsórios e de provisões de risco anunciadas pelo Banco Central no fim de agosto para irrigar o mercado de financiamento de carros (leia aqui). “Mas ainda falta uma medida, a que premia os bons pagadores, que aguardamos que seja enviada em breve ao Congresso”, lembrou, em relação à simplificação da retomada pelas instituições financeiras de veículos com prestações em atraso.
Nesse cenário que pode trazer alguma recuperação para o fraco desempenho deste ano, Moan quer evitar a influência causada por projeções negativas. Ele cita como exemplo as estimativas para o PIB brasileiro que, segundo levantamento do BC na pesquisa Focus, há cerca de um ano apontavam para crescimento acima de 3% em 2014 e, desde então, vêm caindo para atingir menos de 1% na última apuração de agosto. “Todos passaram a ter percepções ruins e quando isso acontece essas expectativas vão derrubando o mercado”, avalia.
Moan prefere jogar as expectativas mais adiante: “Nosso setor tem convicção que o potencial do País é muito grande, por isso estamos investindo em fábricas e produtos”, disse, referindo-se aos mais de R$ 75 bilhões em investimentos prometidos pelos fabricantes de veículos até 2018, segundo cálculos da Anfavea.
SINAIS DE MELHORA
O inesperado mau desempenho de agosto – que com 272,5 mil veículos emplacados ficou 7,6% abaixo do resultado de julho e foi 17,2% inferior ao mesmo mês de 2013 – foi explicado por Moan baseado em três razões: os dois dias úteis a menos em relação a julho, as restrições de crédito (que só teve reação na última semana de agosto após as medidas do BC) e fatores externos ao setor, com a reversão de expectativas econômicas e insegurança do momento político-eleitoral. Mas o dirigente avalia que já começa a aparecer no horizonte alguns sinais de recuperação.
“Já é possível ver que o desempenho é melhor neste segundo semestre do que no primeiro”, disse. Ele aponta que a média de vendas em julho e agosto está em 283,6 mil unidades/mês, número 2,3% superior à média mensal do primeiro semestre, de 277,2 mil.
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