Com uma visão moderna sobre gestão e compartilhamento de processos, o atual secretário-geral do SETCESP e ex-coordenador da COMJOVEM SP fala sobre inovação e os caminhos para um transporte mais eficiente
Você esteve a frente da COMJOVEM São Paulo entre 2020 e 2021. Poderia falar sobre a importância do grupo para o desenvolvimento de novos líderes no setor?
Assim que ajudei a fundar a Formato Transportes, procurei o SETCESP para conseguir apoio e mais informações para empreender, e nessa trajetória a COMJOVEM SP abriu as portas para mim. A Comissão é uma comunidade de jovens empresários e executivos que atuam no setor, um espaço onde realmente conseguimos trocar ideias e trazer nossas demandas para alguém escutar e nos dar uma devolutiva.
A COMJOVEM e o SETCESP me abraçaram e eu consegui evoluir na Formato à medida que eu ia conhecendo mais o setor. Minha primeira participação no Encontro da COMJOVEM Nacional foi um marco, conheci muitos transportadores do Brasil inteiro, com culturas e tamanhos de empresas diferentes. E as visitas técnicas transformaram a minha visão, inclusive algumas decisões de investimentos que fizemos na empresa, tomamos lastreadas nessas visitas.
O que as entidades, como o SETCESP podem aprender com as empresas privadas em relação às práticas de gestão?
Quando cheguei ao SETCESP já tive uma sensação de quebra de paradigma em relação às entidades. Porque, quando se fala em sindicato, geralmente, as pessoas têm uma impressão de uma organização que está ali para se aproveitar ou dificultar a vida das empresas.
Mas no SETCESP, com certeza, a atitude é diferente. O foco aqui é auxiliar, apoiar o empresário no seu crescimento. Na verdade, o sindicato hoje é um exemplo de como as transportadoras devem gerir suas empresas e acredito que isso se deve à captação de profissionais de mercado que fez com que, ao longo dos anos, a entidade se profissionalizasse.
Uma troca interessante é as empresas se inspirarem em toda essa capacidade do SETCESP de fazer as coisas com base na profissionalização, enquanto o SETCESP, por sua vez, como já faz, continuar a atender as necessidades das transportadoras para que possam evoluir em questões técnicas e experiências práticas.
Você representa uma nova geração de empresários do transporte. Na sua visão, como o perfil de liderança no setor evoluiu nos últimos anos?
O primeiro ponto que diferencia a geração passada da atual é a postura de estar sempre aberto para receber todo mundo da mesma forma. O sindicato influencia bastante a gerência das empresas para promover essa integração.
E dessa união também veio a ruptura de padrão a respeito do que se pensava sobre concorrência. A ideia não é mais olhar o concorrente como um vilão, e sim tê-lo próximo de você para haver uma troca de ideias que sejam produtivas para o setor.
Acredito que a COMJOVEM foi e continua sendo um alicerce importante para essa mudança, foi lá que comecei a perceber que não precisamos nos fechar cada um dentro da sua transportadora. Devemos usar a concorrência como um campo produtivo e o SETCESP, como entidade representativa, nos ajuda a semear, proporcionando networking, eventos, visitas técnicas e, a partir daí, a gente consegue evoluir nas nossas empresas.
Que tipo de tecnologia você considera essencial para manter a competitividade de uma transportadora hoje?
As tecnologias ligadas à produtividade são importantes, mas ao longo desse tempo, adquiri uma experiência de que nem tudo é interessante para a empresa. Muitas vezes, a gente olha para as tecnologias e já sai desesperado achando que é preciso implementar, mas esquece de olhar para o processo e ponderar se nosso jeito de fazer vai efetivamente evoluir com tal tecnologia.
Entre as tecnologias já disponíveis no mercado, a que não pode faltar é a de análise de dados, tanto para a frota, quanto nas entregas ou no armazém. Todas as informações que conseguimos captar para embasar decisões são válidas, como: rastreamento de veículos, gerenciamento de risco, telemetria e os sistemas TMS que nos auxiliam na gestão.
Se pudesse apostar em uma tendência que vai transformar o setor, qual seria?
Além da IA, outra que chama muito a atenção são os veículos autônomos. Imagino que essa é uma grande tendência e talvez a transformação energética impulsione isso de uma forma mais ampla.
Imagino a automação da mão de obra que estaria no volante em algumas rotas fixas e em locais estratégicos. Aliás, tudo o que se realiza dentro de um padrão, provavelmente, será colocado de forma autônoma. Já sabemos de muitas mineradoras que operam com veículos autônomos, numa área restrita e controlada com alto nível de segurança.
Como você imagina o transporte de cargas daqui a 20 anos?
Imagino que ele seja cada vez mais compartilhado. Já percebo que as empresas olham com atenção para esse movimento de compartilhamento de operações e custos, e até de compras junto a fornecedores. Creio que as empresas tendem a se voltar mais para parcerias.
Também noto uma evolução significativa na nossa representatividade. Desde a greve dos caminhoneiros, em 2018, a sociedade passou a ter um olhar mais crítico sobre o quanto o transporte é essencial. Porém, essa percepção costuma enfraquecer com o tempo, temos memória curta. Por isso, nosso desafio, e vejo que já estamos avançando nesse caminho, é consolidar o transporte como um dos pilares do país.
Precisamos tirar a impressão negativa de que o caminhão gera engarrafamento e polui, e fazer com que as pessoas olhem para ele como uma ferramenta fundamental para o abastecimento do mercado.
2026 é um ano eleitoral. Como o resultado das eleições influencia o setor?
Tem muita gente com uma expectativa muito grande para o que vai acontecer nas próximas eleições e a minha expectativa é: passar disso. Precisamos respirar uma estabilidade política e saber se podemos investir ou se continuaremos retraídos.
Vivemos uma instabilidade marcada por uma polarização que afeta tanto o CNPJ quanto a pessoa física. Quantas pessoas têm deixado de realizar seus sonhos por não saber o que vai acontecer daqui para frente?
Um ponto positivo que vislumbro é que talvez, nesses próximos anos, isso diminua e a gente consiga, de maneira mais equilibrada, voltar a olhar o país em sua totalidade e não tendo dois lados distintos.
Como você avalia o momento atual do transporte de cargas no Brasil?
Desde 2016, ano de fundação da Formato, todos os anos aparece uma surpresa, um acontecimento novo. Ou a gente tem uma greve, uma pandemia, ou uma nova legislação que precisamos assimilar rapidamente. O fato é que o nosso mercado sofre muito com pressões externas e a gente acaba surfando ondas que não são nossas e precisamos estar com uma prancha bem robusta para não se afogar. A instabilidade política, econômica e jurídica atrapalha o nosso setor de evoluir.
Se a gente tivesse um mercado mais livre e voltado realmente para a produtividade, acho que todo transportador conseguiria gerar para o país uma receita muito maior do que a gente faz hoje.
Que conselho você daria para novos empresários que estão entrando agora nesse mercado?
Não deixar de olhar dois números muito importantes: resultado operacional e fluxo de caixa. Talvez, sejam esses dois indicadores que várias empresas negligenciaram e por isso não estão aqui hoje para contar a história. Tem gente que foca muito em expansão e aumento de patrimônio, mas esquece que sem resultado não conseguimos crescer.
Se o setor tivesse mais noção de fluxo de caixa, não venderíamos a ociosidade para o mercado. Então, para quem está entrando no transporte, saiba que é um mercado de oportunidades, que realmente que gera valor, mas tem que estar de olho nos indicadores.
Assista a entrevista completa na TV SETCESP.
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