Emissões do transporte rodoviário no Brasil sobem 8% apesar de tecnologias mais limpas
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Inventário nacional revela que avanços tecnológicos são insuficientes para enfrentar o desafio climático diante do crescimento da frota de 71 milhões de veículos

O Brasil enfrenta um paradoxo: enquanto os carros ficam cada vez mais limpos devido ao avanço das tecnologias, a poluição segue em alta e os esforços isoladamente se mostram insuficientes para enfrentar o desafio climático.

Nesta terça-feira, 2, o Instituto de Energia e Meio Ambiente sob coordenação dos ministérios do Meio Ambiente e dos Transportes divulgou após 10 anos um inventário nacional das emissões de veículos rodoviários, voltado a formulação de políticas públicas com foco na descarbonização. 

O relatório considera apenas os movidos à combustão e revelou que as emissões de gases causadores das mudanças climáticas [grifar]cresceram 8% entre 2012 e 2024 saltando de cerca de 189 para 204 milhões de toneladas equivalente, mesmo com todos os avanços tecnológicos da indústria automotiva.

A evolução da frota, o uso de combustíveis e os padrões de mobilidade têm influência direta, com o número crescente de veículos nas ruas e seu uso mais intenso “anulando os ganhos ambientais”, diz o documento.

Fora da análise mas em plena expansão, os elétricos ainda representam pouco da frota e há uma série de barreiras de infraestrutura de carregamento e distribuição para o país decolar neste mercado.

Menos poluição nas ruas, mais gases ‘vilões do clima’

Por outro lado, o setor pode comemorar algumas conquistas.

Os gases de monóxido de carbono (CO) emitidos despencaram de 5,5 milhões de toneladas em 1991 para 1 milhão de toneladas em 2024, enquanto os óxidos de nitrogênio caíram pela metade desde o final dos anos 1990.

Já o material particulado proveniente da combustão como a fumaça ou fuligem reduziu drasticamente, de 64 mil toneladas no ano 2000 para menos de 18 mil toneladas em 2024.

Mas os pesquisadores alertam: o grande vilão do clima é o dióxido de carbono (CO2), e este segue em ritmo de crescimento desde a década de 1980, sugerindo que os carros estão mais seguros para a saúde da população, mas continuam contribuindo cada vez mais para o aquecimento global.

Para os ministérios, os resultados mostram avanços bem-sucedidos do Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve) implementado há quase 40 anos e que foca em tecnologias como injeção eletrônica e filtros mais sustentáveis.

O inventário levanta outra preocupação: as emissões de carbono negro, um “poluente climático de vida curta” com impactos tanto no aquecimento global quanto na saúde humana. Apenas as emissões pelo escapamento ultrapassaram 8 mil toneladas em 2024.

Há ainda o caso do óxido nitroso, cujas emissões vêm crescendo junto com a renovação da frota e 63% do total emitido veio dos automóveis em 2024. Tecnologias como catalisadores que reduzem outros poluentes podem, paradoxalmente, aumentar a formação deste gás.

A frota que não para de crescer

A frota brasileira ultrapassou 71 milhões de veículos em 2024, um crescimento contínuo que começou nos anos 1980 e não dá sinais de desaceleração. Desse total, 63% são automóveis particulares e 25% são motocicletas.

E aqui está o cerne do problema climático: os automóveis respondem sozinhos por 34% de todas as emissões de gases do efeito estufa do transporte rodoviário.

Quando se soma apenas o CO₂, a participação dos carros sobe para 42%. São números que evidenciam a dependência do transporte individual e colocam em xeque a sustentabilidade.

Já os caminhões, essenciais para o transporte de cargas no país, contribuem com 22% das emissões totais de CO₂ equivalente quando considerados apenas os semipesados. Somando todos os tipos de caminhões, a participação chega a 40% das emissões de CO₂.

O inventário servirá como instrumento central da gestão da qualidade do ar, identificando fontes emissoras e quantificando suas emissões alinhadas às diretrizes da Política Nacional de Qualidade do Ar.

Para os pesquisadores, a mensagem é clara: a tecnologia resolve parte do problema, mas o Brasil deve repensar a mobilidade urbana para combater a crise climática. 


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