Na quarta-feira (9), o ITL (Instituto de Transporte e Logística), ligado à Confederação Nacional do Transporte, realizou a primeira edição do FIT – Fórum ITL de Inovação do Transporte sobre o tema “Novas tecnologias e conectividade nas rodovias brasileiras”. Os trabalhos foram abertos pelo presidente do Sistema CNT, Vander Costa, que destacou o protagonismo da instituição ao subsidiar um debate de interesse nacional.
“Acreditamos que o avanço da conectividade nas rodovias brasileiras representará um marco histórico para o setor e para a sociedade. O que precisamos, agora, é saber quais tecnologias estão disponíveis no Brasil e o que pode ser feito em nome de rodovias mais modernas”, afirmou o presidente.
Em sua intervenção, o ministro Marcos Cesar Pontes, de Ciência, Tecnologia e Inovações, ponderou que a busca por inovação favorece todos os modais do transporte, mas que o rodoviário tende a ser beneficiado em dois níveis fundamentais: “A tecnologia vem para ajudar o transportador tanto em segurança da operação, coibindo roubo de cargas e malfeitos (security), quanto em redução de acidentes e controle de riscos (safety)”.
Também presente na abertura, o secretário executivo do Ministério da Infraestrutura (MInfra), Marcelo Sampaio, elencou os esforços da pasta em prol da conectividade de um setor que esteve offline até recentemente. Ele relembrou o fato de que o leilão do 5G, em novembro de 2021, vincula R$ 39,8 bilhões do total arrecadado a investimentos para ampliar a infraestrutura e a conectividade no Brasil. Comentou, ainda, o fato de que os novos contratos de concessão contemplam, necessariamente, o sistema free flow – o sistema eletrônico de livre passagem em pedágios, instituído pela lei n.º 14.157/2021.
“O 5G talvez seja o maior tema em telecomunicações nos últimos anos”, corroborou Arthur Coimbra de Oliveira, secretário de Telecomunicações, que representou o Ministério das Comunicações no evento. O secretário comentou a forte sinergia entre os setores de comunicação e transporte, existente desde os tempos em que o marechal Cândido Rondon (1865-1958) determinou a instalação de linhas telegráficas e a abertura de estradas durante a chamada Marcha para o Oeste.
Benefícios da tecnologia
O professor Sérgio Myssior, da Fundação Dom Cabral, introduziu o primeiro painel da tarde, cujo título foi: “Modernização das rodovias a serviço do setor de transporte – Caminhos para o transporte conectado”. Ele propôs uma reflexão sobre as dimensões da mobilidade, que incluem espaço urbano, acessibilidade e atividades econômicas. E provocou: “A imobilidade urbana causa doenças, perda da qualidade de vida nas cidades e prejuízos de R$ 11 bilhões ao ano para a economia brasileira. As novas tecnologias podem, sim, tornar o trânsito mais eficiente, com uma série de benefícios. Por exemplo, a solução 5G ajudará veículos de emergência a sinalizar, automaticamente, que uma pista precisa estar liberada”, ilustrou.
Segundo palestrante do painel, Marcello da Costa, Secretário Nacional de Transportes Terrestres do MInfra, enfatizou que “a tecnologia cabe em todo o ciclo de projetos em infraestrutura”, citando desde a modelagem BIM (building information modeling) até o uso de drones para a aferição topográfica. Com relação ao free flow, ressaltou que “o sistema induzirá uma justiça tarifária maior, com cobrança por quilômetro rodado e aumento na quantidade de pagantes, o que tende a diminuir a tarifa individual”. O secretário também falou sobre o advento da pesagem dinâmica, “que prolongará a vida útil do pavimento e beneficiará a segurança viária”.
Gerente de contas para o Setor de Transporte da Huawei Brasil (patrocinadora do evento), João Felipe Palma explicou a opção da empresa pela tecnologia wi-fi, em vez da LTE. “Especificamente para o uso em rodovias, a Huawei entende que a tecnologia que mais faz sentido é a wi-fi, pois permite a conexão em movimento até 120 km/h. Se o motorista precisar de ajuda, a concessionária tem condições de saber exatamente a localização do veículo, enquanto, por LTE, o condutor teria de ligar antes para um 0800”, detalhou no painel, que foi conduzido pela diretora adjunta do ITL, Eliana Costa.
Questões regulatórias
Mediado por Valter Souza, diretor de Relações Institucionais da CNT, o segundo painel do fórum abordou a “Estrutura regulatória para adoção de novas tecnologias no setor de transporte – Oportunidades e desafios”. Na ocasião, o diretor geral da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres), Rafael Vitale, comentou o desafio da autarquia, que precisa compatibilizar avanço tecnológico e regulamentação. “Qualquer inovação tecnológica deve ser pensada para servir o usuário, daí a importância deste Fórum. Há demandas urgentes, como oferecer cobertura wi-fi e colocar o free flow em prática. Para tanto, temos pensado em contratos com cláusulas flexíveis, que possam ser observadas e cobradas pela performance – e não pelas especificidades.”
Marco Aurélio Barcelos, diretor presidente da ABCR (Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias) aproveitou a oportunidade para lançar a seguinte provocação: “As exigências que são feitas a título de facilidade tecnológica não devem travar um determinado modelo. O ‘como’ pode ficar datado rapidamente e um exemplo clássico disso é o termo ‘wi-fi’. Por isso, somos a favor do não engessamento das especificidades técnicas”. Ele classificou o free flow como um divisor de águas e recomendou: “Precisamos estar alertas para que possamos nos valer do que há de melhor em termos tecnológicos, que é o que hoje já funciona e viabiliza o fluxo livre de veículos. E o que é? A tecnologia sedimentada no mercado das operadoras de pagamento”.
Em sua fala, o presidente da Conexis Brasil Digital, Marcos Ferrari, fez um amplo retrospecto da atuação das operadoras de telecomunicações frente às exigências regulatórias e constatou que o edital do 4G foi cumprido com sucesso, embora com grandes disparidades regionais. “O que o leilão do 5G trouxe de diferente? A obrigação de conectar 2.349 trechos de rodovias, totalizando 35.784 quilômetros”, salientou. Segundo ele, os benefícios das estradas conectadas são muitos e vão desde a garantia de comunicação em caso de acidentes até o monitoramento de cargas.
Fluxo garantido
No terceiro painel do encontro foi discutido o tema “Inovações nas rodovias brasileiras – O sistema de livre passagem (free flow) e a segurança nas rodovias”, com mediação de Bruno Batista, diretor executivo da CNT. Na oportunidade, Natália Marcassa, secretária de Fomento, Planejamento e Parcerias do MInfra, expôs as premissas do sistema e antecipou as regulamentações que estão sendo preparadas pela pasta. “Uma grande preocupação (nesse desenho) é que não haja perda de receitas. Não encaramos (a arrecadação) como multa”, asseverou. Ela explicou ainda que um projeto dessa magnitude só se tornou possível com a alteração do CTB (Código de Trânsito Brasileiro).
Uma abordagem mais acadêmica foi trazida por Valter Zanela Tani, coordenador Técnico de Projetos da LabTrans – Laboratório de Transportes e Logística (UFSC). O professor trouxe exemplos colhidos das rodovias norte-americanas e até da República Tcheca para demonstrar que o fluxo livre de veículos, com pesagem em movimento e em alta velocidade, é um grande avanço. Ele citou a possibilidade de controle de acesso de veículos especiais e novas formas de fiscalização rodoviária. “Nos EUA, há o programa PrePass, em que os transportadores compartilham informação para comprovar boas práticas. Em contrapartida, eles ficam dispensados de entrar em postos de parada e são inspecionados com base em amostragem”, destacou.
Em sua intervenção, Cleber Antonio Chinelato, superintendente de Arrecadação para o Grupo CCR, nos modais Rodovias, Aeroportos e Mobilidade, apresentou o case da nova concessão da BR 116 (Via Dutra) com a BR-101 (rodovia Rio-Santos), que utilizará a sistemática free flow em um trecho. “Em termos de inovação, não há nada que precise ser inventado para que a gente consiga viabilizar o free flow no Brasil. O que vai mudar é, principalmente, a jornada do cliente. Essa diminuição da aflição que uma praça de pedágio traz é algo muito positivo e a gente acredita no sucesso do conceito”, defendeu.
Coube a Daniel Duarte Nobre, head de Produtos e Inovação no Grupo Apisul, encerrar o terceiro bloco com uma reivindicação. Ele propôs que o grande volume de dados coletados pelo sistema possa ser usado, de alguma forma, pelos usuários privados. “É preciso que essa conectividade esteja aberta às empresas privadas, senão vira uma caixa preta e perde a função do pedágio como localização do veículo de apoio”, instigou.
Os debates continuaram ainda no quarto e último painel, cujo tema foi “Conectividade nas rodovias e o desenvolvimento humano e social”, que contou com a mediação da diretora Executiva Nacional do SEST SENAT, Nicole Goulart. Participaram os debatedores: Janc Lage, diretor de Tecnologia e Inovação no Grupo Águia Branca; Sergio Paulo Gallindo, presidente executivo da Brasscom; e Érika Azevedo, representante Latam da Connected Places Catapult.
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