Economistas veem Selic em 2% ao ano até meados de 2021
Compartilhe

Reforço do “forward guidance” tira divergências sobre rumo da taxa

Apesar da falta de surpresas no comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom), o Banco Central trouxe um pouco mais para os trilhos as perspectivas sobre a trajetória da Selic nos próximos meses ao reforçar o “forward guidance”, ou a prescrição futura dos rumos da taxa básica.

Após a decisão, que manteve a Selic em 2% ao ano, os economistas e analistas consultados pelo Valor foram unânimes em apontar que o próximo movimento do Copom deverá ser uma elevação dos juros. Na reunião anterior, houve quem ainda apostasse em mais quedas, mas agora os especialistas parecem convergir para a existência de um “limite prudencial”, que seguraria a taxa no atual patamar ainda que as projeções de inflação estejam abaixo da meta até 2022.

Segundo o diretor do ASA Investments, Carlos Kawall, o Copom reiterou o “forward guidance” no comunicado. “Querem o compromisso de manutenção das taxas de juros por um tempo, até quando as expectativas de inflação estiverem próximas das metas em 2020 e 2021”, diz.

Na projeção da ASA, a Selic deve ser elevada somente em 2022. “Isso porque acreditamos que a recuperação vai ser lenta, com crescimento do PIB de 2,1% no ano que vem”, afirma.

Para o economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, a adoção do “forward guidance”, reforça a ideia de um contexto mais amplo de estímulos. “Esse instrumento não olha somente as projeções, mas sim um contexto mais amplo da economia com mais estímulos.” Nas projeções da Western Asset, a taxa básica deve subir somente no último trimestre de 2021.

Trata-se do mesmo cenário-base da consultoria Tendências. A partir do quarto trimestre do ano que vem, o Copom passaria a elevar a taxa, que alcançaria 3% no fim de 2021, com, possivelmente, dois movimentos de alta de 0,5 ponto percentual cada.

Conforme o economista e sócio da Tendências, Sílvio Campos Neto, “à luz dos riscos colocados e do contexto de retomada [da atividade econômica] parece improvável uma mudança da Selic nos próximos meses”.

Na avaliação do economista-chefe da Garde Asset Management, Daniel Weeks, o Copom deixou mais claro que o limite de queda de juros no “forward guidance” é prudencial. De acordo com o especialista, o comunicado não trouxe grandes novidades, mas reforçou a mensagem da prescrição futura. “O Copom explicitou um pouco mais no comunicado as razões prudenciais para ter o ‘forward guidance’ e não quedas adicionais de juros”, diz.

Para Weeks, “o BC parece que até queria mais estímulos, mas tem um limite prudencial”. A Garde enxerga a Selic em 2% ao ano até o segundo trimestre de 2022. A taxa básica então começaria a ser elevada até atingir 4% no fim de 2022.

O economista do Opportunity, Marcelo Fonseca, considera “o mais importante” o BC ter mantido o “forward guidance”. “É uma confirmação de que, a despeito das pressões de inflação nos últimos dias, o Copom entende que o cenário continua benigno”, afirma. Para a casa, a Selic deve ser mantida até o último trimestre de 2021.

A análise é compartilhada por Kawall, da ASA, para quem o comunicado também tirou a dúvida sobre como o BC avaliaria as recentes pressões inflacionárias. “Chamou atenção para esse fato no comunicado, mas manteve a frase de que [a inflação] ainda está abaixo da meta. Tirou uma dúvida que se tinha de como o BC leria essa inflação de curto prazo”, diz.

O economista do Opportunity ressalta ainda que a decisão do BC segue a mesma de outras autoridades pelo mundo e lembra que o Federal Reserve (Fed, o BC americano) também manteve a taxa de referência entre zero e 0,25% ao ano. O Fed sinalizou ainda que a taxa deve ficar baixa até pelo menos 2023. “Essa confirmação de juros parados por lá durante muito tempo alivia o canal de pressão, que é a moeda.”

Na análise da economista sênior da LCA, Thaís Zara, o posicionamento do Fed “felizmente retira uma pressão sobre o BC brasileiro”. No cenário-base da LCA, a Selic será mantida em 2% ao ano até o fim do terceiro trimestre de 2021. A partir do último quarto do ano, o Copom elevaria a taxa duas vezes e o ano terminaria com a Selic em 2,5%.


voltar