Compartilhe
06 de Setembro de 2018 – 16h58 horas / Valor Econômico

A Volvo começou a vender caminhões autônomos no Brasil. As primeiras sete unidades foram adquiridas pela Usaçucar e já começaram a operar num dos canaviais do grupo, em Maringá (PR), mesmo local onde um protótipo foi testado durante um ano. Trata-se da primeira entrega comercial de caminhões com tecnologia autônoma do mundo. Além disso, é um passo importante na transformação da indústria automobilística, que, além de fabricar veículos, prepara-se para vender serviços. No contrato com a Usaçucar, os caminhões foram vendidos, mas a tecnologia autônoma é comercializada em forma de prestação de serviço. A movimentação dos veículos é toda monitorada pela Volvo.

 

O início da comercialização no Brasil de um veículo que a Volvo ainda testa na Europa e Estados Unidos abriu uma nova perspectiva de negócios na companhia. Segundo o presidente da Volvo América latina, Wilson Lirmann, além das consultas que tem recebido de outras usinas de açúcar, a empresa percebe potencial de vendas em outros setores e em outros países da região, como o de mineração no Chile ou Peru.

 

O uso dessa tecnologia como ferramenta de trabalho nas chamadas áreas confinadas dispensa a necessidade de esperar a legislação que ainda precisa ser elaborada para que veículos autônomos circulem no trânsito. Abre, ainda, caminhos para fazer dos veículos que funcionam sem a intervenção de um motorista muito mais do que uma aventura futurística. Os testes na usina Santa Terezinha, do grupo Usaçucar, no Paraná, comprovaram ganhos significativos em produtividade.

 

Segundo informações do grupo Usaçucar, no processo tradicional, a cada cinco safras de cana-de-açúcar uma é perdida por pisoteamento das mudas, pelos caminhões, durante a colheita. A precisão de direção, na tecnologia autônoma, elimina a perda. O grupo é o terceiro maior exportador de açúcar do Brasil e conta com 350 mil hectares plantados.

 

Por questões estratégicas, Lirmann não informa o preço do serviço de tecnologia autônoma, uma atividade que a empresa sueca não imaginava um dia oferecer quando inaugurou a fábrica em Curitiba há 38 anos. Para a montadora, se responsabilizar e operar o funcionamento autônomo garante segurança. Para o cliente, a maior vantagem é financeira, já que ele não tem de pagar pela aquisição de uma tecnologia ainda cara.

 

Por enquanto, o motorista não precisa temer a perda de trabalho. No canavial, o veículo move-se sozinho, recebendo a cana despejada pela colheitadeira que segue aos seus lados. Mas o motorista permanece dentro do caminhão, mesmo sem interferir na sua condução. Ao final do processo, quando concluído o carregamento, cabe a ele dirigir o veículo até a usina.

 

Com motor a diesel, o caminhão autônomo da Volvo é equipado com um sistema de geolocalização que identifica com exatidão o caminho a ser seguido e aciona o sistema de direção. "Na lavoura de cana, o sistema autoguiado permite precisões que o olho humano não consegue visualizar. A colheita da cana é feita também à noite, o que reduz as chances de boa visibilidade humana, principalmente levando em conta a palha que se espalha pelo solo", destaca Lirmann.

 

Segundo o executivo, será negociada com cada cliente a forma de remuneração pelo serviço nos períodos fora da época da colheita. Nessa fase, o caminhão poderá ser deslocado para qualquer outro tipo de operação sem usar a tecnologia autônoma.

 

Segundo o executivo, o veículo foi aprimorado a partir dos testes. "Desenvolvemos soluções para o uso no canavial, como um eixo traseiro mais resistente", destaca. Lirmann prevê que no futuro, esse tipo de veículo poderá ser elétrico. Tudo vai depender do desenvolvimento de infraestrutura para o carregamento das baterias.

 

O setor sucroalcooleiro foi o primeiro a interessar-se por caminhões autônomos em razão do evidente ganho em produtividade. Por isso, o projeto desenvolvido pela equipe de engenharia de Curitiba passou à frente dos que ainda estão em teste em outros países. Um autônomo para mineração tem sido testado em Kristineberg, um vilarejo ao norte da Suécia.

 

Em Londres, a Volvo faz testes com coleta de lixo. O motorista não precisa mais se preocupar com a direção. Em vez disso, ele "ajuda" o braço mecânico a içar para dentro do veículo as lixeiras colocadas nas vias públicas.

 

Na Carolina do Norte (EUA), a Volvo faz testes em parceria com a empresa de entregas Fedex. Veículos conectados se alinham num comboio puxado por um caminhão com motorista. Segundo Lirmann, nesse caso, a maior vantagem é a economia de combustível.


voltar