O Transporte de mudanças enfrenta dificuldades para executar suas demandas apenas no período estipulado pelas prefeituras, sobretudo em São Paulo, maior centro urbano do país. A Zona Máxima de Restrição de Circulação (ZMRC) é uma pauta que está em debate pelo setor há anos e a falta dessa flexibilização prejudica o desempenho das empresas do segmento, relata Everton Granero, ex-diretor da comissão de mudanças do Sindicato da Empresas de Transportes de Carga de São Paulo e Região (Setcesp) e diretor de franquias da Granero Transportes.
No caso do setor de mudanças, a prefeitura da cidade de São Paulo (SP) estipula, por meio da Portaria 137/18 – SMT.GAB, que os veículos que possuem a Autorização Especial de Trânsito para Caminhões (AETC) podem transitar entre 05h da manhã e 16h. Everton explica que essa regra entra em conflito com o tempo que leva para finalizar uma mudança e com regras de condomínio, em muitos casos.
Perda de produtividade
O diretor de franquias da Granero Transportes ressaltou que grande parte das transportadoras não estão situadas próximas do centro, por isso enfrentam um longo tempo de trajeto que gera perda de produtividade. Ao chegar para realizar a mudança em um condomínio, por exemplo, existe um horário estipulado para início e término do serviço.
“O condomínio não permite que comece uma mudança às oito horas da manhã, sete e meia da manhã, sete horas da manhã. O condomínio também tem a sua estrutura, as suas regras e até entendemos a questão. Você tem a entrada e saída de pessoas que moram naquele prédio, tem entrada de pessoas que trabalham nas casas”, explica.
Para ele, o problema inicia quando o serviço acaba. Os condomínios estipulam um prazo para terminar o serviço, que varia entre 16h e 18h. Porém esse é o horário em que os veículos de mudança já não podem mais circular e ficam passíveis a sanções de trânsito.
O planejamento envolvido para realizar o serviço é sempre pensado em todas essas situações, segundo Everton, mas as empresas acabam precisando adaptar-se ao horário de circulação, o que pode fazer com que a mudança leve mais dias que o necessário.
Debate em pauta
Para o executivo, a extensão desse horário é essencial para a melhora do serviço e o ganho em produtividade. Todo esse debate, que acontece há anos no Setcesp, busca uma regulamentação junto à prefeitura de São Paulo, mas, de acordo com Everton, não é um problema exclusivo dessa única cidade.
“São Paulo é a que tem mais dificuldade nesse sentido, para as transportadoras de mudanças, com a legislação e burocracias que tem no trânsito, zona máxima de circulação e dos condomínios. Mas isso também está acontecendo em outros lugares. Como a Granero atua nível Brasil, eu vejo isso em Salvador, Rio de Janeiro, todos as grandes cidades, e outras que vem crescendo. A categoria de mudança sofre muito com isso e tem que ficar sempre se programando muito para não ter problema de multa, apreensão de veículo e assim vai”.
Panorama da especialidade
A especialidade de mudanças é uma parcela pequena, em termos de faturamento, dentro do transporte de cargas, de acordo com Everton. Diferente de outros setores, demanda uma mão de obra e tempo de serviço maiores. Na Granero Transportes, por exemplo, uma mudança leva em média dois a três dias para ser executada dentro de São Paulo.
Em março de 2020, durante a pandemia, o setor ficou apenas um mês sem atuar, até que foi considerado serviço essencial. Nos meses seguintes, abril e maio, houve uma queda no setor, seguida de uma retomada. A demanda por mudança, segundo o executivo, cresceu em média 30% a 40%, principalmente, em 2021 e 2022.
“Muita gente mudou, buscou o ar livre, por exemplo, alugava um apartamento em São Paulo e depois resolveu se mudar para um apartamento na praia. Se a pessoa já morava de aluguel, trocou uma locação pela outra, já que a empresa foi pro home office. Então muita gente foi para a praia, para o interior e fizemos a mudança dessas pessoas”, completa.
Mesmo com a alta na demanda, o setor precisou se readequar aos diversos fatores que preocuparam os transportadores de modo geral, como a inflação. “Foi um momento também para as transportadoras de mudança refazerem as contas dos seus custos, porque o diesel aumentou, no nosso caso, o material de embalagem também toma muito dos custos. Caixa de papelão, plástico bolha, tem uma série de materiais que a gente usa, então todos eles reajustaram e tivemos que nos adequar. Caixa de papelão, por exemplo, ficou três vezes mais caro”.
Everton espera que este ano seja positivo para a especialidade com o sentimento ou necessidade de mudança causado nas pessoas pela pandemia. “Eu acho que ainda tem um reflexo das pessoas se realocando ou repensando onde querem morar, acho que isso ainda acontece, é algo que a pandemia deixou na cabeça das pessoas”.
Embora otimista, ele entende que o setor como um todo ainda enfrentará desafios, em consequência da inflação e o valor dos veículos. Este último, em particular, quase dobrou de preço nos últimos danos, o que tem impactado diretamente na renovação de frota da empresa.
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