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06 de Abril de 2018 – 16h01 horas / DCI

As regiões com as maiores taxas de desemprego, que são o Norte, Nordeste e Sudeste, terão uma retomada mais lenta dos rendimentos do trabalho do que o Sul e o Centro-Oeste, que possuem níveis mais baixos de desocupação, em relação à média nacional.

 

É o que avaliam especialistas ouvidos pelo DCI. “A recuperação da renda depende muito da taxa de desemprego”, ressalta o professor da Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo (FEA-USP), Hélio Zylberstajn. “Se houver uma expansão da atividade econômica no Brasil, os rendimentos irão cair em um primeiro momento, pois, com as oportunidades de emprego começando a surgir, as pessoas, no geral, vão aceitar qualquer salário”, afirma.

 

Zylberstajn diz que isso acontece, porque em todo início de retomada da economia, o contingente de mão de obra precisando de trabalho é maior do que as vagas disponíveis.

 

A pesquisadora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Maria Andréa Parente destaca que esse processo é mais intenso em regiões com as maiores taxas de desemprego, como o Nordeste (13,8%), Norte (11,3%) e Sudeste (12,6%), “justamente, porque é onde há mais pessoas dispostas a trabalhar por um salário menor”.

 

Por outro lado, continua Parente, o Sul que, historicamente registra taxas de desocupação mais baixas do que a média nacional, mesmo durante o período recente crise, consegue recompor de forma mais ágil os rendimentos. A desocupação na região Sul fechou 2017 a uma taxa de 7,7%, enquanto a média do Brasil alcançou 11,8%.

 

No quarto trimestre de 2015, o rendimento médio habitual do trabalho caiu 5,3% no Sul, em termos reais (correção inflacionária), ante iguais meses de 2014 e voltaram a expandir 2% em 2016 e mais 1,3% em 2017, para R$ 2.273. Esse cenário mais positivo do Sul ocorre pela qualificação da sua mão de obra, diversificação econômica e à forte indústria ligada ao agronegócio, que dá base ao emprego formal na região.

 

Já no Centro-Oeste (CO), o desemprego chegou a 9,4% da população ao final de 2018. Os rendimentos da região chegaram a cair 3,6% em 2015, porém cresceram em 2016 (+0,4%) e em 2017 (2,8%), chegando a R$ 2.395 no ano passado, o maior nível de renda na comparação regional.

 

Segundo o economista do Conselho Federal de Economia (Cofecon) Roberto Piscitelli, isso acontece porque a região tem a forte presença do setor público, em Brasília, no Distrito Federal (DF), segmento que tem salários maiores que o setor privado.

 

Parente, do Ipea, destaca que a safra agrícola recorde também ajudou no crescimento da renda no CO, ainda que em proporção menor do que o impulso do funcionalismo público. Segundo Piscitelli, o rendimento na região deve continuar em trajetória de alta, mas em um ritmo menor do que em anos anteriores, dada às reduções dos concursos públicos e dos reajustes aos servidores.

 

Os rendimentos do Sudeste, por sua vez, passaram por uma retração de 0,34% no final de 2015 e aumentaram 0,6% 2016. No entanto, voltaram a cair 0,4% em 2017, para R$ 2.380. “O problema do Sudeste tem um nome: Rio de Janeiro”, enfatiza Parente. “É um estado com alguns dos piores indicadores de mercado de trabalho. Muita gente ficou desempregada do Rio”, reforça. O estado passa por uma forte crise fiscal e de segurança pública.

 

As taxas de desemprego para os entes do Sudeste são: Rio (15,1%), São Paulo (12,7%), Minas Gerais (10,6%) e Espírito Santo (11,6%). Na avaliação do professor de economia da Universidade Presbiteriana Mackenzie Pedro Raffy Vartanian, a renda do Sudeste terá uma recuperação pequena e gradual, por conta da grande oferta de mão de obra na região.

 

Norte e Nordeste

Já os rendimentos do trabalho no Norte e no Nordeste caíram 6,5% e 3,5%, respectivamente entre 2014 e 2016, mas voltaram a expandir em 2017: o Norte teve alta de 4,9%, para R$ 1.605, enquanto o Nordeste apresentou elevação de 3,5%, para R$ 1,425. Para Parente, os aumentos expressivos no ano passado se explicam pela base de muito baixa dos anos anteriores.

 

O professor do Instituto Federal do Amazonas (IFA) Luciano D’Agostini comenta que a queda da renda nessas duas regiões, além de ter sido puxada pela crise, foi impulsionada também por fatores estruturais, como a retração da taxa de investimento dos governos e do setor privado. “Houve, ainda, uma diminuição brutal das vendas do setor industrial nas duas regiões (Zona Franca de Manaus e Setor Industrial de Recife). Isso provocou perda de postos de trabalho, aumentando o desemprego estrutural, o que, por sua vez, reduziu o nível de consumo das famílias. ”

 

D’Agostini destaca ainda que a taxa de crescimento da população das duas regiões está próxima a 1,2 a 1,4% ao ano, maiores do que o aumento dos aportes em saúde e educação por habitante. “Isto significa que o investimento em saúde e educação caíram por unidade de habitante, deixando a população em condições mais precárias, inclusive com perda de produtividade do trabalho”, considera D’Agostini que acredita que a perda durante a última crise ainda terá repercussões nos próximos anos.

 

Ele explica que o nível de renda maior do Norte em relação ao Nordeste se explica pelas diferenças dos tipos de produtos primários e industriais oferecidos e da logística de escoamento da produção. No entanto, ele observa que a crise econômica acabou diminuindo a diferença entre as duas regiões. No ano de 2012, por exemplo, o rendimento do trabalho do Norte era 21,77% maior do que o do Nordeste. Porém, em 2017, essa diferença caiu para 12,63%.


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