Por Paulo Paiva, professor da FDC
O ano termina soprando bons ventos para a economia em 2020. As estimativas do PIB para 2019, com fortes razões, superam o pessimismo que perdurou quase todo o ano no mercado. O PIB do terceiro trimestre deste ano, comparado ao do mesmo período de 2018; isto é, sua evolução de ponta a ponta, foi de 1,2%; nos nove primeiros meses de 2019, o PIB cresceu 1,0%. Mais ainda, neste ano, a taxa de crescimento do PIB vem se acelerando consistentemente. A mediana das expectativas do crescimento da economia para 2019, que separa as estimativas entre 50% abaixo e 50% acima de seu valor, segundo o Relatório Focus do Banco Central2 está em 1,12%. Não será surpresa se a taxa de crescimento do PIB superar a de 2018. Um crescimento ainda lento, mas consistente.
Vários fatores, que têm contribuído para a evolução da economia, são indicativos de um desempenho melhor em 2020.
Em primeiro lugar, quero ressaltar as mudanças na política monetária, pouco discutidas na mídia e nos debates contaminados por visões político-ideológicas. O Copom em sua reunião de encerramento do ano, mais uma vez, cortou a taxa Selic, levando-a para seu nível histórico mais baixo (4,5%). Considerando o seu valor real; isto é, descontada a inflação estimada (3,86%), a taxa real de juro básico ficará em 0,64%. Menos do que 1,0%. O que parecia inimaginável aconteceu!
A tendência de queda da taxa básica segue mudança estrutural na taxa neutra de juros, que é a taxa hipotética, segundo Wicksell (1936), consistente com a estabilidade dos preços no longo prazo. Vale dizer, o Brasil passa por profunda mudança na sua política monetária, sua taxa neutra de juros está caindo, com efeitos positivos sobre juros, ativos financeiros, financiamento da dívida pública e crescimento da economia.
O crescimento deste ano está sendo estimulado pela expansão da construção civil que, por sua vez, está sendo financiada, principalmente, por recursos privados. Os fundos imobiliários estão substituindo os antigos fundos de renda fixa, abastecendo a construção. A política monetária estimula o crescimento, com o enxugamento dos empréstimos do BNDES, como apontou Affonso Pastore. O mercado de capitais floresce para sustentar o crescimento.
Em segundo lugar, a política fiscal, foi positivamente afetada pela queda da Selic, que reduz seu custo de carregamento, e pela reforma da Previdência. Ademais, a PEC paralela, que trata da reforma da Previdência dos Estados e Municípios, foi aprovada no Senado, e será apreciada, no início do ano, na Câmara, e a PEC emergencial, já no Congresso Nacional, é o início da reforma administrativa, prevista para o próximo ano. As iniciativas do governo estão contribuindo para a volta da confiança de investidores e consumidores e, assim, ajudando a aceleração do crescimento.
2019 entrega para 2020 uma economia em movimento. O relatório Focus indica mediana de crescimento de 2,25%, em 2020, e 2,50%, em 2021. Se as reformas não dormirem nas gavetas do Parlamento, os resultados serão visíveis nos próximos anos.
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