O mês foi o primeiro inteiramente afetado pela paralisação da atividade econômica por causa da pandemia de covid-19
A pandemia do novo coronavírus provocou uma perda recorde na indústria brasileira em abril. Em meio a medidas de isolamento social e paralisação de fábricas, a produção despencou 18,8% em relação a março, segundo os dados da Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira, 3.
A linha de produção nunca operou em patamar tão baixo – a queda é a maior da série histórica, iniciada em 2002. Houve reduções em 22 das 26 atividades pesquisadas, sendo que 15 delas tiveram o pior desempenho já visto na pesquisa.
A influência negativa mais relevante foi da produção de veículos automotores, reboques e carrocerias, que despencou 88,5%, devido a paralisações e interrupções de várias unidades produtivas. No mês anterior, a atividade de veículos já tinha recuado 28,0%.
Em dois meses de perdas, a atividade de veículos encolheu 91,7%. Houve redução na produção de automóveis, caminhões, ônibus, carrocerias, autopeças. “Mas sem sombra de dúvida o principal item (com queda) acaba sendo automóveis”, disse André Macedo, gerente da Coordenação de Indústria do IBGE.
Além de veículos, outras reduções recordes na produção ocorreram nos setores de bebidas, têxteis, calçados, derivados de petróleo, borracha, minerais não metálicos, metalurgia, produtos de metal, equipamentos eletrônicos e informática, máquinas e aparelhos elétricos, entre outros.
Na direção oposta, a fabricação de produtos alimentícios cresceu 3,3% em abril ante março, enquanto produtos farmoquímicos e farmacêuticos avançaram 6,6%. Ambos tinham recuado no mês anterior: -1,0% e -11,0%, respectivamente. O setor de perfumaria, sabões e produtos de limpeza avançou 1,3%, enquanto as indústrias extrativas ficaram estáveis (0,0%).
Segundo André Macedo, os três setores com avanço na produção em abril ante março, na contramão do restante da indústria, foram impulsionados por hábitos de consumo decorrentes das medidas de isolamento social, com maior demanda por alimentos e produtos de higiene e limpeza, por exemplo.
Em relação a abril de 2019, a indústria teve um tombo de 27,2% em abril de 2020. A produção de automóveis praticamente parou, despencou 99,9%. O índice de difusão da indústria – que mostra o porcentual de produtos com crescimento na produção em relação ao mesmo mês do ano anterior – passou de 39,9% em março para 19,0% em abril, o mais baixo da série histórica.
Macedo diz que os produtos com avanço na produção são impulsionados pelo momento de necessidade de isolamento social em função da pandemia do novo coronavírus. “Dado o aumento no número de óbitos em função da pandemia, teve aumento na produção de caixões”, disse Macedo.
A indústria também produziu mais seringas, artefatos para segurança e proteção, desinfetante, detergente, instrumentos e aparelhos relacionados à transfusão de sangue, sabão em pó, desinfetante e detergente, por exemplo.
“Tem produtos numa direção diferente da média da indústria. E isso tem relação direta com o isolamento social, com o que está acontecendo em função da pandemia. Dentro de perfumaria, tem desinfetante com participação importante. Em produtos de papel, tem papel higiênico e fralda descartável com crescimento importante. O próprio crescimento (na produção) das bicicletas ergométricas pode ter relação com pessoas que querem ter como fazer atividade física enquanto está dentro de casa”, apontou Macedo.
Com o crescente número de mortos e contaminados pela doença, a indústria brasileira permaneceu em maio às voltas com interrupções e paralisações da produção.
“Em maio, você tem um número maior de empresas ainda fazendo algum tipo de interrupção na produção. É claro que o setor industrial está num comportamento completamente diferente do seu habitual, se não fosse a pandemia da covid-19. Há interrupção clara da produção, que vai se refletir em diversos setores da indústria. Como vai se refletir nos resultados (da PIM-PF) de maio ainda não sabemos”, declarou André Macedo.
O pesquisador do IBGE lembra que a confiança do empresariado teve algum tipo de melhora em maio, mas ainda em relação ao nível mais baixo da série histórica.
“O que a gente já observava desde o final do mês de março, que é extensivo para o mês de abril, e é observado para o mês de maio, a partir do relato de diversos setores industriais, é que você está completamente fora do padrão de produção. Claro que vai se traduzir em alguma perda (em maio)”, previu.
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