Preservar as empresas e avançar em concessões
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Adriano Lima Depentor é vice-presidente de governança corporativa do SETCESP, além de fazer parte da comissão que orienta as relações sindicais da entidade. É formado em Administração de Empresas, pelo Instituto Newton Paiva, em Minas Gerais, com MBA na Faculdade de Administração (INSEAD), na França, e há 35 anos atuando na área de transportes. Mineiro de Belo Horizonte e profissional com experiência nas áreas de consultoria de administração pública e planejamento e distribuição urbana, ele deu ao SETCESP a seguinte entrevista. Confira!

O que o senhor acha deste um ano e meio de vigência da Reforma Trabalhista? Quais foram os principais pontos de relevância para as empresas?

Sem sombra de dúvidas, a Reforma Trabalhista trouxe um novo marco nas relações tornando-as mais equilibradas, trazendo maior segurança jurídica e melhora no ambiente do trabalho. No que se refere aos principais pontos de relevância para as empresas eu destacaria os julgamentos das demandas trabalhistas, pois com a exigência de custas processuais para os reclamantes, houve queda vertiginosa das ações e as decisões passaram a ser mais justas com a realidade nacional.

Quais impactos o fim da Contribuição Sindical Anual trouxe para a representação sindical?

Impôs ao movimento sindical a necessidade de se tornar mais representativo, de estar mais perto de sua base, de propor novos serviços. Enfim, o fim da Contribuição Sindical contribuirá para o nascimento de um novo sindicalismo.

Em face das negociações salariais, qual é a sua avaliação sobre acordado sobrepor ao legislado?

Vejo com muita simpatia esta nova determinação, pois também está no centro do novo sindicalismo que comentei, em que o sindicato do setor profissional e do setor econômico poderão e deverão celebrar convenções coletivas mais pertinentes com as realidades das atividades profissionais, podendo fazer concessões de ambas as partes para preservar empregos, preservar as empresas em tempo difíceis e avançar em concessões que melhorem o ambiente de trabalho para todos.

As negociações variam de cidade para cidade? Quais fatores impactam nesta variação?

A base territorial do SETCESP possui 11 sindicatos profissionais e 21 mil empresas de transporte rodoviário de cargas em 50 municípios da Grande São Paulo. Há peculiaridades regionais, mas temos feito um grande esforço para que as regras das convenções coletivas sejam ao máximo padronizadas, pois, desníveis de concessões atrapalham na gestão dos recursos humanos e podem trazer insatisfações entre os empregados.

Em sua opinião, quais são os fatores que mais atrapalham um Acordo Coletivo?

A dificuldade de muitas as vezes os dirigentes sindicais entenderem o momento delicado que o país e as empresas estão passando, e que por isso, não dá para atender demandas fora de um contexto no qual a realidade impõe necessidades de cortes de custos. Entender o momento econômico e a capacidade de as empresas suportarem reivindicações são dois fatores chaves para se ter uma pauta mais equilibrada, para a manutenção dos empregos e das empresas e para a necessária tranquilidade social que permita a prosperidade de todos. 

Como foram as negociações do SETCESP com os sindicatos operacionais?

Esta é a segunda negociação salarial que acontece dentro do contexto da Reforma Trabalhista, e aos poucos estamos avançando e inovando, como por exemplo retiramos o banco de horas da convenção coletiva, dando maior liberdade para as empresas fazerem a gestão de compensação das horas extras e o Prêmio por Tempo de Serviço, que muito onerava a folha de pagamento de salários, por um outro lado, cedemos um convênio odontológico que há tempos os sindicatos laborais reivindicavam e cuja gestão de tal convênio será feita pelos mesmos através de empresas de prestação de serviços na área bucal. Também atendemos ao pedido do reajuste salarial aplicando o INPC cheio.

O senhor acredita que a aprovação da Reforma de Previdência irá melhorar em algum ponto as relações trabalhistas?

A Reforma da Previdência vai trazer equilíbrio às contas públicas, deve criar um ambiente de maior segurança para os investimentos nacionais e estrangeiros, o que trará mais empregos e uma era de prosperidade para todos. Mas, esta reforma deve ser somente o primeiro passo, depois se faz necessária a Reforma Tributária, uma boa política de créditos e a gestão firme dos gastos públicos, o restante o mercado se encarrega de ajustar. 

A extinção o Ministério do Trabalho, altera de alguma forma a relação que existe entre o sindicato patronal e operacional?

O Ministério do Trabalho lamentavelmente se tornou um espaço para negociatas escusas, principalmente na concessão de registro sindical. Se fazia necessária a tomada de medidas austeras urgentes. Por isso, a meu ver, o governo federal agiu bem dividindo parte com o Ministério da Justiça e parte com o Ministério da Economia, saneando os problemas que contaminaram a pasta. Talvez assim, se possa rever seu papel e retomar sua vocação de fomentador das boas relações entre o capital e o trabalho.

Qual o recado que o senhor gostaria de deixar para os nossos leitores?

Primeiramente, quero agradecer a oportunidade de participar deste espaço, pois é uma forma da entidade se comunicar com os seus representados e prestar contas do seu trabalho. Além disso, espero que tenha contribuído para orientar as relações laborais em nossa comunidade empresarial. Por fim, deixar o meu convite para que os empresários participem mais deste processo, pois os recursos humanos são uma proteção para uma grande empresa.


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