Em vigor desde janeiro de 2023, o Proconve 8 é o programa brasileiro que se alinha ao Euro 6, e exige tecnologias mais avançadas para controle de emissões de poluentes
Proconve é a sigla para Programa de Controle de Emissões Veiculares. Foi criado no Brasil nos anos de 1990 e se encontra, atualmente, em sua oitava etapa, na qual os padrões de exigência são bem semelhantes ao Euro 6, legislação em vigência na Europa.
Ambos os programas de despoluição passaram a valer no país a partir de 2023 e estabelecem limites mais rígidos de emissão para veículos a diesel e gasolina, a fim de reduzir o impacto ambiental do transporte.
Para cumprir essas normas, montadoras tiveram que adotar tecnologias mais avançadas como o uso de filtros de partículas e sistemas de tratamento de gases de escape. A vigência das novas regras mudou a dinâmica do mercado no país, sobretudo encarecendo o valor de veículos pesados novos.
“Ao analisarmos as vendas de caminhões nos primeiros meses de 2023, ficamos preocupados com a percepção de nossos clientes. Especialmente porque essas mudanças, com os incrementos no sistema dos caminhões, impactariam diretamente no custo de produção dos veículos, levando naturalmente a um ajuste no preço do produto final”, compartilha o gerente de vendas da rede de concessionária De Nigris, Luciano Pereira.
Tal previsão realmente se concretizou. O aumento do custo levou a um tombo na produção e vendas de veículos pesados após a entrada em vigor da fase 8 do Proconve. A mudança do padrão fez despencar em 37,9% a produção de caminhões, segundo dados da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores).
Enzo Catto, gerente de vendas da Divena Comercial confirma que depois da introdução do Euro 6 e do Proconve 8, as vendas retraíram. Mas ele lembra que houve um movimento, por parte dos compradores, em vista das novas regras, de adiantar as aquisições.
“Alguns consumidores e empresas optaram por antecipar a compra de caminhões antes da vigência do Proconve, o que gerou uma queda no volume de vendas logo após a implementação. No entanto, o mercado começou a se estabilizar à medida que os compradores se ajustaram à nova realidade e perceberam as vantagens de longo prazo, como menor consumo de combustível e durabilidade”, comenta Catto.
Agora, passado este tempo de adaptação, no qual as montadoras tiveram que adequar seus modelos, o que se observa é a volta do mercado de vendas de pesados ao mesmo patamar que era antes de 2023.
“Como sempre nos baseamos em números e oportunidades, preparamos ainda mais nossa equipe de vendas para lidar com objeções sobre o preço, que foi um dos pontos mais falado durante essa transição. Com o passar dos meses, as empresas passaram a entender que a questão ambiental é uma prioridade, e o mercado retomou sua demanda”, informa Pereira.
Este ano, a venda de caminhões novos no Brasil deve avançar 18% e caso a projeção se concretize, o total de caminhões emplacados será de 123.423 unidades. Na comparação com o ano passado (2023), foram emplacadas 104.155 unidades, ante 124.569 caminhões contabilizados no ano de 2022, – uma baixa de 16,39% no volume de licenciamentos, de acordo com a Fenabrave, que reúne associações de concessionárias.
“Obviamente que também onerou o custo do produto impactando no preço para a de aquisição, por outro lado, também houve uma ampliação nos períodos de troca de lubrificante que acaba favorecendo o custo total de operação e fechando a equação de maneira satisfatória”, fala Marcelo Danielli, diretor da Iveco Cofipe, indicando que a nova tecnologia representa economia de combustível, que é o principal custo do transporte rodoviário de cargas.
Para Danielli, embora tenha sido um grande desafio para os transportadores, principalmente com relação ao preço, a transição também impulsionou oportunidades que se consolidará no longo prazo para o setor. “A tendência é vermos mais caminhões ultrapassando 1 milhão de quilômetros sem nunca ter aberto o motor para manutenção”, indica o diretor.
“As novas normas ambientais incentivaram a renovação de frotas, com caminhões que atendam aos novos padrões, proporcionando menores custos operacionais e contribuindo para a sustentabilidade. Isso reaqueceu o mercado, trazendo um equilíbrio gradual nas vendas após o período inicial de ajuste”, diz Catto em complemento à posição de Danielli.
Outro levantamento, dessa vez, feito pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), divulgado no mês de outubro, mostra que 10 dos 90 setores industriais pesquisados, registram crescimento na casa de dois dígitos de janeiro a agosto, sempre em relação ao mesmo período do ano passado. O avanço é liderado justamente pelo segmento de caminhões e ônibus, que avançou 50,5% no período.
Também a Fenatran, maior feira do setor de transporte rodoviário de cargas e logística da América Latina, reportou que teve em 2024, o melhor resultado da história com um volume de negócios gerados na casa de R$ 15 bilhões. Ou seja, 58% a mais que a edição de 2022.
Assim, as previsões indicam que qualquer retração no mercado de veículos pesados, causada pela implementação do Proconve 8 e Euro 6, ficaram para trás e a tendência é de otimismo com o crescimento.
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