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04 de Julho de 2018 – 13h54 horas / Agrolink

“Santa Catarina, com uma produção de referência e um status sanitário de excelência, tem se mostrado um Estado forte e resiliente, sobretudo em momentos de crise. Manter a competitividade do nosso setor produtivo passa, essencialmente, por melhorias de logística e de infraestrutura. Do contrário, corremos o risco de a nossa agroindústria migrar para outros Estados”, salienta o governador Eduardo Pinho Moreira.

 

Segundo a Secretaria de Estado da Agricultura e Pesca, todos os anos, quatro milhões de toneladas do grão saem do Mato Grosso, Goiás e Mato Grosso do Sul, com destino a Santa Catarina. A nova rota traz boas expectativas para o agronegócio catarinense e desponta como uma alternativa mais barata e viável.

 

Um desafio a ser vencido
Investir na logística para o transporte do milho é fundamental para manter a competitividade do agronegócio catarinense. Ao longo dos anos – resultado de fortes investimentos em sanidade, produtividade e manejo – o setor se consolidou como um gigante que produz e exporta, especialmente a carne, para os mais importantes mercados mundiais. A necessidade de milho, no entanto, tem imposto um desafio caro para a indústria, e aponta para alternativas como aumentar a produção do milho no Estado; investir no aumento da capacidade de armazenagem; usar outros grãos para completar a alimentação dos animais, como trigo e cevada.

 

Santa Catarina produz em média três milhões de toneladas de milho por ano e utiliza sete milhões na alimentação de suínos e aves – o consumo diário passa de 19 mil toneladas. “Temos um déficit que ultrapassa 55% da demanda, que tem sido suprida com milho que vem de longe. Temos buscado no norte do Mato Grosso, com distâncias que chegam a dois mil quilômetros e o transporte é feito via caminhões”, ressalta o secretário da Agricultura e da Pesca, Airton Spies. Outro agravante, conforme o secretário Spies, é que o milho que chegava ao Estado a um preço relativamente competitivo, encontrou outros destinos: a exportação e a fabricação de etanol.

 

“Ou viabilizamos a oferta de milho para Santa Catarina ou o Estado irá perder a competitividade”, afirma o diretor de relações institucionais da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA,) Ariel Mendes. Para dar continuidade ao modelo do agronegócio catarinense, a ABPA criou um grupo técnico que estuda a questão do milho e da logística catarinense.

 

“Partimos da avaliação de que se não for resolvido o problema do milho, Santa Catarina vai perder competitividade. Aqui estão as melhores plantas, que exportam para o mundo. Este é um patrimônio que temos que preservar”, destaca.

 

A nova rota
Pelo novo trajeto, os caminhões carregados com milho partem do Porto 7 de Agosto, em Carlos Antonio López, no Paraguai, seguem em balsa pelo rio Paraná, chegando até o Porto Piray, na Argentina, e entram no Brasil pela aduana de Dionísio Cerqueira, no Extremo-Oeste de Santa Catarina. A Rota do Milho é resultado de intensas negociações protagonizadas pelo Governo do Estado, via Secretaria do Planejamento.

 

“Queremos provar que é possível o caminhão sair e chegar ao destino no mesmo dia”, diz Flávio Berté, sub-coordenador do Núcleo Estadual de Faixa de Fronteira, que coordenou as ações para a implantação da rota em conjunto com os governos paraguaio e argentino, Bloco Regional de Intendentes, prefeitos, alcaldes e empresários do Mercosul (Bripaem) e com o Fórum de Competitividade e Desenvolvimento para a Região Oeste.

 

Para a agroindústria catarinense, a Rota do Milho passa a ser uma das melhores alternativas para suprir a demanda do grão. Entidades ligadas ao setor garantem que, a partir de uma maior aproximação entre os países do Mercosul, poderão surgir novas possibilidades de negócios e parcerias.

 

"A Rota do Milho integra os países do Mercosul de forma mais direta, com mais inteligência e redução de custos. Hoje é melhor comprar milho no Paraguai do que no Mato Grosso, por exemplo. As cooperativas afiliadas à Fecoagro já são parceiras do Paraguai na compra de trigo, milho e farelo de soja. Além disso, abre uma via para exportação de produtos catarinenses, principalmente frutas e carnes", aponta Claudio Post, presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias de Santa Catarina (Fecoagro).

 

Para o diretor executivo do Sindicarne-SC, Ricardo Gouvêa, a Rota do Milho traz uma nova opção de fornecedor, economicamente mais atrativa para o setor. "O agronegócio catarinense depende de milho que hoje está vindo do Centro-Oeste, a uma distância de quase 2 mil quilômetros. Com a rota do milho, poderemos buscar esse milho mais perto e com uma redução de custos devido ao preço do frete."

 

Hoje, as agroindústrias catarinenses já trazem um milhão de toneladas de milho do Paraguai via Foz do Iguaçu e boa parte dessa quantidade pode começar a entrar no Estado por Dionísio Cerqueira. Gouvêa fala ainda sobre a possibilidade de ampliar as compras do país vizinho e diminuir a importação de milho do Centro-Oeste. "Se nós percebermos que é viável e tivermos um fluxo mais constante de milho entrando via Dionísio Cerqueira, poderemos aumentar a quantidade do grão importada do Paraguai", avalia.

 

“A Rota do Milho dará fôlego para o agronegócio catarinense, que hoje sofre com sérios problemas de logística para conseguir matéria-prima para as suas cadeias produtivas. Ela, literalmente, abrirá caminho para o desenvolvimento”, afirmou o secretário de Estado do Planejamento, Francisco Cardoso de Camargo Filho.

 

Aduana de Dionísio Cerqueira
A porta de entrada em Santa Catarina dos grãos que sairão do Paraguai será a aduana de Dionísio Cerqueira. Paralelo à consolidação da Rota do Milho, continua a mobilização para melhorias da estrutura na fronteira com a Argentina, no Extremo-Oeste catarinense.

 

A estrutura da unidade da Receita Federal do Brasil em Dionísio Cerqueira conta atualmente com Área de Controle Integrado (ACI) Cargas; ponto de fronteira alfandegado para atender ao fluxo de turistas e comércio de fronteira; prédio sede da alfândega e três unidades jurisdicionais. Um movimento que une autoridades e a sociedade civil organizada está buscando melhorias na estrutura para ampliar a capacidade e o fluxo da aduana.

 

Atualmente, segundo informações do movimento “A Aduana é Nossa”, em Dionísio Cerqueira, os caminhões estariam migrando para estruturas do Rio Grande do Sul e do Paraná, onde o tempo para a liberação das cargas tem sido menor. Para garantir movimentação financeira, com aumento significativo na geração de renda e desenvolvimento para a região e para o Estado, o município calcula que seria necessária uma estrutura que comportasse, no mínimo, cinco mil caminhões por mês.

 

A unidade de Dionísio Cerqueira (considerando as unidades jurisdicionadas) dispõe de 10 auditores fiscais da Receita, 19 analistas tributários da Receita e seis servidores administrativos.

 

A ACI Cargas conta com 137 vagas para caminhões e oito vagas para conferência física de mercadorias. Por ser uma área de controle integrado, o local abriga representantes de órgãos brasileiros (Receita Federal do Brasil, Anvisa, Mapa, Cidasc) e argentinos (AFIP, Senada Gendarmeria Nacional, Migraciones). Em 2017, o movimento médio de veículos na ACI-Cargas foi de 1,1 mil/mês.


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