A inflação oficial do país, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), desacelerou de junho para julho, passando de 0,4% para 0,01%, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esta é a menor taxa desde junho de 2010, quando ficou em zero. No mês seguinte daquele ano, o IPCA também registrou 0,01%.
Depois de estourar o teto da meta do governo no acumulado em 12 meses em junho – quando ficou em 6,52% –, o IPCA recuou para 6,5% na mesma comparação em julho. Esta taxa é exatamente o teto da meta da inflação do Banco Central. No ano, até julho, o IPCA está em 3,76%.
“Foi uma forte desaceleração em relação à alta de 0,40% no mês de junho. Isso se deve praticamente, a vários grupos que caíram [variações], mas a maior desaceleração ficou com as despesas pessoais e com os transportes, porque nesses dois grupos temos itens que caíram bastante, que são de retorno da Copa do Mundo, que haviam apresentado altas variações no mês de junho”, explicou Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de índice de Preços do IBGE.
Com o fim da Copa, as passagens aéreas e as tarifas de hotéis ficaram mais baratas. Depois de subirem 21,95% em junho, os preços das viagens caíram 26,86%, exercendo o principal impacto individual sobre o índice. No caso dos hoteis, as tarifas caíram 7,65%, após uma expressiva alta de 25,33% no mês anterior. Por outro lado, a energia elétrica residencial ficou mais cara de junho para julho, de 0,13% para 4,52%.
“As passagens aéreas subiram muito [em junho] por causa da Copa do Mundo e recuaram em julho. E nas despesas pessoais, foram os hotéis, que recuaram também. Na análise dos preços das passagens aéreas por região, o Rio de Janeiro se destacou com a maior queda: 38,47%. Em junho, a variação foi de 33,53%", disse.
Nos hotéis, no entanto, o Rio de Janeiro registrou variação de 3,45%, o que segurou a redução do IPCA sobre esse item, segundo Eulina. Em junho, o índice era de 43,52%. “O Rio baixou para 3,45%, mas continuou subindo. O Rio segurou à beça. Então, os preços continuam sendo sustentados pelos níveis altos da Copa”, completou.
Analisando os grupos de despesas que integram o cálculo do IPCA, o de transportes, que mostrou queda de junho para julho (de 0,37% para -0,98%), ficaram mais baratos itens como etanol (-1,55%), pneu (-1,01%), gasolina (-0,80%), automóvel novo (-0,29%), motocicleta (-0,14%) e automóvel usado (-0,09%).
No de despesas pessoais, onde estão incluídos os preços de hotéis, a variação também foi menor de um mês para o outro (de 1,57% para 0,12%), com influência da queda do custo de serviços de cabeleireiro e dos relativos a empregados domésticos.
Já no grupo de alimentação e bebidas, a queda ficou ainda maior, de 0,11% para 0,15% – resultado puxado pelos alimentos consumidos em casa. Na contramão, o consumidor pagou mais pelo leite (2,16%) e derivados como queijo (1,82%), leite em pó (0,87%) e iogurte (0,52%).
“Os alimentos também caíram nesse período. Foi umas das causas do 0,03% em julho do ano passado. A previsão é que a safra seja 2,4% maior do que ano passado, são 192 milhões de toneladas de grãos. E junto com isso, a oferta de alimentos no mundo vem aumentando. Os Estados Unidos têm anunciado produção grande, inclusive, o índice de inflação de alimentos no mundo também caiu pelo quarto mês consecutivo”, disse Eulina dos Santos, do IBGE.
Com a chegada das liquidações às lojas do país, que fizeram os preços das roupas caírem 0,72%, o índice do grupo vestuário passou de uma alta de 0,49% para uma queda de 0,24% em julho.
"O comércio considerou que as vendas foram fracas principalmente por causa da Copa, e se diz já que as promoções começaram mais cedo do que começariam. Mal os artigos de inverno entraram no mercado, e já começou a se promover preços mais baixos”, considerou a coordenadora.
No caso do grupo relativo à comunicação, o recuo se acentuou de junho para julho, passando de -0,02% para -0,79%. Isso porque as contas de telefone fixo ficaram 8,52% mais baratas.
No grupo saúde e cuidados pessoais, os preços subiram menos, de 0,60% para 0,50% e, em educação, passou de 0,02% para 0,04% – praticamente uma estabilidade.
Ficou mais caro
Se a maioria dos grupos mostrou desaceleração dos preços, os de habitação e de artigos de residência tomaram caminho oposto, com variações passando de 0,55% para 1,20% e de 0,38% para 0,86%, respectivamente.
No primeiro caso, houve forte impacto dos preços de energia, o líder entre os impactos positivos do IPCA. Segundo o IBGE, esse comportamento é reflexo do aumento das tarifas em Curitiba, São Paulo, Recife e Porto Alegre. Dentro desse grupo, também subiram os preços de despesas com condomínio (0,95%) e aluguel (0,92%).
“Houve aumento de eletrodomésticos no período da Copa, houve a procura por geladeiras. Ouvi até falando de aumento da venda de fogão. E nos artigos de limpeza, todos os itens aumentaram”, afirmou Eulina.
Impactos futuros
Segundo Eulina, aumentos previstos para agosto podem impactar no IPCA, como o reajuste de 18% na energia elétrica em São Paulo. “São Paulo tem peso grande. Em Belém, houve reajuste de 34,41% a partir do dia 7 de agosto. Já em Vitória, o reajuste foi de 22,74% na energia elétrica e a partir de 7 de agosto."
No Rio de Janeiro, nas principais rodovias, houve aumento de 5% nos pedágios a partir do dia 1°. Em outras vias, o reajuste se dará a partir do dia 11. Também houve aumento de 6,75% no água e esgoto na capital fluminense. O reajuste de 7,30% em Fortaleza, a partir do dia 6 de julho, também pode impactar a inflação.
INPC
Enquanto o IPCA é referência para as famílias com rendimento até 40 salários mínimos, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) mede a inflação para as famílias que ganham até cinco salários mínimos. Este índice ficou em 0,13% em julho, depois de atingir 0,26% no mês anterior.
No ano, a taxa está em 3,92% e, em 12 meses, de 6,33%. Em junho de 2013 o INPC havia sido -0,13%. Os produtos alimentícios caíram 0,23% em julho, e os não alimentícios, registraram alta de 0,29%.
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